O espectador que entra na sala de cinema para assistir a O Menu (The Menu) esperando ver mais um filme sobre culinária se sentirá tão surpreendido quanto os clientes do exclusivo restaurante do Chef Slowik (Ralph Fiennes). Eles se deslocam num barco até a ilha onde fica o estabelecimento, ansiosos pela promessa de uma experiência singular de degustação. Para alguns deles, não será a primeira vez; mas para todos será a última.
Dentro da filmografia de Mark Mylod, mais assíduo como diretor de séries, esse seu quarto longa se aproxima mais de seu Quem é Morto Sempre Aparece (The Big White, 2005), comédia de humor ácido estrelada por Robin Williams. O Menu começa com o olhar cínico da protagonista Margot (Anya Taylor-Joy), escort girl convidada pelo gourmet Tyler (Nicholas Hoult) para acompanhá-lo nessa experiência, como substituta de sua (provável) namorada. Por isso, Margot é a única cliente não incluída no premeditado plano de retaliação do Chef Slowik. A primeira parte do filme se concentra nas observações de Margot sobre esse ambiente que ela vai conhecendo e achando não fazer nenhum sentido. Até então, o tom é leve, e acompanha a animação dos visitantes.
Durante o jantar, servido em várias etapas, as situações ficam cada vez mais absurdas, até o filme assumir um tom sombrio, com cenas violentas dignas do gênero terror. O chef explica, ao longo da trama, as motivações para a escolha de suas vítimas, que vão desde fatos racionais (em relação ao time do investidor que assumiu o controle do restaurante) até implicâncias frívolas (ele não gostou do filme do ator). Mas a presença não programada de Margot acaba sendo um fator de desequilíbrio no planejamento desse vilão que se perdeu em sua obsessão em ser perfeito.
Da entrada à sobremesa
O Menu prende a atenção do público até um pouco mais de sua metade, enquanto descobrimos o que está por vir. Porém, a partir da revelação de que todos correm perigo real, como o enredo precisa apresentar os motivos que justificam a presença de cada uma das vítimas, o interesse cai vertiginosamente. Há momentos bem entediantes, quando a narrativa parece estacionada. Por fim, o interesse pela história retorna quando a trama descola ainda mais Margot do restante do grupo, e torcemos pela sua salvação.
Em relação ao seu tema, O Menu diretamente serve como crítica ao exagero que beira a insensatez da gastronomia gourmet. O Chef Slowik, exacerbando sua maestria, tenta distanciar suas criações da função primordial das refeições, que é a de alimentar. Por exemplo, retira o pão das entradas. Mas, é claro que o filme admite expandir a interpretação para outros temas. Por exemplo, o do esnobismo das elites, que pretende alijar aqueles que não pertencem à mesma classe. A atitude de Tyler em relação a Margot indica esse posicionamento, bem como o do chef. Por isso, a protagonista consegue desmontar o vilão ao pedir um hambúrguer, levando-o a reviver a fase mais difícil de sua vida. Usando sua esperteza, Margot pode apreciar de longe a explosão dessa elite exclusivista.
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Ficha técnica:
O Menu | The Menu | 2022 | 107 min | EUA | Direção: Mark Mylod | Roteiro: Seth Reiss, Will Tracy | Elenco: Ralph Fiennes, Anya Taylor-Joy, Nicholas Hoult, Hong Chau, Janet McTeer, Paul Adelstein, John Leguizamo, Aimee Carrero, Judith Light, Christina Brucato.
Distribuição: Walt Disney Studios.