A sequência de Os Incompatíveis (De l’autre côté du périph, 2012) conta com a mesma dupla de atores principais, Omar Sy e Laurent Lafitte, mas com o diretor Louis Leterrier no lugar de David Charhon.
O que é bom, pois Leterrier tem mais bagagem, fez Carga Explosiva (The Transporter, 2002) e Carga Explosiva 2 (Transporter 2, 2005), ambos com Jason Statham; Cão de Briga (Unleashed, 2005), com Jet Li; O Incrível Hulk (The Incredible Hulk, 2008), aquele com Edward Norton; e Truque de Mestre (Now You See Me, 2013), para citar seus bons filmes de ação “sérios”.
Mas, quando misturou comédia e ação, em Irmão de Espião (Grimbsy, 2016), com Sacha Baron Cohen, o resultado não foi tão animador. É esse o gênero de Os Opostos Sempre Se Atraem, com a diferença que a ação está acima da comédia. A fórmula repete a dupla de policiais com personalidades antagônicas, como em 48 Horas (48 Hrs., 1982), Bad Boys (1995) e A Hora do Rush (Rush Hour, 1998).
Risos e pancadaria
Em Os Opostos Sempre Se Atraem, Ousmane Diakité (Osmar Sy) avançou na carreira policial desde o último encontro com François Monge (Laurent Lafitte), que continua num cargo inferior. Mas, os dois possuem seus defeitos. Ousmane perde a paciência rápido e logo parte para a porrada. Já François tem a autoestima inflamada e quer conquistar todas as mulheres que encontra. Então, quando um corpo dividido ao meio (sim, tem um pouco de gore nesse filme!) surge num trem que para em Paris, a investigação leva os dois para uma cidade do interior inclinada à extrema direita.
As melhores piadas estão nos diálogos provocativos entre Ousmane e François, sempre se confrontando. Mas quando apelam para o pastelão, nem sempre o humor funciona. Como, por exemplo, quando, em duas cenas, eles tentam passar juntos pela porta e ficam entalados.
Em relação à ação, o diretor insere vários efeitos modernos, como trechos acelerados e a visualização do crime conforme Ousmane e a policial local Alice (Izïa Higelin) deduzem diante das pistas. Há um uso exagerado de tomadas rápidas filmadas por um drone, o que está ficando bem batido nos filmes atuais. Mas as lutas, a maioria protagonizada por Omar Sy, são bem elaboradas e conseguem empolgar. No entanto, ficam algumas ressalvas para o embate final, que não se decide entre ingenuidade (os parafusos que caem no chão e acertam os inimigos) e o gore (a cabeça decepada).
Divertido e sério
Enfim, o resultado é positivo. Os bons atores principais sustentam o tom cômico e o diretor garante a ação. Aliás, além de divertir, Os Opostos Sempre Se Atraem ainda alfineta a extrema direita, uma tendência dos filmes franceses na era Macron – vide A Fratura (La Fracture, 2021). Sobre isso, o diretor Louis Leterrier conclui: “A pequena – fictícia – cidade onde o filme é ambientado é um personagem por si só. É uma cidade do interior, emblemática de um personagem como o prefeito Brunner: populista, patriótica e xenófoba.”
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Ficha técnica:
Os Opostos Sempre Se Atraem | Loin du périph | 2022 | 119 min | França | Direção: Louis Leterrier | Roteiro: Stéphane Kazandjian | Elenco: Omar Sy, Laurent Lafitte, Izïa Higelin, Dmitri Storoge, Léopold Bara, Caroline Mathieu, Islam Moawad, Luka Quinn, Jean-Louis Tilburg.
Distribuição: Netflix.