Os Últimos Embalos da Disco
aborda o cenário da disco com um olhar revisionista, permitido pelo distanciamento temporal de duas décadas.
A estória se passa no início dos anos 1980, em Nova York. Acompanhamos Alice e Charlotte, interpretadas por Chloë Sevigny e Kate Beckinsale, duas assistentes em uma editora de livros que dividem um apartamento pequeno. À noite, se divertem em uma discoteca com acesso seletivo, onde dançam e buscam novos relacionamentos. Charlotte é liberal e racional com seus parceiros. Alice é mais recatada, e quando tenta ser mais arrojada, acaba dando a impressão de ser uma depravada. Os rapazes que orbitam ao redor delas trocam posições entre amantes, amigos e namorados.
Enquanto isso, todos lidam com o fechamento do clube onde costumam ir. O ministério público encontra irregularidades financeiras no negócio e o seu dono é flagrado com posse de drogas. Esse recorte registra o fim da era da disco, ilustrado no filme também com imagens de arquivo de LPs de vinil de disco sendo destruídos em uma manifestação e pela agressão de um dos personagens por opositores desse gênero musical.
Hedonismo em cheque
O hedonismo dos apreciadores da disco se choca com a crescente filosofia yuppie que surge no início dos anos 1980. Enquanto os frequentadores da cena dançante se divertem sem compromissos durante a madrugada toda, os jovens profissionais urbanos se dedicam a construir uma carreira de sucesso. Por isso, o filme mostra que os yuppies não são bem-vindos aos clubes, mas de uma forma revisionista, pois essa segmentação não era absoluta. O personagem Jimmy (Mackenzie Astin) é um frequentador que se revolta contra essa distinção, pois, apesar de ser um publicitário, preocupado com sua carreira, ele também adora se divertir à noite nas discotecas.
O revisionismo também permite uma reflexão sobre o que os personagens predizem sobre como a disco será vista no futuro. O personagem Josh declara que não deseja que a disco seja lembrada pelos estereótipos das poses de John Travolta no filme Os Embalos de Sábado à Noite, ou pelas roupas de poliéster e sapatos plataforma. De fato, o título nacional Os Últimos Embalos da Disco confirma que essa referência marcou a disco. Porém, a trilha sonora do filme que embala um hit após o outro mostra que, como gênero musical, a disco se tornou valorizada.
O diretor e roteirista Whit Stillman fecha com Os Últimos Embalos da Disco uma trilogia sobre a juventude nos anos 1980, composta também por seus dois primeiros filmes: Metropolitan (1990) e Barcelona (1994).
Frieza
Contudo, o retrato em Os Últimos Embalos da Disco peca por ser frio demais. Ao mesmo tempo que não investe na nostalgia, pulveriza a atenção das duas protagonistas em muitos relatos curtos e superficiais de personagens secundários. O filme apresenta, por exemplo, a outra colega de quarto Holly (Tara Subkoff) e Nina (Jennifer Beals), a ex-namorada de Des (Chris Eigeman), surgem algumas vezes na tela acrescentando muito pouco à estória. Como resultado, esses trechos, acumulados, roubam um precioso tempo que poderia ser dedicado a um aprofundamento maior de Alice e Charlotte.
Assim, Os Últimos Embalos da Disco perde a oportunidade de desenvolver suas protagonistas, a princípio interessante. Mas, o filme se salva pelas músicas e por apresentar um panorama sem caricaturas da era disco.
Ficha técnica:
Os Últimos Embalos da Disco (The Last Days of Disco, 1998)
EUA. 113 min. Dir/Rot: Whit Stillman. Elenco: Chloë Sevigny, Kate Beckinsale, Chris Eigeman, Mackenzie Astin, Matt Keeslar, Robert Sean Leonard, Jennifer Beals, Matt Ross, Tara Subkoff, Burr Steers, David Thornton, Jaid Barrymore, Sonsee Neu, Edoardo Ballerini, Scott Beehner, Cate Smit.