Pânico (Scream, 2022) é o quinto filme dessa que é a franquia de terror mais regular do cinema. Afinal, até esse (provável) epílogo, todos os longas reuniram os mesmos artistas principais. Ou seja, o diretor Wes Craven, e os atores principais Neve Campbell, Courteney Cox e David Arquette. Porém, Craven morreu em 2015, então, o anúncio desse novo capítulo logo levantou receios se o padrão se manteria.
Para o lugar de Craven, escalaram a dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett. Mas, isso ainda manteve o receio, pois a produção anterior deles em longas consiste em um filme bom e outro ruim. Casamento Sangrento (Ready or Not, 2019) é tenso, repleto de reviravoltas e com muita violência extrema. No entanto, O Herdeiro do Diabo (Devil’s Due, 2014) parece uma estreia de cineastas ainda inexperientes. Pelo menos, o quinto Pânico caiu nas mãos de especialistas em terror, e eles demonstram no filme que veneram Wes Craven. Por isso, o resultado revela respeito ao criador.
E, Pânico é uma franquia feita por e para fãs de terror. Prova disso é o antológico prólogo do primeiro filme, no qual o serial killer Ghostface desafia a personagem de Drew Barrymore em um quiz sobre o gênero. Isso sem contar as demais referências sobre outras produções do terror ao longo da história, inclusive com um acentuado toque de humor. Por exemplo, quando um dos personagens explica a uma turma o que as próximas vítimas fazem antes de morrer num slasher. Aliás, o quarto filme, Pânico 4 (Scream 4, 2011) parece uma enciclopédia de verbetes sobre os vários subgêneros de terror.
Pânico V
Enfim, vamos ao quinto filme, que não se chama “Pânico 5”, mas simplesmente Pânico, mesmo título do primeiro, lançado em 1996. Qual o motivo? Provavelmente, uma estratégia de marketing, mas que, particularmente, consideramos ruim, pois confunde as buscas na internet e quando nos referimos aos filmes. No entanto, faz sentido se pensarmos que esta sequência, além de ser reverencial, possui um tom acentuado de nostalgia. Lembra até a estratégia usada na retomada da franquia Star Wars por J. J. Abrams em Star Wars: O Despertar da Força (Star Wars: Episode VII – The Force Awakens, 2015).
Por isso, Pânico (2022) começa logo com uma nova versão do prólogo do original, desta vez com Tara Carpenter (Jenna Ortega) recebendo o telefonema do assassino com o quiz mortal. Ela sobrevive e vai parar num hospital, mas se torna uma vítima em potencial. Assim, sua irmã mais velha Sam (Melissa Berrera), que havia fugido de casa, revolve retornar para ajudá-la.
A volta do trio
Mas, o filme engata mesmo quando Sam busca ajuda de Dewey (David Arquette). Vivendo num trailer, o decadente ex-xerife assiste na televisão o programa da sua antiga namorada, Gale Weathers (Courteney Cox). Com a volta do Ghostface, ele avisa Sidney Prescott (Neve Campbell), por telefone. Pronto! Os três protagonistas originais entram na trama e Pânico (2022) ganha força até o seu desfecho, que acontece na famosa casa de Stuart (personagem do primeiro filme), onde aconteceu a cena final em 1996.
Esse trio de personagens originais continua carismático. Dewey no papel do sensível homem da lei (agora afastado), atrapalhado, mas eficiente quando precisa ser. Gail se transformou durante a franquia, se tornando cada vez menos ambiciosa e interesseira, principalmente a partir do quarto filme. Por isso, além de ela retornar para enfrentar o Ghostface em Woodsboro, ela finaliza sua participação na história declarando que agora escreverá um livro enaltecendo um dos envolvidos nesse crime. Já Sidney reforça sua fama como uma das mais cativantes “final girls” do slasher. Em outras palavras, a personagem que sobrevive nesse tipo de filme no qual o assassino mata todo mundo. Desta vez, ela confirma seu papel de heroína, ao sair de sua confortável vida em outra cidade, para reencontrar o vilão e acabar com esse mal.
Metalinguagem extrema (spoilers adiante)
Todos os filmes da franquia Pânico trabalham a metalinguagem. No primeiro, partindo do quiz sobre cinema de terror até brincadeiras sobre os clichês do gênero. Em todos os filmes, a citação de outros títulos, mesmo concorrentes, se torna recorrente. Neste, por exemplo, Tara afirma que O Babadook (The Babadook, 2014) é seu filme de terror preferido. No entanto, o que soa realmente ousado é inserir na história, a partir do segundo filme, de 1997, o fictício “Stab”, um filme inspirado nos crimes cometidos por Ghostface (ou seja, os acontecimentos do primeiro Pânico).
A mistura de gêneros representa outra qualidade da franquia. Neste filme, novamente o terror predomina, mas há lugar para a comédia, esta baseada nas brincadeiras com o gênero, mas sem descambar para a paródia. Com esse cuidado, o tom nunca deixa de ser assustador, e os crimes violentíssimos. Além disso, se mantem o ingrediente de mistério, o whodunit (“quem fez isso?”) para se descobrir quem é o assassino mascarado. Nesse quesito, a revelação de que os culpados são fãs obcecados pelo terror surge como outra esperta sacada para um filme, repetimos, feito por fãs para fãs do terror.
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Ficha técnica:
Pânico | Scream | 2022 | Estados Unidos | 114 min | Direção: Matt Bettinelli-Olpin, Tyler Gillett | Roteiro: James Vanderbilt, Guy Busick | Elenco: Neve Campbell, Courteney Cox, David Arquette, Marley Shelton, Melissa Barrera, Jenna Ortega, Dylan Minnette, Jack Quaid, Jasmin Savoy Brown, Sonia Ammar, Mikey Madison.
Distribuição: Paramount Pictures.