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O Leopardo (filme)
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O Leopardo

Avaliação:
10/10

10/10

Crítica | Ficha técnica

O Leopardo relata a unificação da Itália sob o ponto de vista do Príncipe de Salina, Don Fabrizio, a partir de 1860.

O filme dirigido por Luchino Visconti adapta as duas primeiras partes do livro homônimo de Giuseppe Tomasi di Lampedusa. Assim, deixa de fora o último trecho, que se passa após a morte de Don Fabrizio, interpretado por Burt Lancaster. O título se refere ao animal no brasão de Salina.

Revolução

Compartilhamos a visão de Don Frabrizio sobre esse período turbulento da história da Itália, quando Giuseppe Garibaldi liderava a revolução que faria nascer o país unificado como o conhecemos hoje. Acompanhamos no filme a leitura que esse aristocrata faz daquela situação. Em resumo, ele entende que, apesar de ser uma revolução contra a aristocracia, o resultado se resumirá a troca de pessoas no poder, mas a estrutura social se manterá a mesma. De fato, é o que acompanhamos nessa história.

Alguns comportamentos, definitivamente, mudarão. A aristocracia deixará sua posição isolada em uma redoma lá no topo. Don Fabrizio verá seu sobrinho Tancredi Falconeri (Alain Delon) lutar ao lado dos revolucionários e não se oporá. Essa é uma posição acertada, pois lhe dará o privilégio de se manter na aristocracia após a vitória de Garibaldi. Além disso, Don Fabrizio se adapta às transformações sociais. Tancredi se casa com Angelica Sedara (Claudia Cardinale), uma jovem que não pertence à nobreza, mas que é filha de um homem muito rico. Essa união quebra, inclusive, com a tradição de casamento entre primos, e Don Fabrizio compreende que sua filha mais velha perderá a chance de se casar com o primo dela, Tancredi.

Debates de ideias

O Leopardo traz vários debates de ideias. Don Fabricio discute com o padre da família seus questionamentos em relação às tradições católicas. Suas posições únicas em relação ao ambiente de mudanças sociais o distinguem do restante da aristocracia, que se desespera com o crescimento do movimento unificador de Garibaldi. E, cético, pergunta ao sobrinho, após a vitória dos revolucionários, por que ele agora veste um uniforme militar azul se antes a tropa de Garibaldi vestia vermelho. Como o Príncipe de Salinas já sabia, as pessoas no poder são outras, mas a estrutura continua a mesma.

O diretor Luchino Visconti capricha no visual desta produção de época, mas o destaque maior surge de seu talento em criar cenas que incitam o pensamento conectivo do espectador. Logo no início, a família de Don Fabrizio se encontra dentro de sua ostentosa mansão orando em grupo. Porém, gritos vindos de fora atrapalham a reza e acabam por interromper o rito. Essa cena representa como a revolução se aproxima, trazida do continente até a Sicília, onde eles residem. Por mais que se esforcem, Don Fabrizio e sua família não passarão incólumes a essa transformação política e social.

Após a vitória dos revolucionários, a família do Leopardo consegue viajar pelas terras italianas graças à habilidade social de Don Fabrizio de não ser um inimigo deles. Porém, quando chegam à cidade onde passam o verão, na igreja, os membros de sua família estão cobertos de pó por causa da jornada. É uma imagem metafórica de que eles agora representam um passado que perdeu seu lugar.

A grande festa

A parte final de O Leopardo se passa inteiramente numa grande festa, onde o drama atinge seu clímax. A trilha sonora de Nino Rota, composta basicamente de valsas, com seus versos repetitivos e fortemente melódicos, ajuda a transmitir a sensação de sufocamento que Don Fabrizio sofre durante o evento. O príncipe se sente cansado e envelhecido, olha sua imagem no espelho e fita um quadro de um senhor moribundo na cama, rodeado pela família. Ele sabe que chegou ao fim da vida, e enxerga tudo de forma ainda mais clara. Por exemplo, despreza com agressividade a ideia do casamento entre primos, tradição aristocrática que tornava as famílias cada vez mais feias, segundo ele.

Na festa, Don Fabrizio discorda e se recusa a permanecer na mesa do coronel, apesar de que seus amigos nobres enaltecem o exército. Afinal, ele se sente ultrapassado. O pai de Angelica, apesar de totalmente desprovido da classe e elegância da nobreza, se torna cada vez mais poderoso devido ao dinheiro que possui. A ponto de até conseguir colocar seu genro Trancredi em um destacado cargo político.

Os chacais e as hienas

Diante desse cenário, ele completa o raciocínio que iniciou com a crença de que a revolução resulta apenas na troca de pessoas no poder. Don Fabrizio conclui: “Fomos os leões e os leopardos, agora são os chacais e as hienas.” Com isso, ele afirma que os nobres possuíam seu código de ética, se alimentavam com o fruto de seu esforço, mas os ricos não, se aproveitam dos restos.

Tecnicamente, a direção de Luchino Visconti se destaca também. O cineasta se faz valer da profundidade de campo, que consegue dar a ideia da imensidão das mansões da aristocracia. Além disso, utiliza o extracampo, colocando personagens conversando com pessoas que estão fora do plano, muitas vezes para ilustrar os conchavos feitos entre os poderosos.

Por fim, não espere do filme emoções fáceis, nem no romance nem nas cenas de ação. Entretenha-se com o drama que incita à reflexão. O Leopardo coloca as características de um grande filme de época, magistralmente dirigido e atuado, em uma inteligente narrativa. De fato, nunca foi tão prazeroso aprender História.

 

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Ficha técnica:

O Leopardo (Il Gattopardo, 1963) Itália/França. 186 min. Dir: Luchino Visconti. Rot: Suso Cecchi D’Amico & Pasquale Festa Campanile e Enrico Medioli & Massimo Franciosa e Luchino Visconti. Elenco: Burt Lancaster, Claudia Cardinale, Alain Delon, Paolo Stoppa, Rina Morelli, Romo Valli, Terence Hill, Pierre Clémenti, Lucilla Morlacchi, Giuliano Gemma, Evelyn Stewart, Ottavio Piccolo.

O Leopardo foi lançado em dvd pela Versátil Home Video.

Onde assistir:
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