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O Leão Dorme Esta Noite (filme)
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O Leão Dorme Esta Noite

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

O cinema de improviso de Nobuhiro Suwa encontra a metalinguagem para abordar a infância e a velhice em O Leão Dorme Esta Noite.

A história se passa numa cidade da Cote d’Azur, sul da França. Na primeira sequência do filme, acompanhamos Jean, um ator já idoso, pronto para rodar sua cena do dia. Porém, tal como acontece em A Noite Americana (1973), a atriz que contracenaria com ele está indisposta por uma decepção amorosa e se recusa a trabalhar. De cara, a metalinguagem é forte, pois o ator Jean-Pierre Léaud, que interpreta Jean, era um dos protagonistas desse filme de François Truffaut.

Então, ele aproveita o tempo livre para visitar Juliette, o amor da sua vida que mora na cidade. O detalhe inusitado é que ela morreu em 1972, com apenas 23 anos. Para isso, Jean invade a hoje abandonada casa onde ela vivia e conversa com o fantasma dela. Os dois apaixonados discutem os motivos da separação, e paira um mistério, pois não se sabe se Juliette morreu por acidente ou se suicidou.

Mas, o filme não fica restrito a esse tema da velhice que busca respostas no passado. Afinal, entram as animadas crianças que querem fazer um filme nessa casa abandonada. Com isso, O Leão Dorme Esta Noite abre uma nova via de metalinguagem. Primeiro, incomodam Jean, que decide passar uns dias na casa, e se assustam com ele. Porém, logo depois se conhecem e Jean aceita trabalhar nesse filme das crianças. No entanto, ele exige que eles escrevam um roteiro.

Dessa forma, acompanhamos em paralelo os encontros entre Jean e Juliette, e as filmagens do filme das crianças. Aliás, cujo tema será, apropriadamente, sobre fantasmas.

Espontaneidade

O que salta aos olhos em O Leão Dorme Esta Noite é a espontaneidade com que os atores trabalham. De fato, esta é uma característica do diretor japonês Nobuhiro Suwa. Conhecido por Um Casal Perfeito (2005) e Yuki & Nina (2009), entre outros, aqui ele realiza seu sétimo longa ficcional. Tal qual o roteiro das crianças no filme, Nobuhiro Suwa não escreve os diálogos, pois prefere deixar que os atores os criem. Vemos isso espelhado nessa história, quando a criançada conversa livremente, frequentemente sobrepondo as falas um do outro.

Sobre esse processo, Nobuhiro Suwa afirma, em entrevista para o Festival Internacional de Marseille:

“Eu não escrevo diálogos, e uma vez no set, eu não dou instruções minuciosas aos atores, devido a essa relação de confiança com eles. A cena nasce naturalmente, do trabalho dos atores como um conjunto.”

– Nobuhiro Suwa

De fato, os únicos diálogos escritos são de uma peça teatral de autoria Pierre Léaud, pai de Jean-Pierre Léaud, nas conversas entre Jean e Juliette.

Para contribuir para essa espontaneidade nas interpretações, a maioria dos nomes dos personagens correspondem ao primeiro nome dos atores que os interpretam. Aliás, além dos atores infantis, e do monstro do cinema francês, Jean-Pierre Léaud, o filme conta com Pauline Etienne no papel da amada de Jean. Por aqui, a atriz é lembrada por 2 Outonos 3 Invernos (2013) e Fluentes no Amor (2018).

Trabalhando na França

O uso de atores e locações franceses pelo diretor japonês é frequente em sua carreira. Em parte, isso se deve às melhores condições que o país europeu oferece para produções autorais como a sua. Além disso, ele explica na mesma entrevista para o Festival Internacional de Marselle:

“Quando eu era jovem, assisti a muitos filmes franceses, em particular os da Nouvelle Vague, e tenho a sensação de que a França é um dos lugares de onde meus filmes se originam. Ainda hoje, sou muito estimulado pelo trabalho das gerações mais jovens da França.”

– Nobuhiro Suwa
O Rei Leão

A história ainda abre a oportunidade para se concentrar em Jules, um dos meninos do grupo. Ele está perturbado porque sua mãe o levará para viajar de férias com o namorado dela. Para ele, em sua perspectiva infantil, é um evento que o deixa tremendamente apreensivo. No filme, esse medo se materializa na forma de um leão.

Como você provavelmente desconfiou, o título do filme se refere à canção “The Lion Sleeps Tonight”, do musical O Rei Leão, que as crianças e Jean cantam. Com ela, podemos entender que o menino Jules, enquanto está fazendo o filme da turma, se esquece do seu problema. Durante a magia das filmagens, o leão/a sua preocupação, está dormindo.

Por fim, em uma cena na parte final, Jean-Pierre Léaud fala diretamente para a câmera, diante de um lago. Imediatamente, nos lembramos dele, ainda criança, chegando ao mar e se voltando para as lentes, em Os Incompreendidos (1959). Apesar de ele já ter atuado em dois outros filmes depois de O Leão Dorme Esta Noite, fica a impressão de que ele fecha o ciclo de sua carreira.

“Muito simples e muito bonito”, elogia o personagem Jean diante do filme realizado pelas crianças. Igualmente, podemos parafrasear o ator para comentar sobre O Leão Dorme Esta Noite – uma homenagem ao cinema, espontânea como a infância e a velhice.


O Leão Dorme Esta Noite (filme)
O Leão Dorme Esta Noite (filme)
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