Gattaca (1997), O Show de Truman (1998), Anon (2018)… definitivamente, Andrew Niccol se interessa por ideias disruptivas. O Preço do Amanhã (In Time) não foge à regra, e parte de uma premissa que rompe com algumas das estruturas sociais e econômicas que conhecemos.
Em O Preço do Amanhã, tempo é dinheiro, literalmente. O tempo se tornou um recurso escasso e, por isso, virou moeda de troca. Isso porque, nesse futuro imaginado, as pessoas param de envelhecer aos 25, e só vivem mais um ano. Mas, o tempo pode ser transferido de uma pessoa para outra. Ou seja, dá para trocar, vender, dar, emprestar, roubar o tempo.
Essa analogia entre o tempo e o dinheiro como o usamos hoje é o melhor que o filme tem a oferecer. Nesse modelo, o almoço pode custar uma semana, e a gorjeta pode ser um dia. Daí se amplia essa premissa para o sistema financeiro como um todo. Nesse sentido, os milionários das finanças lucram em cima do sofrimento, e aqui da morte, dos menos favorecidos. Acumulam saldos de um milhão de anos, conseguindo um poder semelhante à imortalidade. Enquanto isso, milhões de pessoas morrem porque o seu tempo de vida se esgotou. Para se manterem vivos, aceitam empregos exploratórios, em troca de pouco tempo, e ainda tomam empréstimos desses ricaços a juros abusivos.
Um novo rico por acaso
Essa história permite até a crítica social. Como os ricos possuem tempo de sobra, eles não têm pressa. Os pobres, pelo contrário, estão sempre correndo. Assim, os ricos identificam quem pertence à classe deles só de olhar a forma como andam. O protagonista Will Sallas (Justin Timberlake) é um dos que têm pressa. Na primeira cena, a premissa do filme já provoca estranhamento. Will conversa com a sua mãe, sobre o pouco tempo que eles têm. E quem interpreta sua mãe é Olivia Wilde, atriz apenas três anos mais velha que Timberlake. Acontece que ela já passou dos 25 anos, portanto, como não envelhece mais, mantém essa aparência.
O estado de penúria de Will muda quando recebe 100 anos de vida de um homem que não aguenta mais ser imortal. Dessa forma, Will consegue entrar nos setores dos mais ricos. E, lá ganha milhares de anos num jogo de cartas. Seu adversário no carteado é o milionário Philippe Weis (Vincent Kartheiser), que o convida para uma festa em sua casa. Lá, o policial Raymond Leon (Cillian Murphy) o aborda, e quer prendê-lo pois não acredita que Will ganhou aquele tempo de presente. Desesperado, Will foge sequestrando Sylvia (Amanda Seyfried), a filha de Weis. Durante a infindável fuga, os dois se apaixonam. E, depois, planejam roubar o cofre de Weis para distribuir seu milhão de anos para todos os necessitados, o que pode criar um colapso no sistema financeiro. Afinal, se ninguém mais precisar de empréstimos, como os financistas vão lucrar?
Uma grande correria
Por esse rápido resumo, já dá para prever que a história de O Preço do Amanhã não rende um bom filme. De fato, tudo parece uma grande correria. É frequente vermos Justin Timberlake e Amanda Seyfried correndo na tela. Se não funciona, acima de tudo, é porque os momentos decisivos acabam minando a trama. Por exemplo, o fato de Will ganhar os cem anos de vida por acaso. Além disso, a decisão nada sensata de Will ao ser interpelado pelo policial Raymond que ainda iria investigar se ele roubou o tempo. Ou a própria ideia de se tornar um Robin Hood mesmo quando sua própria permanência ainda está indefinida.
A constatação, enfim, é que O Preço do Amanhã parte de uma ideia genial, a do tempo usado como dinheiro, mas isso não se transforma em um bom roteiro, muito menos em um bom filme.
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Ficha técnica:
O Preço do Amanhã | In Time | 2011 | 109 min | EUA | Direção e roteiro: Andrew Niccol | Elenco: Amanda Seyfried, Justin Timberlake, Cillian Murphy, Vincent Kartheiser, Olivia Wilde, Matt Bomer, Johnny Galecki, Collins Pennie, Toby Hemingway, Brendan Miller, Yaya DaCosta, Alex Pettyfer.