Palavras ao Vento é um dos típicos melodramas que Douglas Sirk realizou para a Universal nos anos 1950. O filme possui praticamente todas as qualidades desse subgênero, que era muito popular, mas considerado apelativo.
A trama é um dos seus pontos fracos, pois soa pouco plausível. Principalmente no seu início. Mitch Wayne (Rock Hudson) conhece a secretária executiva Lucy Moore (Lauren Bacall) de um fornecedor da empresa de petróleo Hadley, para quem trabalha. Mitch a leva para uma reunião com seu chefe e melhor amigo, o herdeiro Kyle Hadley (Robert Stack). Imediatamente, os dois homens se apaixonam pela secretária.
Porém, o milionário aproveita suas posses para galantear a moça. Assim, a leva em seu jato particular para uma viagem, e compra vários presentes caros para ela. No entanto, ela se sente ofendida e resolve ir embora. Então, Kyle a pede em casamento e ela aceita. Em suma, o filme começa com uma história bem difícil de engolir.
No entanto, o dramalhão ainda nem começou. Após o casamento, conhecemos a outra herdeira da família Hadley. A caçula Marylee (Dorothy Malone) sempre amou Mitch, mas este a trata apenas como irmã. Por isso, ela sai com vários homens para saciar seus desejos sexuais. Na conservadora sociedade americana da época, ela logo é considerada uma ninfomaníaca, e causadora de problemas.
Por outro lado, Kyle descobre que possui poucas chances de conseguir engravidar sua esposa. E isso o leva de volta ao alcoolismo, vício que ele abandonara com o casamento. Apesar das baixas probabilidades, Lucy fica grávida. Porém, Kyle desconfia que o filho é de Mitch, e parte para uma solução drástica.
Outras características do melodrama
Se você achou essa trama rocambolesca, imagine, então, com uma trilha sonora exuberantemente dramática, ambientes luxuosos e gestos exagerados. Nesse último aspecto, vale citar a cena final, com Marylee chorando copiosamente, após perder o amor de Mitch definitivamente. Como consolo, ela abraça emblematicamente uma escultura de uma torre de petróleo, que ganha conotação fálica, ao mesmo tempo que simboliza seu destino como nova presidente da empresa da família.
Com tudo isso, temos um típico melodrama hollywoodiano.
Direção de Douglas Sirk
Por outro lado, o alemão Douglas Sirk é um diretor que sabe trabalhar esses elementos. Por isso, realizou ótimos melodramas, como Tudo o que o céu permite (1955) e Imitação da Vida (1959). E, mesmo quando não acerta em cheio, faz filmes acima da média, como este Palavras ao Vento.
Aqui, podemos destacar alguns bons momentos. Primeiro, o flash forward do prólogo, onde evidencia a força da natureza (o vento) como reflexo do clima dramático quando Kyle entra na casa com intenções de matar alguém. Para indicar que o filme voltará no tempo, o próprio vento move as páginas do calendário para trás, regredindo aproximadamente um ano.
Douglas Sirk também é hábil ao suspender o momento mais emocionante da história. Referimo-nos ao testemunho de Marylee no tribunal, pois o que ela dirá definirá se Mitch será acusado de assassinar Kyle ou não. Com isso, a cena ganha uma carga dramática imensa. Aliás, com uma interpretação marcante de Dorothy Malone, no papel que lhe deu um Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante.
Quanto a isso, Robert Stack também recebeu uma indicação ao Oscar. Com merecimento, pois os papéis secundários, de Kyle e Marylee, são muito mais interessantes do que os dos protagonistas Mitch e Lucy. Estes parecem bonzinhos demais para parecerem reais.
Enfim, Palavras ao Vento é prato cheio para quem curte melodramas, ou mesmo novelas televisivas. Para os demais, um filme bem dirigido com uma trama forçada.
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Ficha técnica:
Palavras ao Vento (Written on the Wind) 1956, EUA, 99 min. Direção: Douglas Sirk. Roteiro: George Zuckerman. Elenco: Rock Hudson, Lauren Bacall, Robert Stack, Dorothy Malone, Robert Keith, Grant Williams, Robert J. Wilke, Edward Platt, Harry Shannon.