Oferenda ao Demônio (The Offering) foge do lugar comum porque sua trama acontece dentro do ambiente judaico e não cristão. Além disso, o ser sobrenatural aqui é feminino, a demônia Abyzou, a tomadora de crianças.
No prólogo, um senhor judeu que inadvertidamente ofereceu uma menina a essa entidade para salvar sua esposa se suicida para trancafiar Abyzou em seu corpo com um amuleto. Porém, Arthur (Nick Blood), o filho único de um agente funerário, o liberta novamente quando examina o cadáver que acaba de chegar.
A história por trás dos personagens é a seguinte. Arthur faz uma visita ao pai Saul (Allan Corduner) com sua esposa Claire (Emily Wiseman), que está grávida. O objetivo dele é se reconciliar e pedir para ele dar a casa dele como garantia de um empréstimo. Os dois haviam se afastado porque Claire não é judia e Arthur deixara de praticar a religião. Mas, o pai acolhe o casal com carinho. Pelo menos, até seu velho amigo Heimish (Paul Kaye), que não gosta de Arthur, revelar as segundas intenções do filho.
Esse enredo secundário serve para dar sustentação aos personagens. Nesse sentido, funciona, e eles não soam superficiais ou vazios como acontece em vários filmes de terror. Ademais, permite a construção do arco do protagonista Arthur, que no final precisa retornar ao judaísmo para tentar salvar a vida dele, de Claire e do bebê ainda não nascido.
Os erros e os acertos
Em seu segundo longa como diretor, Oliver Park, que tem carreira como ator, explora os clichês do terror. Assim, faz bom uso de pesadelos e razoável de jump scares, que pecam por serem previsíveis. Por outro lado, traz alguma modernidade se inspirando nos mais criativos filmes do gênero, como A Hora do Pesadelo (A Nightmare on Elm Street, 1984), de Wes Craven. Pelo menos, é a impressão que temos quando assistimos à cena em que Arthur foge carregando Claire no colo e quando atravessa a sala a esposa desaparece e ele retorna para o mesmo ponto de partida, recorrentemente. Não assusta, mas o trecho causa estranhamento, ao mesmo tempo que demonstra o poder de Abyzou.
Contudo, Oliver Park cai no habitual erro de muitos filmes de terror. Enquanto Abyzou aparece na tela somente como um vulto (por exemplo, no vídeo que Arthur encontra na casa da primeira vítima) a sua aparição é assustadora. No entanto, ao se materializar com cara de bode e ainda grunhindo, a demônia perde esse efeito. De fato, isso quase sempre acontece no gênero. Salvo exceções raras, como em Poltergeist (1982), de Tobe Hooper, o que o espectador imagina em sua mente é muito mais horrível do que o filme mostra.
Em suma, Oferenda ao Demônio conta com o diferencial do judaísmo, e isso fica bem evidente no filme. Ademais, traz personagens interessantes. Quanto ao gênero do demônio, o enredo não explora como poderia, pois Abyzou sequestra crianças por ser estéril, mas isso não entra aqui na trama. Acima de tudo, o longa desaponta porque precisava ser bem mais assustador.
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Ficha técnica:
Oferenda ao Demônio | The Offering | 2022 | 95 min | EUA, Reino Unido, Bulgária | Direção: Oliver Park | Roteiro: Hank Hoffman | Elenco: Nick Blood, Emily Wiseman, Paul Kaye, Allan Corduner, Daniel Ben Zenou, Sofia Weldon.
Distribuição: Paris Filmes.