Passagem Secreta visa ocupar o carente nicho de produções brasileiras voltadas ao público pré-adolescente. Hoje, as produções derivadas de séries, como Detetives do Prédio Azul, dominam esse cenário.
Porém, a produção independente Passagem Secreta falha nesse intento. Sua trama não tem nada de inovador, e o roteiro ainda a sufoca com uma quantidade exagerada de cenas, com parte delas descartáveis, pois não movem a narrativa. A profusão de diálogos precisa contar a história, pois as imagens são incapazes de fazê-lo. Aliás, a direção não consegue construir o tom certo que cada cena exige. Por exemplo, a tia vai ao quarto da sobrinha e descobre que ela não está na cama, mas o filme não mostra a sua reação.
Os personagens são antipáticos e não cativam o público. A protagonista Alice, antes mesmo de surgir o seu duplo, já demonstra por si uma agressividade que afasta qualquer empatia por ela. Na primeira parte do filme, ainda acompanhamos, em paralelo à saída de Alice de sua casa em uma viagem misteriosa, as traquinagens do trio de amigos fanáticos por ficção científica. Mas, essas passagens que servem para apresentar os personagens dura um tempo demasiado, e a história só começa de fato quando os quatro se reúnem.
Enfim, como aspecto positivo, resta apenas o interessante trabalho da direção de arte que se inspira nos cenários expressionistas de O Gabinete do Dr. Caligari (Das Cabinet des Dr. Caligari, 1920). A referência se confirma com o nome do circo na trama de Passagem Secreta.
Ou seja, o público pré-adolescente ainda continua carente de produções brasileiras.
___________________________________________
Ficha técnica:
Passagem Secreta | 2020 | Brasil | 95 min | Direção: Rodrigo Grota | Roteiro: Roberta Takamatsu | Elenco: Fernando Alves Pinto, Luiza Quinteiro, Sofia Cornwell, Tiago Daniel, João Guilherme Ota, Arrigo Barnabé.
Distribuição: A2 Filmes.