O diretor francês Jean Renoir leva sua maestria para Índia, onde conta um recorte da história de uma família inglesa vivendo em Bengala. O Rio Sagrado é conduzido pela narração da menina Harriet quando adulta, lembrando esse episódio marcante de sua vida, que influenciou muito sua formação, na passagem da fase adolescente para a adulta.
A fotografia, do sobrinho do diretor, Claude Renoir, é exuberante. As cores intensas traduzem na tela uma identidade típica do país. Aliás, este serve apenas de um motivo para podermos afirmar aqui que encontramos em “O Rio Sagrado” um atípico filme dirigido por um estrangeiro com absoluta reverência à cultura local. De fato, se tomarmos a extensa dança da atriz indiana Radha, encontramos outro indício que o filme se curva aos costumes locais, e não o inverso. Sente-se fortemente um aspecto documental no início do filme, quando a narração atravessa imagens do cotidiano da cidade, exibindo seus habitantes, bem como as principais edificações em torno do rio considerado sagrado.
Paixão platônica
O principal drama da personagem principal, a adolescente Harriet (Patricia Walters), é sua paixão platônica pelo Capitão John (Thomas E. Breen), que já é um adulto e, compreensivelmente, prefere namorar a irmã mais velha, Valerie (Adrienne Corri). O ciúme da menina lembra “Desejo e Reparação” (Atonement, 2007), filme com Keira Knightley onde a adolescente provoca uma tragédia devido à sua paixão. Em “O Rio Sagrado”, outra tragédia acontece, mas que não está relacionada à paixonite de Harriet. Ademais, o acontecimento ilustra o conceito hinduísta de aceitar o que a vida lhe apresenta. Por fim, torna-se evidente que o filme todo foi construído para a compreensão dessa visão de vida.
A música regional, muito presente durante o filme, em algumas sequências tocadas por artistas genuínos, adiciona um elemento vital para o naturalismo latente em “O Rio Sagrado”. Até mesmo o ritmo e o tom carregam o espectador para dentro do universo retratado, tal como se fôssemos membros daquela família protagonista da história, já incorporada ao estilo de vida indiano. Detalhes esses planejados e executados de forma brilhante por Jean Renoir.
Enfim, sentimo-nos compelidos a rever o filme para vivenciar novamente o espírito que o filme transpira.
Ficha técnica:
O Rio Sagrado (The River, 1951) França/Reino Unido/Índia/EUA. 99 min. Dir: Jean Renoir. Rot: Rumer Godden e Jean Renoir. Com Patricia Walters, Adrienne Corri, Radha, Nora Swinburne, Esmond Knight, Arthur Shields, Thomas E. Breen, Suprova Mukerjee, June Hillman, Nimai Barik, Richard R. Foster.
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