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Pavor nos Bastidores (filme)
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Pavor nos Bastidores

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

Alfred Hitchcock confessou que tinha suas reservas em relação a “Pavor nos Bastidores”. Isso porque (spoilers à frente) o filme mostra ao espectador um flashback mentiroso. O diretor percebeu que, com isso, traía a confiança do espectador, fazendo-o crer em algo que não era verdade. Hoje, essa autocrítica soa severa demais, afinal, o público de hoje já foi exposto muitas vezes a esse recurso. Só para citar um exemplo de um filme analisado pelo Leitura Fílmica recentemente, vemos isso em “Jantar com Beatriz” (2017). Nesse filme, há uma cena em que a personagem de Selma Hayek assassina o homem que odeia, para logo depois o filme revelar que era apenas o que ela desejava fazer, e que ela não teve coragem de colocar em prática.

Podemos também relevar o suposto defeito apontado por Hitchcock porque após essa sequência inicial, “Pavor nos Bastidores” coloca Eve Gill (Jane Wyman) como a protagonista, e a estória assume o seu ponto de vista. Assim, o espectador se sentirá enganado, mas não mais que a personagem principal, potencializando a identificação com ela no momento em que a farsa é confessada por Cooper.

Na trama, que se passa em Londres, Eve aceitar ajudar Cooper, por quem é platonicamente apaixonada, a se livrar da acusação de ter assassinado o marido da atriz de teatro Charlotte Inwood (Marlene Dietrich), com quem ele tem um caso. Eve acaba trombando com o inspetor do caso, Smith, e ambos se sentem atraídos um pelo outro. Parece que Charlotte armou uma cilada para Cooper, mas outras revelações surgirão.

Retorno à Inglaterra

À parte o senão do próprio Hitchcock, o filme traz vários momentos de brilhantismo. E esta produção marca seu breve retorno a sua Inglaterra natal, quando dirigiu também “Sob o Signo de Capricórnio” (1949). Fiel ao seu conceito de que cinema deve ser mais visual que falado, várias sequências de “Pavor nos Bastidores” se destacam pela ausência de diálogos e o diretor prova que consegue comunicar o que se desenrola na estória sem fazer uso das palavras. Além disso, o silêncio ainda serve para enfatizar o grito feminino no local do crime. Para caracterizar o flashback, ele sobrepõe a imagem do rosto do personagem às cenas que mostram o que acontece.

A destreza com que Hitchcock maneja o espectador fica evidente na cena em que Cooper está em seu apartamento e a polícia toca a campainha. Quando ele se movimenta em direção à porta, em primeiro plano vemos o vestido ensanguentado de Charlotte, e, instintivamente, pensamos: “Não se esqueça de esconder o vestido!”. Porém, talvez a cena mais talentosa seja o travelling que mostra Cooper na rua, descendo do carro. Ele abre a porta da casa de Charlotte, entra e fecha-a (subentendido simplesmente com o efeito sonoro). Depois, sobe as escadas, em um plano sequência tecnicamente perfeito.

No final do segundo ato, há uma cena de suspense construída em cima de um número musical interpretado por Charlotte. Nela, um menino se dirige a ela carregando uma boneca com vestido manchado de sangue, para testar a reação da suspeita pelo crime. Aliás, Hitchcock retomaria essa ideia, de forma mais elaborada, em “O Homem Que Sabia Demais” (1956). Neste filme, novamente o ponto crucial do suspense seria a hora dos címbalos tocarem na apresentação da orquestra.

Melhor do que a avaliação de Hitchcock

Os toques de humor e o elenco perfeito completam os motivos que elevam a cotação deste filme. De fato, injustamente desprezado pelo seu próprio criador. Para começar, a mãe alienada de Eve e o charme do seu pai, vividos por Sybil Thorndike e Alastair Sim, invariavelmente produzem risos no espectador. Além disso, as caracterizações antagônicas de Jane Wyman, a garota comum boazinha, e de Marlene Dietrich, a femme fatale poderosa e ardilosa, provam o acerto no casting. Ademais, isso é corroborado ainda pela ótima atuação de Richard Todd, convincente como mocinho e também como vilão. Como não acreditar na ameaça que ele representa para Eve na sequência final, ainda mais com um belo toque expressionista jogando luzes nos olhos dos dois atores? Se Hitchcock ainda estivesse vivo, certamente consideraria uma nova opinião após rever “Pavor nos Bastidores”.


Onde assistir:
Pavor nos Bastidores (filme)
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