Pelasegunda vez em sua carreira, Michael Keaton dirige e estrela um filme. Fez isso em Má Companhia (The Merry Gentleman, 2008), e agora repete a dose em Pacto de Redenção. Munido do inteligente roteiro de Gregory Poirier, Keaton constrói um drama policial que emociona pela triste situação do protagonista e intriga com sua estratégia genial.
O enredo é muito bem costurado. John Knox (Michael Keaton) descobre que sofre da doença Creutzfeldt-Jakob e, em poucas semanas, suas funções mentais se deteriorarão completamente. Portanto, tem pouco tempo para reunir o dinheiro que acumulou trabalhando como matador de aluguel e distribuir para três pessoas importantes em sua vida.
Mas, problemas surgem nesse caminho. Por conta da doença, retratada em rápidas inserções de tela preta, ele se confunde na sua última missão, comete um erro fatal e larga a cena do crime descuidada, o que não é de seu feitio. Além disso, aparece na porta de sua casa, pedindo ajuda, o seu filho Miles (James Marsden), com quem não fala há anos, desde que ele descobriu a profissão do pai. Porém, é justamente essa especialidade que leva Miles a buscá-lo em desespero. Acontece que ele acaba de assassinar um pedófilo que engravidou a sua filha adolescente.
Três linhas bem costuradas
A trama conduz muito bem essas três linhas narrativas. A doença de Knox progride rapidamente, o que serve para justificar a sua urgência em executar seu plano e para fundamentar os erros que ele comete nessa jornada crepuscular. O fracasso do último trabalho tem a função principal de colocar nesse cenário a esperta detetive Emily Ikari (Suzy Nakamura), que é a personagem mais interessante do filme, sem desmerecer os outros. Perspicaz e durona, ela se impõe no ambiente masculino da delegacia – e ainda é humanizada num rápido plano quase no fim do filme. Pois ela acaba investigando esses dois crimes que envolvem John Knox.
No caso do assassinato praticado por Miles, o espectador fica extremamente intrigado até o enredo revelar se Knox está ajudando ou prejudicando o seu filho. A resposta desvenda um esquema engenhoso executado à perfeição – a única forma de esse plano dar certo, revela Xavier Crane, o amigo de Knox interpretado por Al Pacino. Da mesma forma, cria-se uma dúvida a respeito do caráter da personagem de Joanna Kulig.
Keaton da direção
Como diretor, Michael Keaton vai além do academicismo. Usa vários planos longos, alguns próximos a planos-sequências, a exemplo da cena em que a câmera acompanha Knox desde a porta da academia de dança até o sofá onde está Al Pacino, em sua primeira aparição no filme. Mas não deixa também de filmar diversos planos de ângulos diferentes para dar ritmo às sequências. Por outro lado, sabe baixar o tom e inserir o som de um saxofone tocando jazz para os momentos de melancolia do protagonista. Ao ilustrar os sintomas da doença, se aproxima do ótimo Meu Pai (The Father, 2020), de Florian Zeller, no qual Anthony Hopkins interpreta um homem com Alzheimer.
Pacto de Redenção, assim, supera as expectativas que se pode ter de um filme dirigido por um ator famoso que raramente se arrisca nessa função. É uma obra forte no drama e no suspense policial, construído a partir de um raro roteiro engenhoso.
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Ficha técnica:
Pacto de Redenção | Knox Goes Away | 2023 | 114 min. | EUA | Direção: Michael Keaton | Roteiro: Gregory Poirier | Elenco: Michael Keaton, James Marsden, Al Pacino, Joanna Kulig, Suzy Nakamura, Marcia Gay Harden, John Hoogenakker, Lela Loren, Sasha Neboga, Jay Paulson, Morgan Bastin.
Distribuição: Diamond Films.