O Plano Perfeito (Inside Man, 2006), de Spike Lee, traz um assalto a banco que lembra muito a trama da posterior série La Casa de Papel (2017- ). Os ladrões pedem aos reféns, funcionários e clientes do banco, que vistam um macacão com capuz e uma máscara. Dessa forma, fica difícil distinguir quem são os bandidos e quem são os reféns. A gangue, que usa pseudônimos que são variantes do nome Steven, tem um líder, um genial planejador chamado Dalton Russell (Clive Owen). Este desafia a polícia, em especial o responsável pelo caso, o detetive Keith Frazier (Denzel Washington), que tenta decifrar o audacioso golpe.
Um (nem tanto) filme de Spike Lee
O cineasta Spike Lee se destaca por suas produções pessoais, nos quais desfila suas fortes opiniões políticas, especialmente contra a discriminação racial. Por exemplo, em Faça a Coisa Certa (Do the Right Thing, 1989) e Febre da Selva (Jungle Fever, 1991). Mas, também trabalha como diretor contratado em filmes de gênero, como no recente Destacamento Blood (Das 5 Bloods, 2020). E, neste O Plano Perfeito. Mesmo nestes casos, existem referências políticas, mas estas não representam o tema principal.
O Plano Perfeito se classifica dentro do típico heist movie, subgênero do policial que acompanha um elaborado plano de roubo milionário. O filme abre com um flash forward da mente que bolou o roubo a um banco em Nova York. Apesar de seu ar vitorioso, ele está confinado em pequeno cubículo. Então, descobriremos como ele chegou a essa situação.
Desvio do clássico
A narrativa não segue apenas a ordem cronológica do assalto, mas traz inserções dos interrogatórios dos reféns que foram libertados. Afinal, alguns dos reféns com certeza fazem parte da gangue de assaltantes. Spike Lee ousa imprimir uma fotografia esquisita, mais apropriada para o terror. Além disso, o comportamento do detetive Keith Frazier é bizarro, às vezes ameaçador, às vezes sarcástico e engraçado. De fato, esses trechos soam tão esquisitos que parecem estar lá apenas para indicar que não estamos diante de um filme de assalto comum.
Aliás, o fim do assalto não conclui a história. De fato, paira no ar o mistério de nada, aparentemente, ter sido roubado do banco. Sem perdas materiais, nem suspeitos, o chefe de polícia quer enterrar o caso. Inclusive esse é o interesse do dono do banco, Arthur Case (Christopher Plummer). Então, a fim de conseguir seu intento, ele contrata a poderosa lobista Madeleine White (Jodie Foster). Ela é tão habilidosa que consegue até entrar no banco durante o assalto para negociar diretamente com o líder dos bandidos.
Spoilers adiante
A solução do mistério toca na parte política de O Plano Perfeito. Dalton Russell não planejou e executou o assalto para roubar o dinheiro e os bens que estavam aleatoriamente no banco. E sim, contratado pelo judeu, que aparece na conclusão, em busca de vingança por Arthur Case ter negociado com nazistas para adquirir os bens que eles tomaram das vítimas do holocausto. A amoralidade deste desfecho combina com a última cena, na qual Keith Frazier acaba beneficiado financeiramente por esse caso – e, antes, já vira uma questão em aberto em seu currículo policial ser magicamente resolvida após tanto tempo.
O Plano Perfeito é uma prova de que, mesmo num filme de entretenimento, Spike Lee coloca o dedo na ferida das instituições estadunidenses.
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Ficha técnica:
O Plano Perfeito | Inside Man | 2006 | EUA | 129 min | Direção: Spike Lee | Roteiro: Russell Gewirtz | Elenco: Denzel Washington, Clive Owen, Jodie Foster, Christopher Plummer, Willem Dafoe, Chiwetel Ejiofor, Carlos André Gómez, Kim Director, James Ransone, Bernie Rachelle.