Após ganhar experiência como diretora de segunda unidade para o pai, M. Night Shyamalan, em Tempo (2021), e como diretora de seis capítulos da série Servant (2021-2023, produzida por M. Night), Ishana Shyamalan estreia definitivamente na direção de longa-metragem em Os Observadores. A história que ela escolheu para esse projeto, do livro de A.M. Shine, tem absoluta conexão com o universo do seu progenitor, pois lida com o fantástico e ainda resvala em teorias da conspiração. Além disso, o terror está presente, mas não para aterrorizar o público, opção que M. Night Shyamalan adotou durante a sua trajetória.
A trama
O enredo ganha força por se fundamentar em lendas e mitos. O cenário é uma floresta misteriosa na Irlanda, onde a protagonista Mina (Dakota Fanning) se perde enquanto cumpre o trabalho de entregar um pássaro do pet shop em que trabalha. Lá, encontra três pessoas que habitam um cubículo: Ciara (Georgina Campbell), Madeline (Olwen Fouéré) e Daniel (Oliver Finnegan). Elas não se arriscam a tentar sair da floresta, pois se não conseguirem até que caia a noite, serão mortos por seres estranhos chamados de observadores. Ademais, durante a noite, elas precisam se expor atrás do vidro que forma uma das paredes do cubículo, para que esses seres as observem.
No entanto, a recém-chegada Mina não está disposta a aguentar essa incômoda situação similar a um reality show no estilo Big Brother (fitas de videocassete deixadas no local reforçam essa semelhança). Passado algum tempo, ela quebra as regras de segurança impostas pela mais experiente do grupo, Madeline, e coloca todos em risco.
Já o longa não foge à regra de revelar as criaturas gradativamente. No início, apenas um borrão que atravessa horizontalmente a tela. Depois, um detalhe da mão e silhuetas disformes. Até que, por final, as figuras ganham a forma completa, inclusive em close-ups. Na fase derradeira, elas já interagem com os humanos. O processo, comum ao repertório de M. Night Shyamalan, contribui para que seus filmes não apostem tanto no terror, e sim no clima fantástico como um todo.
A ideia de sempre abrir novas possibilidades para algo novo faz parte desse jogo. A trama vai se abrindo como um descascar de cebola, com camadas cada vez mais surpreendentes. Nesse sentido, Os Observadores cumpre a função de deixar o espectador desconfiado sobre qual será o derradeiro fim dessas revelações.
Hitchcock, Shyamalan, Shyamalan
Logo no início de sua carreira, em O Sexto Sentido (1999), M. Night Shyamalan foi exaltado como um ótimo discípulo de Alfred Hitchcock. Da mesma forma, Ishana Shyamalan segue esse caminho do mestre do suspense no uso de referências, duas delas bem evidentes em Os Observadores. Para começar, tem o pássaro na gaiola que a protagonista, empregada do pet shop, precisa entregar, imagem que remete a Tippi Hedren em Os Pássaros (1963). Fora isso, a personagem Madeleine leva o mesmo nome da mulher que James Stewart quer transformar na pessoa amada no filme Um Corpo Que Cai (1958), e ainda entrando numa situação semelhante.
Porém, Ishana Shyamalan não é brutal como Hitchcock costumava ser (vide Psicose [1960]) para chocar o público sem piedade. Por isso, o desfecho de Os Observadores, após o falso final, soa aquém do que deveria ser. A trama apresenta novidades surpreendentes, mas o que está nas telas não aproveita esses momentos. Tome, como exemplo, o trecho em que Mina encontra uma fotografia com uma revelação devastadora, mas sua reação parece morna. A conclusão, igualmente, opta por uma solução harmônica, quando uma possibilidade mais sinistra provocaria um impacto mais marcante para o espectador sair da sala de cinema aturdido.
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Ficha técnica:
Os Observadores | The Watchers | 2024 | 102 min | EUA | Direção: Ishana Shyamalan | Roteiro: Ishana Shyamalan | Elenco: Dakota Fanning, Georgina Campbell, Olwen Fouéré, Oliver Finnegan, Alistair Brammer, John Lynch, Siobhan Hewlett, Hannah Dargan, Emily Dargan.
Distribuição: Warner Bros.
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