Pesquisar
Close this search box.
Poster de "O Menino e a Garça"
[seo_header]
[seo_footer]

O Menino e a Garça

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

Em O Menino e a Garça, Hayao Miyazaki volta a libertar a sua criatividade, que parecia acanhada no seu longa anterior, Vidas ao Vento (2013), provavelmente porque era uma biografia. Assim, os fãs de seu cinema podem comemorar o retorno daquelas ideias viajantes pelo fantástico que costumam marcar a obra do cineasta japonês que é um dos fundadores do Studio Ghibli.

Repete-se neste novo filme a presença da Segunda Guerra Mundial como pano de fundo do enredo. Logo na abertura, o menino Mahito perde a sua mãe num incêndio em Tóquio, no terceiro ano da guerra. No ano seguinte, ele e seu pai se mudam para a propriedade da família da mãe no interior. O pai se casou com Natsuko, a irmã da esposa falecida, que está grávida.  Lá, uma invocada garça falante atrai Mahito para uma misteriosa torre que estava lacrada. O local, construído pelo tio-avô de Mahito, serve de portal para mundos fantásticos que os dois explorarão em busca de Natsuko, que desapareceu.

Imaginação solta

O filme está repleto de situações e criaturas que refletem a infinita capacidade imaginativa de Miyazaki. E fura os limites que as produções ocidentais se autoimpõem por receio de desagradar o público e perder bilheteria. Assim, temos aqui a garça que, quando começa a falar, revela que tem dentes por baixo do seu bico. Não só isso, há olhos, nariz, boca, enfim, praticamente outro ser dentro da aparência natural do pássaro que todos conhecem. Executivos da Disney talvez vetassem essas imagens por serem assustadoras. Além disso, em certo momento, vários sapos sobem em Mahito e o cobrem por completo, e periquitos antropomórficos tentarão comê-lo. Pequenos seres brancos, os warawaras, vale dizer, remetem a criações anteriores de Miyazaki, principalmente Meu Amigo Totoro (1988), uma de suas obras-primas.

Alucinações do protagonista com sua mãe no incêndio garantem os momentos mais dramáticos, acompanhados da trilha musical do compositor Joe Hisaishi, na qual linhas melodiosas de piano tomam a frente. Enfim, tudo isso deixa evidente que o apelo da animação de Miyazaki não é tão infantil quanto o de estúdios hollywoodianos. A constatação ganha força quando investigamos os temas por trás dessa inventividade.

Interpretações

Por um lado, a jornada de Mahito pode ser interpretada como o processo para a aceitação de sua madrasta. Uma das etapas, inclusive, é o luto, que atormenta o protagonista através das provocações da garça e dos sonhos. A resolução do filme afirma essa passagem, selada com o retorno da nova família para a Tóquio do pós-guerra.

Sob outro prisma, O Menino e a Garça representa um apelo pacifista. A trama, sintomaticamente, se passa durante a guerra. Um dos vilões, ainda por cima, tem o apelido de “Duque”, e retrata os ditadores fascistas, que lideram os seus minions que clamam para que eles os liderem, como pedem os periquitos no filme. Nesse ponto, se vislumbra um mea-culpa dos japoneses, cujo nacionalismo da época os levou a apoiarem o Imperador que se alinhou à Alemanha de Hitler e à Itália de Mussolini. Por esse motivo, o tio-avô de Mahito apela para que ele (simbolizando a nova geração) construa um mundo pacífico e com menos maldade – o que o Japão conseguiu ser, de fato.

Um detalhe talvez indique que Miyazaki não queira mais uma viagem tão solta como costumava fazer. Embora não fique tão restrito quanto em Vidas ao Vento, em O Menino e a Garça ele deixa um rastro de racionalidade para quem o necessita. O protagonista, afinal, entra nesse mundo fantástico após se ferir na cabeça com uma pedra. E, todo o restante pode ser consequência disso, inclusive o desaparecimento de Natsuko (infeliz por não se conectar com o filho anterior do marido) e de Mahito (que vai procurá-la na mata). Mas, isso é para quem precisa desse rastro – para os demais, basta embarcar nessa nova viagem de Miyazaki.  

___________________________________________

Ficha técnica:

O Menino e a Garça | Kimitachi wa do ikiru ka | 2023 | 124 min | Japão | Direção: Hayao Miyazaki | Roteiro: Hayao Miyazaki | Vozes de: Soma Santoki, Masaki Suda, Ko Shibasaki, Aimyon, Yoshino Kimura, Takuya Kimura, Kaoru Kobayashi e Shinobu Otake.

Distribuição: Sato Company.

Assista ao trailer aqui.

Onde assistir:
Um menino ao lado de um ser fantástico.
Cena de "O Menino e a Garça"
Compartilhe esse texto:

Críticas novas:

Rolar para o topo