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Oppenheimer (filme)
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Oppenheimer

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

Christopher Nolan provoca sono nos seus filmes mais viajantes (A Origem [Inception, 2010] e Tenet [2020]). Mas beira a excelência em filmes de ação, vide a sua surpreendente trilogia do Batman e o seu Dunkirk (2017). Oppenheimer fica entre esses dois mundos de Nolan. É um drama histórico como seu filme de guerra anterior, mas com narrativa audaciosa, como Amnésia (2000), aqui usada para diluir dois momentos da biografia do pai da bomba atômica, que balança entre herói ou vilão.

A estrutura é toda fragmentada. Está repleta de mini flash forwards, que antecipam em planos curtíssimos um trecho indecifrável do que está por vir. Por exemplo, os pés que fazem um som estrondoso no chão, posteriormente revelados como parte da ovação a Oppenheimer após o êxito no teste da explosão da bomba nuclear em Los Alamos. Esse tipo de quebra-cabeças é uma das características do cinema de Nolan – e fator crucial para separar seus apreciadores dos seus detratores.

Desta vez, o diretor inglês recorre a alguns recursos típicos dos filmes de arte de prateleira. Entre eles, o uso de cenas em preto e branco, aqui aparentemente apenas para diferenciar os dois inquéritos em curso durante o filme, mostrados em fragmentos cada vez mais longos. Impressão esta, porém, pendente de uma revisão dedicada a essa observação.

Recursos de filmes de arte

Já outro desses recursos provoca o público, até mesmo aqueles que adoram os filmes de Nolan. Estamos falando da estranheza de colocar na tela a concretização em imagens dos sentimentos do protagonista. Assim, temos o Oppenheimer (Cillian Murphy) pilotando um dos bombardeiros de uma possível hecatombe nuclear, a fim de demonstrar esse seu temor na última cena. Ou, então, durante a citada comemoração após o teste da bomba, quando o protagonista imagina as pessoas ali reunidas sofrendo os efeitos terríveis da explosão, já indicando o peso na sua consciência.

Mas, principalmente, no trecho do interrogatório quando Oppenheimer admite o caso que teve com a comunista Jean Tatlock (Florence Pugh), confissão diante de sua esposa Kitty (Emily Blunt), presente no enquadramento em segundo plano. Nessa cena, o recurso apelativo coloca Oppenheimer e Jean nus em cena, fazendo sexo, apenas para indicar o quão exposto ele está no momento. Além disso, Nolan cede também ao cacoete de colocar uma pessoa vomitando em cena, tão em voga nas produções atuais.

Clímax bombástico

Por outro lado, o diretor comove o espectador no clímax do filme. A sequência do teste da primeira bomba atômica representa um dos momentos mais tocantes entre os lançamentos deste ano. Primeiro, constrói um clima de suspense envolvente, ao acumular as dúvidas e os riscos da operação, e ainda se beneficia do uso concreto e diegético de uma contagem regressiva. Em seguida, logo após a detonação, surge o silêncio absoluto, entre reações de alguns personagens ainda ansiosos e outro ensaiando uma comemoração antes da hora.

O deslumbramento das chamas em forma de cogumelo gigante, então, dá lugar ao terror que vem em forma da onda de ar devastadora. O sucesso do projeto, maturado sob pressão durante anos, enseja a celebração dos envolvidos. Porém, Oppenheimer não comemora, e o público do cinema, hoje consciente do que essa invenção representa, se entristece. Pois na tela está um dos feitos mais terríveis da Humanidade.

A expurgação

Após esse momento, o filme Oppenheimer entra em outra chave. Até então, a trama se dividia entre a dedicação ao Projeto Manhattan e relances das acusações posteriores direcionadas ao seu diretor. Essas duas linhas narrativas construíam o suspense que culminaria na explosão e na revelação de quem era o espião infiltrado. Resolvidas essas questões, o foco se concentra na expiação voluntária de Oppenheimer, que aceita sua condição de mártir para resolver o seu sentimento de culpa pelas milhares de mortes causadas pela sua criação e pelo novo mundo que surge a partir dela, sob constante temor da destruição total. O desenrolar das investigações continua a manter o interesse no filme, mesmo caindo num desfecho para agradar a todos, no qual o vilão, o político interesseiro interpretado por Robert Downey Jr. é desmascarado.

Oppenheimer comprova que Christopher Nolan funciona melhor sob amarras. Sejam elas por conta da limitação por relatar um fato ou pessoas históricas, como no caso deste filme, ou por levar para as telas um personagem icônico, como o Batman. Ainda assim, faz um cinema autoral, com as narrativas fragmentadas que são sua característica, com as ousadias artísticas empregadas aqui. Porém, pelo menos neste longa, esse autorismo representa justamente os pontos mais fracos deste que é um dos seus melhores filmes.  

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Ficha técnica:

Oppenheimer | 2023 | 180 min | Reino Unido, EUA | Direção e roteiro: Christopher Nolan | Elenco: Cillian Murphy, Emily Blunt, Robert Downey, Jr., Matt Damon, Florence Pugh, Benny Safdie, Michael Angarano, Josh Hartnett, Kenneth Branagh, Rami Malek, Jason Clarke, James D’Arcy, Alex Wolff, Matthew Modine, Louise Lombard, Gustaf Skarsgård, Casey Affleck, Gary Oldman.

Distribuição: Universal Pictures.

Trailer aqui.

Se preferir, assista ao vídeo dessa crítica em nosso canal no Youtube.

Onde assistir:
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