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Papillon (filme de 2017)
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Papillon

Avaliação:
7/10

7/10

Crítica | Ficha técnica

O livro autobiográfico de Henri “Papillon” Charrière ganha nova versão para o cinema, baseada no roteiro de Dalton Trumbo e Lorenzo Semple Jr. para o filme de 1973. Essa versão anterior contava com Steve McQueen e Dustin Hoffman no elenco. Agora, Charlie Hunnam (“Rei Arthur: A Lenda da Espada”) e Rami Malek (“Mr. Robot” e “Bohemian Rhapsody”) os substituem.

“Papillon” conta a história real do ladrão de joias que foi condenado por assassinato que não cometeu, uma armação do chefe de sua quadrilha de quem ele ousou roubar. Na época, nos anos 1930, os condenados a prisão perpétua na França cumpriam pena na Guiana Francesa, para onde Papillon (Charlie Hunnam) foi mandado. Preso, se aproxima do falsificador Louis Degas (Rami Malek) por interesse, porque sabe que ele tem dinheiro, oferecendo-lhe proteção.

O franzino Degas nega a princípio, mas depois que um prisioneiro é estripado para ser roubado, ele aceita a oferta. Nasce aí uma grande amizade que acompanhará as várias tentativas de fuga de Papillon. Mas, por isso, o transferem para uma solitária, onde sofre agressões, racionamento de comida, escuridão e isolamento. Papillon, porém, é forte fisicamente e resiliente, e nunca desiste de tentar escapar, nem mesmo quando o conduzem até a colônia penal da Ilha do Diabo.

Amizade

A amizade se sobressai como o tema universal mais valorizado no filme. Nesse sentido, Degas e Papillon trocam provas de lealdade mesmo em condições extremas, arriscando suas próprias vidas. Por exemplo, Papillon poderia delatar o amigo que subornou o guarda para receber um pedaço de coco além da parca porção de ração diária, mas prefere manter o segredo e sofrer as punições.

Além disso, em outras ocasiões, Papillon nunca deixa o amigo na mão, seja quando ele está ferido, ou quando chega uma tropa para prendê-los após uma fuga. Quando se separam definitivamente, os dois entendem que devem seguir caminhos diferentes, e não empatam um ao outro por motivos egoístas.

Ações inseridas cirurgicamente

No filme, os momentos de ação surgem sempre que se corre o risco de o drama se tornar monótono. Por exemplo, roubos, brigas, tiroteios, fugas. Apesar da variação das cenas, algumas apresentam falhas. De fato, a câmera na primeira luta na prisão está próxima demais, e o espectador não consegue entender o que está acontecendo. Esse defeito não se repete nas outras cenas de luta. Porém, o que incomoda é a pegada fantasiosa demais para um relato baseado em fatos reais.

Afinal, Papillon parece ter força sobre humana. Ele vence qualquer adversário na porrada, aguenta as torturas e as condições duras da solitária. Adicionalmente, escapa dos tiros dos guardas da prisão, bem como sobrevive a um mergulho do alto das rochas para o mar. E, ainda por cima, consegue fugir do local em que esfaqueia um prisioneiro sem que ninguém desconfie dele.

Como resultado, mesmo com duas horas e treze minutos de duração, tem-se a impressão que o filme foi cortado para que não atingisse um tempo ainda maior. Afinal, na solitária, Papillon recebe um castigo por ter feito muito barulho e por ter “pensado que poderia voar”, uma cena incompreensível porque não vimos nada na tela que justificasse essas acusações. Por outro lado, a diminuição da duração extensa poderia vir da eliminação de parte de outra sequência, aquela do delírio de Papillon, longa demais.

Cena brutal no início

O diretor dinamarquês Michael Noer repete Alfred Hitchcock ao inserir uma cena brutal na primeira parte do filme, quando as tripas de um prisioneiro são colocadas para fora para roubar o dinheiro que ali se encontrava. Em outras palavras, o impacto dessa violência é suficiente para manter a tensão no restante da estória, sem necessidade de colocar na tela. Por exemplo, sabemos que Degas guardava dinheiro em um pequeno tubo dentro de seu próprio ânus, mas se evita explicitar isso em imagens.

Na versão de 1973, é famosa a cena em que Papillon come baratas para sobreviver, mas isso não está nessa adaptação nova. E, esse cuidado em não chocar acaba minando um pouco da emoção. Isso fica claro por atenuar a experiência de Papillon na solitária, o que distancia o espectador da agonia que ele sofreu.

Como contraponto a favor de induzir a imersão do espectador na prisão da Guiana Francesa, a edição de som e a direção de arte merecem elogios. Os sons de pássaros, de ruídos da prisão cavernosa, dos tiros, tudo contribui, em som surround, para posicionar espacialmente o espectador no local onde a história se passa. E as fotos reais exibidas nos créditos finais confirmam a fidelidade do trabalho da direção de arte, que reproduziu com perfeição o presídio.

Denúncia e entretenimento

“Papillon” possui a árdua missão de convencer o espectador a torcer pelo anti-herói. Afinal, o protagonista é um ladrão de joias que, para piorar, quis dar um golpe no chefe. Depois, na prisão, ele ainda quer desrespeitar as leis, tentando a fuga. Portanto, a única justificativa moral para o público estar a seu favor é o tratamento desumano nessas prisões. Porém, o filme desperdiça a oportunidade de tomar esse motivo como o propósito de Papillon. Isso endossaria sua obstinação em fugir, com a finalidade de denunciar os maus tratos assim que conseguisse escapar. Aliás, indiretamente, na realidade, o livro de Henri “Papillon” Carrière ajudou a fechar essas penitenciárias.

Por fim, seja como denúncia ou como entretenimento, essa nova versão de “Papillon” não merece ser desprezada.

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Ficha técnica:

Papillon (Papillon, 2017) EUA/Espanha/República Tcheca 133 min. Dir: Michael Noer. Rot: Aaron Guzikowski, Henri Charrière, Dalton Trumbo, Lorenzo Semple Jr.. Elenco: Charlie Hunnam, Rami Malek, Tommy Flanagan, Eve Hewson, Roland Møller, Michael Socha, Brian Vernel, Christopher Fairbank, Nina Senicar, Nick Kent, Ian Beattie, Yorick van Wageningen, Fernanda Diniz, Joel Basman, Dragan Micanovic, Mirjam Novak, Goran Navojec, Olja Hrustic, Andre Flynn, Lorena Andrea.

Imagem Filmes / California Filmes

Trailer:
Onde assistir:
Papillon (filme de 2017)
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