Quem julga Okja pelas fotos de divulgação pode ter a falsa impressão de se tratar de um filminho de sessão da tarde sobre a amizade de uma menina e seu pet. De fato, isso é o centro da trama, mas a estória surpreende por sua abordagem séria sobre a proteção aos animais. E vai além, numa crítica dura ao capitalismo selvagem.
O pet, para começar, não é um animal de estimação qualquer. É um porco geneticamente modificado para ficar do tamanho de um hipopótamo e, assim, poder fornecer muita carne para alimentar as pessoas. A empresa que o desenvolveu, a Mirando, lança uma campanha onde deixará um porco ainda pequeno com um fazendeiro para que ele o crie durante anos. Findo esse prazo, aquele que apresentar o melhor porco melhor ganhará um prêmio.
A CEO da Mirando, Lucy, quer com esse concurso dar uma imagem bonita para a empresa. Afinal, ela precisa esconder que realizou experiências genéticas que geraram criaturas deformadas e que a Mirando fornece carne transgênica sem informar aos consumidores.
Amizade com o pet
Na Coréia do Sul, a menina Mija cresceu junto com um desses porcos, uma fêmea que seu avô criou. Para ela, a enorme porca é sua pet, a quem chama de Okja. Os dois brincam juntos pelas paisagens montanhosas, e Okja chega a salvar a vida de Mija, quando ela despenca de um penhasco. Porém, justamente Okja foi eleita o porco vencedor da campanha e ela será transferida para Nova York para a celebração.
Então, na difícil missão de resgatar Okja, Mija contará com a ajuda da FLA – Frente da Liberação Animal – formada por jovens idealistas e pacifistas que querem acabar com os mau tratos aos animais. O plano da FLA envolve infiltrar Okja no laboratório da Mirando para filmar as experiências cruéis a que são submetidos os bichos e divulgar isso ao mundo.
Mudanças de tom
O filme começa bem alegre, se assemelhando mesmo a uma sessão da tarde. Enquanto Okja está na floresta coreana, na companhia de Mija, tudo parece divertido. Mas, a partir do momento em que o animal é levado pela empresa Mirando, o ritmo se acelera e entra no gênero ação.
Posteriormente, o filme fica mais obscuro, principalmente na sequência em que levam Okja ao laboratório da Mirando. Lá, vemos algumas espécies que não deram certo nas experiências genéticas e uma terrível cena onde Okja é obrigada a cruzar com outro porco gigante. Essa sequência aproxima esse cruzamento a um estupro, já que a fêmea não tem opção de recusar. Mais adiante, Mija descobre como funciona o abatedouro da Mirando, onde Okja poderá virar carne.
Ou seja, já não estamos diante de um filme para uma sessão vespertina na televisão aberta. Apesar de alguns alívios cômicos, principalmente na personagem caricata interpretada por Jake Gylenhaal (mas que não deixa também de ser cruel), Okja choca por sua exposição brutal de um matadouro de animais. Aliás, isso fica ainda mais contundente porque os efeitos visuais são excelentes, e todos os animais fantásticos parecem reais.
Essa crítica nada sutil ao capitalismo chega pelas mãos do diretor sul-coreano Boong Joon Ho, cujo filme Parasita, que ganhou a Palma de Ouro em Cannes em 2019, mira o status quo social. Aqui, Boong Joon Ho talvez desperte novos vegetarianos ou mesmo ativistas de proteção animal. Aliás, se você assistir Okja e O Patrão: Radiografia de um Crime certamente ficará um bom tempo sem vontade de comer carne.
Por fim, não desligue a tv ao final do filme. Há uma cena após os créditos que inspira esperança na continuidade da FLA, que reforça o final já feliz da conclusão.
Ficha técnica:
Okja (Okja, 2017) Coréia do Sul/EUA. 120 min. Dir: Bong Joon Ho. Rot: Bong Joon Ho, Jon Ronson. Elenco: Ahn Seo-Hyun, Tilda Swinton, Giancarlo Esposito, Jake Gyllenhaal, Jeong-eun Lee, Byun Hee-Bong, Yun Je-mun, Shirley Henderson, Moon Choi, Woo-sik Choi, Steven Yeun, Paul Dano, Daniel Henshall, Lily Collins, Ji-Hoon Park, Devon Bostick.
Assista ao filme online na Netflix