Antes de tudo, não há como ignorar que o diretor e roteirista de Pegando a Estrada, Panah Panahi, é filho de Jafar Panahi, um dos mais importantes nomes do cinema iraniano. Jafar Panahi dirigiu, entre outros, O Balão Branco (1995) e O Círculo (2000). Além disso, foi alvo de comoção mundial quando em dezembro de 2010, o governo o condenou a uma sentença de seis anos, além de banimento das suas atividades.
Em sua estreia como diretor e roteirista, Panah Panahi se desvincula do cinema de seu pai. Pegando a Estrada flerta com o cinema moderno, e apresenta trechos musicais e de fantasia. Essencialmente, a trama conta um episódio triste, mas o tom do filme alterna drama e comédia, assim conseguindo entreter o espectador ao mesmo tempo que provoca sua reflexão.
O filme não entrega tudo de bandeja para o público, e isso fica evidente desde a primeira sequência. Nela, a câmera passeia por um carro parado, onde um menino de seis anos brinca no teclado desenhado no gesso da perna de um homem, que dorme, assim como a mulher que se senta no banco do passageiro. A trilha sonora traz notas de piano que acompanham o brincar do garoto nas teclas, convidando o espectador a participar dessa fantasia. Então, chega um rapaz caminhando e observa esses três personagens. Somente quando os diálogos se iniciam é que compreendemos a situação.
Uma família em fuga
Os quatro compõem uma família. O pai está com a perna engessada, por isso, o filho mais velho está ao volante, mas sem muita experiência de estrada. Já o mais novo, um menino hiperativo, alegra, mas também irrita a turma. Pelo menos, ele anima a mãe, que está triste porque a viagem representa a despedida do filho. O motivo específico o filme não explicita. Porém, sabemos que os pais tiveram que vender a casa para que o filho possa se casar. Ou, talvez, esse casamento seja um eufemismo para uma razão mais perigosa. Afinal, percebemos que ele partirá com pessoas mascaradas, provavelmente cruzando a fronteira do país.
O ritmo de Pegando a Estrada não se deixa contaminar pela hiperatividade do filho mais novo. Pelo contrário, possui um andamento lento, em algumas cenas que ficam na memória após a projeção. Por exemplo, a longa conversa entre o pai e o filho que parte à beira de um riacho, filmada com câmera fixa e sem cortes. E, também, a despedida captada de longe, evitando expor demais o melodrama da cena, em que a mãe chora muito, enquanto o caçula está preso por uma corda para não fazer nenhuma besteira.
O diretor Panah Panahi alivia o peso do drama com algumas incursões musicais simples. Elas trazem um personagem (isoladamente, a mãe e os filhos) dublando músicas iranianas que tocam no rádio do carro. A dublagem não é perfeita, pois os personagens não são artistas, mas pessoas comuns que buscam um momento de alívio. Aliás, o pai e o caçula vivem um instante de fantasia, numa bela transição que os transporta da grama para as estrelas.
Equilíbrio
Em suma, Pegando a Estrada deixa a sensação de um filme equilibrado. As doses de emoção, o andamento da narrativa, os breves momentos musicais, enfim, tudo bem balanceado. Por um lado, é agradável, mas, por outro, evidencia uma falta de ousadia. Em especial, quanto ao motivo da fuga do rapaz que, provavelmente, entraria numa denúncia social ou política. E Panah Panahi não arrisca ter o mesmo destino de seu pai.
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Ficha técnica:
Pegando a Estrada | Hit the Road / Jaddeh Khaki | 2021 | Irã | 93 min | Direção e roteiro: Panah Panahi | Elenco: Hassan Madjooni, Pantea Panahiha, Rayan Sarlak, Amin Simiar.
Esse filme está na seleção da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.