Mais um filme emerge do clássico slasher de Tobe Hooper, realizado há quase cinquenta anos. O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface (Texas Chainsaw Massacre, 2022) já é o oitavo longa com o assassino com a máscara feita de pele humana. Novamente, é uma sequência direta do original, e ignora os demais derivados do filme de 1974.
Desta vez, havia motivos para alimentarmos boas expectativas. Afinal, como coprodutores e cocriadores da história, encontramos os uruguaios Fede Alvarez e Rodo Sayagues. A dupla é responsável por O Homem nas Trevas (Don’t Breathe, 2016) e O Homem nas Trevas 2 (Don’t Breathe 2, 2021), dois exemplares de suspense de qualidade. Além disso, eles possuem experiência em lidar com clássicos do terror, pois refilmaram A Morte do Demônio (Evil Dead), em 2013. Porém, Alvarez e Sayagues escreveram a história, mas deixaram o desenvolvimento do roteiro a cargo do estreante Chris Thomas Devlin, cuja experiência anterior se restringe a pequenas funções em curtas. E o roteiro é o celeiro dos maiores defeitos de O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface.
Direção
Quanto à direção, David Blue Garcia realiza um trabalho competente e, além disso, com algumas mostras de talento. É a segunda vez na função (seu filme anterior é o suspense Tejano, de 2018), mas ele relevante experiência como diretor de fotografia. Por isso, aqui ele leva para as telas imagens icônicas do Leatherface, seja se erguendo no meio de um campo de girassóis mortos, ou levantando a serra elétrica ameaçadoramente. Aliás, vale menção honrosa o golpe fatal no embate final com uma das protagonistas.
De fato, no quesito imagem, o filme entrega o que o público espera. Antes de tudo, O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chain Saw Massacre, 1974), de Tobe Hooper, já faz parte da cultura pop. Por isso, após o prólogo em tom de noticiário para informar a quem não conhece o original, vemos uma das protagonistas em uma loja que vende camisetas sobre o massacre no Texas. Um toque sádico, afinal, no filme o crime realmente ocorreu.
E é esse sadismo que o longa procura satisfazer no público. Assim, brinda-o com toneladas de gore, trazendo a violência mais grotesca possível. Em outras palavras, prepare-se para ver ossos quebrados, mandíbula dilacerada, corpos e membros cortados com a famosa serra etc. Aliás, este deve ser o filme com maior bodycount (número de mortos) da franquia, pois o Leatherface entra num ônibus cheio de gente com sua serra elétrica faminta por sangue. Curiosamente, desta vez a história não explora o seu canibalismo.
Trama e roteiro
Em resumo, a trama criada por Alvarez e Syagues é instigante. Um grupo de jovens empreendedores investe na cidade fantasma de Harlow, no Texas. Mas, acabam tirando do conforto o domesticado Leatherface, adotado por uma senhora idosa, e ele começa a empilhar vítimas. Então, Sally, a única sobrevivente do massacre de 1973, também ressurge para se vingar pela morte de seus amigos.
No entanto, esse argumento virou um roteiro repleto de inconsistências, que enervam qualquer espectador, até mesmo aqueles sádicos que só querem ver as matanças. Inadvertidamente, o filme até incentiva esse sadismo, ao colocar personagens irritantes que o público até torce para que sejam logo eliminados. E a lista vai desde a azeda e sempre irritada protagonista Mel (Sarah Yarkin) até o clichê do texano niilista que surge em cena armado e num carrão 4×4 ouvindo death metal. A única personagem que se salva é Lila (Elsie Fisher), caçula de Mel, e que se penaliza por ser a única sobrevivente a um massacre em sua escola.
Inconsistências
Voltando às inconsistências do roteiro, vamos a apenas algumas delas:
- Leatherface usa sua inteligência (?) para arremessar a cabeça do texano contra um vidro;
- Lila não ouve a ensurdecedora motosserra de Leatherface enquanto procura sua irmã;
- Mel ataca Leatherface com um mísero saca-rolha e ele recolhe o braço de dor, mas, em cena posterior, ela enfia uma faca em sua barriga e ele nem se abala;
- O motorista do ônibus sai de repente do veículo sem motivo aparente;
- Leatherface agarra Lila para os dois caírem num tanque de água e brigarem, quando ele poderia simplesmente matá-la com uma pancada.
Num filme, é normal vermos detalhes incoerentes e absurdos, ainda mais num terror despretensioso como este. Porém, aqui eles soam como desleixo, ou talvez incompetência, por parte do roteirista Chris Thomas Devlin. Com isso, desperdiça o trabalho de Fede Alvarez, Rodo Sayagues e David Blue Garcia. Pelo menos, é o que parece, mas que os futuros trabalhos de cada um dos quatro poderão desmentir. Talvez, até numa sequência deste filme, pois a cena pós-créditos (atenção: após todos os créditos!) mostra Leatherface retornando para seu antigo lar.
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Ficha técnica:
O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface | Texas Chainsaw Massacre | 2022 | Estados Unidos | 83 min | Direção: David Blue Garcia | Roteiro: Chris Thomas Devlin | Elenco: Sarah Yarkin, Elsie Fisher, Mark Burnham, Moe Dunford, Nell Hudson, Jessica Allain, Olwen Fouéré, Jacob Latimore, Alice Krige, William Hope, Jolyon Coy, Sam Douglas, John Larroquette (voz).
Distribuição: Netflix.