Após iniciar a carreira com filmes de terror de extrema violência, como Quadrilha de Sádicos (The Hills Have Eyes, 1977), o diretor Wes Craven conquistou o sucesso de bilheteria com a mistura dessa violência com humor. Esse ponto de virada em sua carreira aconteceu com A Hora do Pesadelo (A Nightmare on Elm Street, 1984), quando criou o hoje icônico serial killer Fred Krueger. Em 1996, emplacou outro desses personagens, o Ghostface, em Pânico (Scream). Ao contrário do que aconteceu com a franquia anterior, Wes Craven dirigiu todas as três sequências de Pânico. Mas, após sua morte em 2015, um novo filme com Ghostface chegou ao cinema em 2022, com direção de Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett.
Começa o pânico
Pânico (1996) conversa diretamente com o fã de filmes de terror. E estabelece essa conexão logo em seu prólogo, quando o Ghostface assedia sua vítima, Casey (Drew Barrymore), pelo telefone, com um jogo de trivia sobre o esse gênero cinematográfico. O roteirista estreante Kevin Williamson insere perguntas sobre variados slashers, não apenas aos de Wes Craven. Além disso, brinca com a morte nos primeiros minutos do filme de um dos nomes mais famosos do elenco, como fez Alfred Hitchcock em Psicose (Psycho, 1960). Ademais, insere as cenas mais violentas nesse trecho, com as entranhas à mostra de uma das vítimas, o que não se repetiria mais ao longo do filme. É uma estratégia similar à famosa cena do chuveiro no filme de Hitchcock.
O pânico continua
Uma vez conquistado o público com essa esperta abertura, se inicia a trama principal. A próxima vítima potencial do Ghostface é Sidney (Neve Campbell), uma garota já traumatizada com a morte violenta da mãe há um ano. Além do suspense e dos sustos habituais com os ataques do assassino, a história investe no whodunit. Em outras palavras, quem é esse serial killer?
Na pequena cidade (fictícia) de Woodsboro, onde acontecem os crimes, as possibilidades não são muitas. As pistas surgem, mas parecem desnortear as investigações do delegado Dewey (David Arquette). O namorado de Sidney estava no local do primeiro ataque, mas não encontram nada que o incrimine. Por outro lado, a polícia não localiza o pai dela no hotel onde ele estaria hospedado em uma viagem de negócios. Além disso, alguns amigos da escola parecem suspeitos, como aquele que trabalha numa locadora e é fascinado por filmes de terror.
Nesse cenário, entra ainda um colorido irritante, personificado na repórter local Gale Weathers (Courteney Cox), bem como no seu minivestido verde neon em sua primeira aparição. Ela já é desafeta de Sidney, pois explora o sensacionalismo da morte da mãe dela. Agora, com os novos assassinatos bárbaros, Gale irrita ainda mais a protagonista. Porém, a personagem da ex-atriz de Friends apresentará uma inesperada virada na parte final da trama.
Identidade revelada (spoilers adiante)
Apesar das divertidas e numerosas referências a outros filmes, como o faxineiro da escola vestindo chapéu e blusa similares aos de Fred Krueger, o roteiro constrói com seriedade a identidade secreta do serial killer. Por isso, consegue surpreender com uma sacada genial: o Ghostface não é apenas uma pessoa, mas duas. Isso explica por que Sidney recebeu uma ligação do assassino enquanto seu namorado estava na prisão, e por que assassinatos acontecem enquanto esse rapaz possui um álibi. Ademais, o fato de os assassinos serem garotos explica, também, o motivo de o Ghostface não ser forte como o Jason ou o Fred Krueger. Aliás, em Pânico, o serial killer apanha bastante.
Pânico constrói o terror com um pouco de humor sem cair no pastiche, algo muito raro de se conseguir. De quebra, ainda surpreende na revelação do(s) assassino(s).
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Ficha técnica:
Pânico | Scream | 1996 | Estados Unidos | 111 min | Direção: Wes Craven | Roteiro: Kevin Williamson | Elenco: Neve Campbell, Courteney Cox, David Arquette, Skeet Ulrich, Drew Barrymore, Roger Jackson, Kevin Patrick Walls, David Booth, Carla Hatley, Lawrence Hecht, W. Earl Brown, Rose McGowan, Lois Saunders, Joseph Whipp, Matthew Lillard, Jamie Kennedy.
