Parvin, longa de estreia do diretor Mirabbas Khosravinezhad, engrossa o coro dos filmes iranianos que retratam a dura vida das mulheres desse país.
No caso, uma jovem que ainda vive com os pais num bairro pobre. Além dela, moram juntos o preguiçoso irmão mais velho e a caçula ainda criança. De forma bem clara, e quase caricata, a mãe protege o rapaz, e o pai a moça. Como intruso, entra na história o namorado de Parvin, que é o vizinho que se chama Iman. Pelo que notamos, eles namoram em segredo, pois Parvin entra sorrateiramente na casa quando os pais e o irmão saem, e a menininha ainda está dormindo.
A sinopse do filme, presente na programação da 47ª Mostra, dá a entender que a narrativa criará emoção a partir do retorno dos pais e do irmão, forçando Iman a se esconder. A situação, de fato, acontece, mas o diretor Mirabbas Khosravinezhad não tenta provocar suspense. Na maior parte do tempo, Iman some da história, acuado lá no seu cantinho.
Patriarcalismo sedimentado
A ação paralela mais forte acontece na casa ao lado, justamente aquela da família de Iman. Lá explode uma briga feia e se ouve um tiro. A barulheira continua por todo o filme, e a notícia de uma tragédia fará Iman sair da casa. O longa termina assim, provando que a intenção dos realizadores não é uma história com começo, meio e fim, mas um recorte de algumas horas de um dia na vida da protagonista. Dessa forma, revelando a posição da mulher nessa sociedade, desde jovem.
Entre outras coisas, ela precisa cuidar da casa, enquanto os pais saem para trabalhar. O irmão, que não faz nada, exige que ela o sirva, desde o cigarro até o café da manhã. Da mesma maneira, a irmã caçula, ainda incapaz de assumir as tarefas da casa, também se sente no direito de pedir tudo para a irmã. A mãe, embora também seja mulher, apoia as demandas do filho, o que confirma o quão sedimentada está essa cultura patriarcal.
O filme se preocupa em nunca mostrar nada além dos muros da casa. Mesmo quando algum personagem sobe na escada para espiar a briga lá no vizinho, o que ele vê não aparece na tela. Com isso, provoca a impressão de hermetismo, de falta de perspectivas para mudar essa situação. A cena final, com Parvin sentada, sentindo-se desolada, é emblemática nesse sentido.
Elenco desafinado
Há um certo desconforto em relação à atuação do elenco. Os atores gritam demais, exceto Parvin, exagerando no tom para demonstrar o quanto brigam entre si e como a moça recebe ordens o tempo todo. Até mesmo a menina pequena assume um ar de enjoadinha para enfatizar esse inferno que é a vida da protagonista. Mas o pior de todos é mesmo o namorado, que chega repleto de gracinhas bobas. E até arrisca um breve número musical, cantando sem acompanhamento de instrumentos para a sua amada, até os dois dançarem na cozinha, numa solução forçada para revelar a paixão entre eles (que nem parece tão forte assim no restante do filme).
Por outro lado, a música não-diegética está ausente do filme. No lugar dela, serve como trilha sonora a barulheira na vizinhança. Mas o diretor resolve afrouxar essa regra, desnecessariamente. Talvez num anseio por sentimentalismo, ouve-se um dedilhar de violão na última cena. Parvin, assim, é válido como um constante protesto contra o patriarcalismo dominante no Irã, mas não se coloca entre os melhores exemplares desse tema.
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Ficha técnica:
Parvin | 2023 | Irã | 82 min | Direção e roteiro: Mirabbas Khosravinezhad | Elenco: Mohadeseh Ghorbani, Majid Nemati, Rahman Roshan Pour, Hadi Manavi Pour, Ferdos Bonyanian, Hosna Hassan Pour.
(obs: poster não oficial)