A partir de um acontecimento verídico, O Protocolo de Auschwitz alerta que o negacionismo diante de uma tragédia pode custar milhares de vidas. É o que descobriram os dois prisioneiros de Auschwitz que enfrentaram uma extenuante fuga para relatar ao mundo as atrocidades que os nazistas cometiam no campo de concentração.
A Cruz Vermelha e os governos dos países aliados não acreditaram nos relatos que esses judeus eslovacos apresentaram em abril de 1944. Assim, nunca bombardearam o campo de concentração, como eles pediram. Com isso, muitas mortes continuaram acontecendo até o fim da Segunda Guerra Mundial.
Com o apoio dos demais prisioneiros, Freddy e Walter se esconderam em um buraco embaixo de paletes de madeira por vários dias. Até que, durante uma noite, conseguiram fugir de Auschwitz. Depois, durante o trajeto até a fronteira, receberam a ajuda de moradores locais. Assim, alcançaram membros da resistência, e a Cruz Vermelha.
Linha central da narrativa
Essa linha central da trama guarda muitas possibilidades de exploração dramática. De fato, a cada momento em que a estória se debruça sobre os dois jovens escondidos, o filme se torna tenso. Principalmente, quando eles não conseguem levantar o peso dos paletes empilhados em cima deles, o que poderia significar morrerem ali presos no buraco. Ou mesmo quando os soldados alemães os procuram, chegando muito perto deles.
Em paralelo, o filme divide essa trama central com cenas dos prisioneiros do galpão 9, onde estavam Freddy e Walter. Então, vemos o quanto os seus companheiros de prisão foram resilientes. Eles suportaram vários dias sem comer e sem dormir, em pé ao ar livre, sob um frio torturante, e até ameaças de morte de parentes. Mesmo assim, não revelaram o local do esconderijo dos fugitivos.
Para completar, O Protocolo de Auschwitz insere um flashback do líder nazista. Montado num cavalo, ele pisoteia as cabeças de prisioneiros que estão com seus corpos enterrados no chão. A inserção desse ato cruel se justifica para reforçar as atrocidades que os nazistas cometiam no campo de concentração.
Apesar de esse flashback e as cenas com os prisioneiros resilientes serem essenciais para a trama, elas subtraem a tensão dos trechos com a dupla de fugitivos escondidos. O diretor Peter Bebjak, talvez por trabalhar mais em episódios de séries, não consegue equilibrar os impactos dramáticos dessas sequências. Dessa forma, a primeira parte de O Protocolo de Auschwitz é irregular, porque dilui a perspectiva dos protagonistas.
Fuga empolgante
Na segunda parte, ao se centrar na fuga de Freddy e Walter, o filme se torna empolgante. Afinal, o filme se concentra nessa arriscada missão de cruzar a fronteira, sob condições adversas, inclusive com ferimentos graves. Então, a ajuda que eles recebem de alguns moradores emocionam pela inesperada solidariedade. Porém, depois eles se decepcionarão com a atitude da Cruz Vermelha.
Peter Bebjak, o diretor, opta por filmar muitas cenas com planos truncados, que causam desconforto proposital no espectador. Imagens de cabeça para baixo, câmeras trêmulas, planos ao nível do solo, filmagens de lado, cortes abruptos… Enfim, tudo isso compõe a sensação de desnorteamento que enfrentam os protagonistas Freddy e Walter.
Por fim, durante os créditos, há uma montagem de áudio com declarações de chefes de estado contendo discursos de negacionismo sobre esse genocídio dos nazistas e, também, de intolerância racial e homofobia. Apesar de não identificados no filme, entre eles claramente ouvimos as palavras do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Dessa forma, esse fechamento sela a mensagem de O Protocolo de Auschwitz, fiel ao propósito dos heroicos fugitivos. Ou seja, que o filme mantenha o alerta contra o negacionismo, e evite que o passado se repita.
A Eslováquia selecionou O Protocolo de Auschwitz como seu representante para concorrer ao Oscar 2021 de melhor filme estrangeiro. Porém, o filme não entrou entre as indicações finais.
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Ficha técnica:
O Protocolo de Auschwitz (The Auschwitz Report) 2020. Alemanha/Eslováquia/Polônia/República Checa. 94 min. Direção: Peter Bebjak. Roteiro: Peter Bebjak, Tomás Bombík, Jozef Pastéka. Elenco: Noel Czuczor, Peter Ondrejicka, John Hannah, Wojciech Mecwaldowski, Jacek Beler, Michal Rezný, Kamil Nozynski, Christoph Bach.
Distribuição: A2 Filmes.