Pequena Grande Vida (Downsizing) apresenta uma proposta disruptiva para acabar com os problemas ambientais. Que tal encolhermos as pessoas? Assim, elas consumiriam menos recursos naturais, produziriam menos lixo, necessitariam de um espaço menor para viver… Enfim, isso traria múltiplas vantagens para a humanidade e, consequentemente, para o planeta.
Essa brilhante ideia, que obviamente não é executável na vida real (pelo menos hoje), representa o trunfo do roteiro do filme, de autoria do diretor Alexander Payne junto com Jim Taylor. Porém, como transformá-la em uma narrativa interessante? Aí reside o problema de Pequena Grande Vida, pois a trama descamba para críticas sociais e um forçado arco do personagem principal.
Na verdade, a crítica social está no cerne do enredo, cujas engrenagens se movem pela força das implicações financeiras desse proposto encolhimento. Afinal, o que determina a decisão do protagonista Paul Safranek (Matt Damon) de optar por essa nova vida é a possibilidade de se tornar um milionário. Isso porque o dinheiro que ele tem hoje vale múltiplas vezes mais no mundo dos encolhidos. A lógica é simples: com aproximadamente 13 centímetros de altura, uma pequena migalha de pão equivale a um pão inteiro. E, isso vale para todo o resto, em especial a casa, que pode ser uma mansão, pois seu custo será igual ao de uma casinha de bonecas.
Caminho lento até a crítica social
Porém, o diretor Alexander Payne conduz essa história com um andamento lento, que funcionou em seus filmes anteriores Sideways: Entre Umas e Outras (2004) e Nebraska (2013). Aqui, ele minuciosamente filma várias cenas supérfluas, como a longa apresentação da descoberta dessa invenção, que constitui o prólogo; a montagem que passa por sete (!) países para indicar que a notícia se espalhou pelo mundo, até chegar ao protagonista; a longa sequência para mostrar como ele vive com a mãe doente; ou ainda os detalhes do procedimento do encolhimento de Paul; entre outros que tornam o filme insuportavelmente arrastado. Com isso, somente aos 40 minutos de filme, Paul chega a Leisureland, a cidade em miniatura.
O filme não se decide se quer ser engraçado ou dramático. A atuação caricaturada de Christoph Waltz, como o ganancioso comerciante Dusan Mirkovic, parece cômica. Porém, quando entra a personagem Ngoc Lan Tran (Hong Chau), uma ativista vietnamita que teve seus pés quebrados quando fugiu do país, surge uma séria crítica social. Mesmo nessa economia miniaturizada e controlada, há diferenças entre classes. Afinal, quem vai fazer a faxina das casas? Pois Ngoc Lan Tran é uma das trabalhadoras da limpeza, assim como outros cidadãos encolhidos, pertencentes às etnias latinas, africanas ou asiáticas. Esses não vivem dentro da Leisureland (que é uma analogia para os condomínios fechados), e sim em favelas verticais do lado de fora do ambiente protegido.
Sem saída
Até aí, apesar da lenta condução da narrativa, o filme faz sentido. No entanto, tendo apresentado esse problema de estratificação social, Pequena Grande Vida fica num beco sem saída. Para onde pode caminhar essa história? Então, a solução foi forçar um encontro com o inventor do encolhimento, que está aflito com a ainda crescente destruição da Terra, e resolve levar sua comunidade para um local seguro para assegurar que a humanidade não será extinta.
Mas, nada disso proporciona uma ação interessante para prender o público. A intenção principal, malconduzida, é fechar a mudança de comportamento do protagonista Paul. Nesse aspecto, essa experiência toda ensina para ele que sua vocação é ajudar as pessoas. Por isso, o vimos ajudando a mãe doente, depois trabalhando como terapeuta ocupacional e, assim, ajudando Ngoc. E, Paul só se dá conta disso quando entrega um prato de comida para um homem pobre e se sente bem por isso, na cena final do filme.
Pequena Grande Vida entra na lista de ideias brilhantes que não se transformam num bom filme. Aliás, a breve cena da alucinação na festa e o impressionante desenho de produção da gigantesca favela vertical nos fazem lembrar de Brazil: O Filme (1985). E imaginamos o que visionário Terry Gilliam realizaria a partir dessa ideia.
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Ficha técnica:
Pequena Grande Vida | Downsizing | 2017 | EUA | 135 min. | Direção: Alexander Payne | Roteiro: Alexander Payne, Jim Taylor. | Elenco: Matt Damon, Christoph Waltz, Hong Chau, Kristen Wiig, Rolf Lassgård, Ingjerd Egeberg, Udo Kier, Søren Pilmark, Jayne Houdyshell, Jason Sudeikis, Maribeth Monroe, Phil Reeves, James Van Der Beek, Alison J. Palmer.
Distribuição: Paramount Pictures