O Poderoso Chefão apresenta o tradicional gênero dos filmes de gângsteres aos olhos da geração Nova Hollywood. É uma abordagem que se distancia dos estereótipos e do moralismo das produções dos anos 1930 e 1940.
A Guerra do Vietnã já se provara um atestado dos interesses escusos dos políticos dos EUA. Assim, o diretor Francis Ford Coppola utiliza esse sentimento de descrença para lançar em seu filme uma visão crítica do sonho americano. E, com cinismo, abre o longa com a frase “Eu acredito na América”, para logo depois revelar que o interlocutor encomenda um assassinato à máfia.
Num momento posterior, o diálogo entre a personagem Kay e o herdeiro da máfia, Michael Corleone, é ainda mais contundente nessa visão crítica:
Michael: Meu pai não é diferente de qualquer homem poderoso, qualquer homem com poder, como um presidente ou senador.
Kay Adams: Você parece muito ingênuo, Michael! Presidentes e senadores não matam pessoas.
Michael: Quem está sendo ingênuo, Kay?
A trama
Para enfatizar essa crítica, Coppola situa a história em 1945, em Nova York. Ou seja, quando o sonho americano estava em alta. Com esse sentimento, Michael, o filho mais novo de Don Vito Corleone, retorna como herói de guerra. E, se junta à família na grandiosa festa de casamento da sua irmã Connie. Ao mesmo tempo, em contraste, Don Corleone recebe seus apadrinhados em seu escritório no mesmo local. Dessa forma, descobrimos como a máfia utiliza a violência para conseguir o que deseja.
Então, esse modus operandi parte das palavras para a ação efetiva logo no segundo momento. Beirando o gênero terror, um produtor de cinema desperta em sua cama ensanguentada ao lado da cabeça decepada de seu cavalo premiado. É a retaliação de Corleone por o produtor não concordar em escalar seu protegido como protagonista de seu próximo filme.
A máfia
Os Corleones são uma das cinco famílias mafiosas que dominam os EUA. O tênue acordo de não agressão mútua entre essas forças vai-se rompendo com a introdução das drogas no mundo do crime. Algumas famílias concordam em entrar nesse ramo, outras não. Até que cheguem a uma conciliação, começam os ataques entre elas. Don Corleone é uma das primeiras vítimas. Baleado, ele fica internado por vários dias, e se aposenta da chefia.
Don Corleone enfrenta um problema em sua sucessão. Entre seus filhos, nenhum parece o ideal. Sonny é esquentado demais, o oposto de Fredo, que é um fracote. Enquanto isso, Michael não quer se envolver nos negócios da família. Resta o advogado e conselheiro Tom Hagen, mas ele é um filho adotado.
O filme demonstra que o poderoso chefão da família não tem tudo controlado. Além do impasse na sucessão, ele se encontra exposto a traidores, mesmo entre os mais confiáveis de sua organização, e até dentro de sua família de fato.
Michael Corleone
O Poderoso Chefão, magnificamente, constrói o processo de envolvimento de Michael nos negócios do pai. Apesar de não desejar isso, os acontecimentos demonstram como ele fica sem opções. Além disso, as situações revelam que ele possui o temperamento ideal para suceder ao pai. Primeiro, quando ele visita o pai no hospital, é sua esperteza que evita um novo atentado. Aliás, ele possui sangue frio, o que fica claro quando ele acende o isqueiro sem tremer as mãos numa situação de perigo.
Em seguida, para surpresa de Sonny e Hagen, Michael assume a frente a respeito da retaliação à família inimiga. Mais que sugerir o plano, ele mesmo o executa e se sacrifica se exilando na Sicília. Por fim, duas tragédias o forçarão a assumir o posto do pai.
Finalmente, a genial conclusão sela o destino de Michael como o novo chefão. Ele já não é o mesmo homem do início do filme, e essa mudança fica evidente no seu relacionamento com Kay. Michael finge dizer-lhe a verdade, e a porta do seu escritório se fecha, deixando-a de fora dos negócios da família.
Conclusão
Por fim, vale ressaltar a emblemática cena que salienta o fim do sonho americano. Nos arredores de Nova York, um capanga de Corleone executa um traidor dentro de um carro. Ao fundo, vemos a Estátua da Liberdade, símbolo da esperança dos imigrantes que desembarcam no país.
Em suma, O Poderoso Chefão é uma produção voltada ao público adulto, realizada por um jovem talento da geração das escolas de cinema, cujos primeiros passos já estão calejados pelo sentimento geral de desilusão predominante em sua época.
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Ficha técnica:
O Poderoso Chefão (The Godfather) 1972, EUA, 2h55min. Direção: Francis Ford Coppola. Roteiro: Mario Puzo, Francis Ford Coppola. Elenco: Marlon Brando, Al Pacino, James Caan, Diane Keaton, Robert Duvall, Richard S. Castellano, Sterling Hayden, John Marley, Richard Conte, Al Lettieri, Abe Vigoda, Talia Shire, Talia Shire.
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