Poster de "Oeste Outra Vez"
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Oeste Outra Vez

Avaliação:
10/10

10/10

Crítica | Ficha técnica

O título do filme Oeste Outra Vez possui duplo sentido. Por um lado, indica que o seu diretor, Erico Rassi, retorna ao faroeste do seu longa de estreia Comeback: Um Matador Nunca se Aposenta (2016). Por outro, aponta para a caos de um mundo sem mulheres – aquele que costumava ser exaltado como o “mundo Marlboro, onde os homens se encontram”, slogan dessa marca de cigarros nos anos 1990. 

A única personagem feminina no filme aparece por alguns segundos apenas, no início, dando as costas para a troca de socos entre Totó (Ângelo Antônio) e Durval (Babu Santana), respectivamente, seu ex-namorado e o seu atual. O enredo nem precisa se estender muito para o público entender que ela está certa em partir, pois esses brutos que se entendam do único jeito que conseguem, na base da porrada. 

A aridez do sertão de Goiás, onde se encontra a pequena vila onde vivem os protagonistas, se compara ao cenário do Velho Oeste americano. O tempo, porém, é contemporâneo, porque senão o tema do filme perderia o seu objetivo de provocar reflexão sobre a importância de não retroceder ao machismo que ainda insiste em tentar uma retomada. Situado atualmente, os carros substituem os cavalos no primeiro duelo entre os dois inimigos. Mas, logo a trama encontra uma solução para que os cavalos também entrem na história. 

Um outro elemento dos westerns assume lugar de destaque: a figura do pistoleiro. Totó contrata um para matar Durval. No entanto, ele falha na emboscada. Fugindo das fórmulas do gênero, esse velho matador de aluguel está longe de ser habilidoso com o revólver (rifle, no caso). Enfurecido, Durval tentará retaliar contratando uma dupla de atiradores.  

A direção 

O diretor Erico Rossi demonstra conhecer o faroeste. Porém, não constrói aqui uma paródia ou uma cópia. As suas escolhas provam um domínio da própria arte de fazer cinema, independente do gênero. Filma quase sempre com a câmera no tripé, evitando a moda das imagens forçadamente trêmulas, que até contrariariam o classicismo do western. O duelo inicial já impressiona, comunicando o que acontece sem precisar expressar verbalmente.  

Outros detalhes, ao longo do filme, igualmente entusiasmam o público que aprecia a forma de filmar. O pequeno pedaço de espelho quebrado do atirador, por exemplo, ao mesmo tempo que escancara a sua situação humilde, destaca o membro mais importante da sua profissão: seu olho, instrumento para mirar com precisão. E, uma vez contratado, sua aproximação em direção ao alvo acontece lentamente, como se fosse a morte chegando. A música, sempre adequada em todo o filme, aqui dá o tom sinistro. Em seguida, a câmera revela o seu esconderijo, pegando o espectador de surpresa. Porém, tudo isso ganha um leve tom de comédia, conforme o filme subverte os cânones do faroeste dos exímios pistoleiros. 

O estilismo impressiona na solução que Erico Rossi adota para mostrar a passagem do tempo. Não é original, e nem precisar ser, mas é executada com primor mesmo sendo uma sequência difícil de se filmar, pois a câmera gira em 360º e mostra os personagens avançando no tempo a cada volta. Fez-me lembrar do final de O Sabor da Vida (2023), de Anh Hung Tran.  

Faz rir sem se distanciar da seriedade 

O uso das sombras também se destaca. Um dos mortos no filme está deitado no chão com sombras de barras sobre seu corpo – o que remete ao uso de barras no cinema clássico para indicar que um personagem vai morrer. Em outro momento, as próprias grades (e não as sombras) estão em primeiro plano, com os personagens que participaram de um assassinato caminhando atrás delas, simbolizando o crime que cometeram (mas todos certamente sairão ilesos nessa terra sem lei). 

O tema, por sua vez, ganha força na mise-en-scène que reforça o que seria um mundo sem mulheres. Os homens se tornam parecidos com bichos do mato. Comem porque precisam saciar a fome, e o fazem diretamente da panela (a cena com os três machos cada um com uma colher é emblemática). Mas, preferem beber, porque assim entorpecidos podem encarar a vida sem muita responsabilidade. Totó e o atirador, simbolicamente, ignoram o fio de regra criada para a disputa no bilhar que, no final, vira uma bagunça. Esse encerramento do filme ainda traz os bares lotados de homens, todos embriagados, dançando entre eles. Um olhar cínico sobre esse cenário patético, porque não é um dia especial, mas um sintoma cotidiano. Oeste Outra Vez tem essa verve que faz rir sem se distanciar da seriedade. 

O filme, merecidamente, recebeu os prêmios de Melhor Filme, Melhor Fotografia (André Cavalheira) e Melhor Ator Coadjuvante (Rodger Rogério) no 52º Festival de Cinema de Gramado. Agora chega aos cinemas no dia 27 de março com potencial para ser descoberto e admirado por um vasto público.

 

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Ficha técnica: 

Oeste Outra Vez | 2024 | 98 min. | Brasil | Direção: Erico Rassi | Roteiro: Erico Rassi | Elenco: Ângelo Antônio, Babu Santana, Adanilo, Antonio Pitanga, Daniel Porpino, Rodger Rogério, Tuanny Araújo. 

Distribuição: O2 Play. 

Trailer: 

Onde assistir:
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