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O Terceiro Assassinato (filme)
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O Terceiro Assassinato

Avaliação:
9/10

9/10

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Crítica | Ficha técnica

Na busca pela verdade em O Terceiro Assassinato, um advogado lida com sua própria moralidade para questionar o determinismo.

O advogado Shigemori assume a defesa do réu Misumi, acusado confesso de roubo e assassinato do dono de uma empresa de alimentos. Mas a complexidade do caso aumenta a cada conversa que o advogado tem com seu cliente, pois este sempre acrescenta novos fatos ou muda sua versão dos acontecimentos. Então, Shigemori busca informações em outras fontes. Assim, acredita que desvendou o crime ao descobrir que a mulher e a filha da vítima estavam em contato com o réu. Porém, a verdade só será esclarecida quando ele refletir sobre uma questão mais profunda.

E o caso guarda ligações com o pai de Shigemori, um juiz que há 30 anos proferiu a sentença de prisão para Misumi, ao invés de optar pela pena de morte. Diante desse novo assassinato, o juiz se arrepende e diz ao filho que há um abismo que divide as pessoas capazes de matar e aquelas que não. E que essa distinção está determinada desde o nascimento. Porém, o advogado discorda do pai em relação a esse tema, que é o núcleo do filme.

(spoilers adiante)

O réu Misumi também acredita nesse determinismo, mas, ciente de que está no ocaso de sua vida, resolve apostar na esperança de que está errado. Simbolicamente, ele solta um pássaro que criava numa gaiola, certo de que ele morrerá. Porém, ele sobrevive. Em relação a si mesmo, Misumi sempre acreditou que esteve determinado a ser uma pessoa má. Então, quando surge uma oportunidade de fazer o bem, ele aceita.

Análise do filme

Assim, sem entregar de bandeja a solução do crime, O Terceiro Assassinato revela nas entrelinhas que Misumi resolveu ajudar a filha adolescente da vítima, que a estuprava desde os 14 anos. Enquanto isso, Misumi é tão evasivo que confunde a todos, até mesmo seu advogado. Porém, Shigemori descobre a verdade e deixa ser manipulado pelo assassino, em um plano para inocentar e preservar a menina.

Na verdade, o filme entrega sutilmente que o advogado Shigemori aceitou esse trato em silêncio. E isso fica implícito no rápido plano em que ele passa a mão no rosto, da mesma forma que a menina e Misumi fizeram para limpar o sangue da vítima. Antes, O Terceiro Assassinato prenunciava tal resolução ao mostrar um sonho do advogado em que ele, a menina e Shigemori estão deitados brincando na neve. E, vistos de cima, os três estão em forma de cruz, como a vítima do assassinato. Adicionalmente, a câmera no alto ainda intensifica a cena sugerindo um ser superior julgando-os.

Além disso, o simbolismo também está numa das cenas finais, quando Shigemori olha para os fios elétricos dos postes que se cruzam nas ruas. Dessa forma, ele percebe que ele, que havia nascido entre as pessoas que não matam, como disse seu pai, acabou atravessando o abismo e foi para o outro grupo. Afinal, ao aceitar a cumplicidade do assassinato de seu cliente, ele agora faz parte das pessoas que podem matar.

Koreeda

Por fim, o diretor Hirokazu Koreeda, de Assunto de Família, filme que também aborda a questão moral, adota um ritmo lento e um tom calculadamente frio, refletindo o raciocínio do advogado. Quando a narrativa pede, Koreeda ousa em estilo, como no jogo de sobreposições nos reflexos no vidro das conversas entre Shigemori e Misumi na cadeia, alternando o domínio de um personagem sobre o outro, para finalmente optar pelo acordo tácito.


Onde assistir:
O Terceiro Assassinato (filme)
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