O diretor francês Michel Hazanavicius visita o gênero infantil em O Príncipe Esquecido, contando com Omar Sy e Bérénice Bejo como protagonistas.
Michel Hazanavicius gosta de trabalhar os variados gêneros cinematográficos. Por exemplo, contando com Jean Dujardin como o Agente 117, dirigiu duas aventuras de espionagem que emulam James Bond. Com o mesmo ator, atingiu o sucesso num filme mudo e em preto e branco, O Artista (2011), que lhe rendeu o Oscar de melhor diretor, e ainda levou mais quatro prêmios da Academia, incluindo melhor filme. Em The Search (2014), explorou o drama de guerra, e ainda fez a cinebiografia de Jean-Luc Godard em O Formidável (2017).
Porém, este ecletismo nem sempre gera ótimos resultados. O Príncipe Esquecido, por exemplo, é apenas mediano.
A trama
Todas as noites, o viúvo Djibi costuma contar histórias para sua filha Sofia antes de dormir. E o filme retrata esse mundo de fantasia como se fosse um estúdio de cinema, com vários seres mágicos e Djibi como um príncipe encantado. Porém, Sofia vira adolescente, e aos 12 anos, não quer mais saber dessas historinhas. Enquanto na vida real Djibi precisa aprender a lidar com o amadurecimento da filha, no mundo mágico ele começa a desaparecer.
Análise
A primeira parte de O Príncipe Esquecido é cativante. A ainda criança Sofia adora o pai e suas contações de estória. Além disso, a primeira aparição do mundo fantástico surpreende o espectador, que pode admirar todas as criações, os seres e as situações criativas nesse universo onde não existem limites para a imaginação.
Quando surge a questão do amadurecimento de Sofia como um problema para o seu pai, isso parece um obstáculo interessante para a trama. Ainda mais porque não acontece apenas na realidade dessa pessoa comum, mas também com o seu alter-ego no universo fantástico. Entram, também, dois novos personagens. O colega de classe de Sofia, Max, por quem ela se apaixona, gerando ciúme no pai. E a vizinha interpretada por Bérénice Bejo, que se interessa por Djibi.
O desenvolvimento desse drama cotidiano, presente na vida da maioria das pessoas, possui interesse e alcance amplo. Ademais, é bem construído. O defeito do filme é apresentar todo o desenrolar em duplicidade, nos mundos real e imaginário. Com isso, o espectador acaba assistindo a tudo duas vezes, o que se torna redundante. Além disso, os personagens mágicos já deixaram de ser novidade, e não empolgam mais.
A direção e o elenco
Por um lado, como emulador de gêneros, Michel Hazanavicius novamente faz um ótimo trabalho. Utilizando com criatividade os efeitos visuais, o diretor cria um mundo fantástico muito maluco, que se aproxima de um ambiente de animação. No entanto, sua falha foi insistir sempre em mostrar os eventos da história nos dois cenários, no real e no imaginário. A solução usual é apresentar os personagens na realidade, desenvolver toda a trama no mundo fantástico, e fechar retornando ao real. Aliás, como vimos em outros filmes, por exemplo em A Princesa Prometida (1987).
Pelo menos, Michael Hazanavicius conta com um ótimo elenco. No papel do pai, Omar Sy comprova sua versatilidade. Quem o viu em Intocáveis (2011) e na série Lupin, se impressionará ao vê-lo na pele do príncipe com collant colorido. Já como a vizinha, o diretor escala novamente sua esposa e atriz recorrente, a argentina Bérénice Bejo, numa interpretação divertida.
Por fim, o elenco infantil traz os iniciantes Keyla Fala (Sofia aos 8 anos), Sarah Gaue (Sofia aos 12) e Néotis Ronzon (Max). Aliás, este último, que faz o amigo de Sofia e novo príncipe encantado, parece que saiu direto das páginas do livro “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry.
Em resumo, O Príncipe Esquecido não é um ótimo filme, mas pode ser uma boa pedida para se comemorar o Dia dos Pais com a criançada. O mundo mágico com certeza agradará e o tema da aceitação do amadurecimento dos filhos é universal.
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Ficha técnica:
O Príncipe Esquecido | 2020 | Le prince oublié | Direção: Michel Hazanavicius | Roteiro: Bruno Merle, Noé Debré, Michel Hazanavicius | Elenco: Omar Sy, Bérénice Bejo, François Damiens, Sarah Gaye, Keyla Fala, Néotis Ronzon, Philippe Vieux, Philippe Uchan.