Poster de "Onda Nova"
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Onda Nova

Avaliação:
6/10

6/10

Crítica | Ficha técnica

No início dos anos 1980, a pornochanchada perdia espaço para os filmes de sexo explícito. Onda Nova, por isso, tenta driblar esse cenário acrescentando à comédia e à nudez típicas desse gênero o que surgia de mais moderno na cultura da época, como a música new wave, o auge do sexo entre pessoas do mesmo gênero (que seria freado logo em seguida pela AIDS) e o clamor pela liberdade política no Brasil (lembrando que o país ainda estava na ditadura).

A busca pelo apelo popular, que a pornochanchada conseguiu atingir com eficiência, também se repete em Onda Nova. O elenco já repleto de beldades femininas e masculinas, frequentemente despidas e protagonizando cenas de sexo (mais sensuais e mais ousadas que a maior parte da produção anterior do gênero), ganha ainda reforço de convidados famosos como Caetano Veloso, Patrício Bisso (no papel de uma mãe ultraconservadora!), Regina Casé, Tânia Alves etc. E, entre eles, os jogadores de futebol Casagrande (numa cena de sexo!) e Wladimir (que quebra o preconceito machista ao se vestir de mulher), e o locutor Osmar Santos (que sofreria um trágico acidente automobilístico em 1994 e se afastaria da profissão). Esse último time de convidados indica o futebol como a grande aposta do filme para atrair público.

O esporte das massas

Assim, faz todo o sentido que o tema central seja o futebol feminino. A modalidade era ainda uma novidade. Depois de décadas de proibição (entre 1941 e 1979), o futebol feminino começou timidamente no início dos anos 1980, conseguindo realizar a primeira Taça Brasil em 1983. O filme abraça esse movimento, ao focar na formação do time Gayvotas. Além da grafia com o “gay” no título, o nome é também uma derivação da Gaviões da Fiel, torcida uniformizada do Corinthians. O time paulista está muito conectado com Onda Nova. No longa estão os jogadores, as locações para filmagens, e ainda a ideia da Democracia Corinthiana, que se encaixa com a abordagem dos realizadores.

A narrativa é solta. Não tem começo, meio e fim. Procura apenas acompanhar a formação do time Gayvotas enquanto mostra um pouco da rotina das principais jogadoras. Quem ganha maior destaque é Rita (Carla Carmurati), personagem que representa uma crítica às primeiras jogadoras de futebol feminino no Brasil, que eram escolhidas por serem bonitas, e não por jogarem bem. É o que parece quando Rita veste as chuteiras nos pés errados, e ao tropeçar em dois trechos do filme. Mas, isso não chega a ser muito explorado no decorrer do enredo. No lado pessoal, ela namora o treinador, mas depois é traída por ele. E trabalha como dançarina do Chacrinha.

Entre o comercial e o experimental

Maconha, aborto e a vida boêmia nos bares da capital paulista se misturam ao sexo liberal nessa narrativa que apresenta um pouco de cada personagem, sem se aprofundar muito. O lado mais sério lembra as ousadias de Carlos Reichenbach, em sequências que transitam entre o devaneio, o nonsense e a afronta. Uma delas mostra Rita nos fundos da grande casa de sua família. De uniforme do jogo, passa pela mãe deitada ao lado de seu psiquiatra, à beira da piscina – e depois Rita volta com roupa de chacrete.

Em outro momento provocador, a personagem de Tânia Alves está com uma gilete na mão conversando com seu namorado, e logo depois Cristina Mutarelli está em cena com um revólver na mão. E essa arma acabará provocando uma tragédia numa brincadeira de roleta russa entre dois homens que acabaram de transar. A maior alucinação, porém, está no trecho com Rita amarrada numa âncora dentro da piscina.

Para aumentar ainda mais o apelo popular, alguns trechos musicais também entram no filme. Com algumas músicas compostas por Laura Finochiaro, artista em ascensão na época, Onda Nova traz sequências musicais na voz de Tânia Alves (como vocalista em uma danceteria) e Cida Moreira (dirigindo o ônibus do time).

Censura e relançamentos

Porém, esse arsenal pesado para conquistar a bilheteria encontrou um muro intransponível: a censura da ditadura, que interditou a exibição de Onda Nova nos cinemas após passar na 7ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Posteriormente, saiu em DVD.

O filme é o segundo da “Trilogia do Desejo” da dupla Ícaro Martins e José Antonio Garcia. Os outros dois filmes são: O Olho Mágico do Amor (1982) e A Estrela Nua (1984), também protagonizados por Carla Camurati. A dupla não assinou outros filmes além desses.  

Neste ano (2025), no dia 27 de março, uma excelente versão restaurada de Onda Nova retorna aos cinemas, permitindo a uma nova geração de espectadores conhecerem esse projeto que mescla o melhor da pornochanchada com o espírito da época em que foi filmado.

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Ficha técnica:

Onda Nova | 1983 | 102 min. | Brasil | Direção: Ícaro Martins, José Antonio Garcia | Roteiro: Ícaro Martins, José Antonio Garcia | Elenco: Carla Camurati, Cristina Mutarelli, Cida Moreira, Cristina Bolzan, D’Artagnan Jr., Ênio Gonçalves, Lucia Braga, Luis Carlos Braga, Neide Santos, Patrício Bisso, Petrônio Botelho, Pietro Ricci, Pita, Regina Carvalho, Vera Zimmermann, Noris Lima, Regina Casé, Tânia Alves, Caetano Veloso, Casagrande, Osmar Santos, Wladimir.

Distribuição (versão restaurada): Vitrine Filmes e Tanto Filmes.

Trailer:

Onde assistir:
Regina Carvalho, Vera Zimmerman e Carla Camurati em "Onda Nova"
Regina Carvalho, Vera Zimmerman e Carla Camurati em "Onda Nova"
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