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Persuasão (filme)
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Persuasão

Avaliação:
5.5/10

5.5/10

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Crítica | Ficha técnica

O filme Persuasão (Persuasion, 2022) adapta o livro homônimo de Jane Austen. Não é a primeira vez, pois em 2007, a obra ganhou um filme para TV com Sally Hawkins no papel principal. Além disso, a BBC produziu uma minissérie em 1971 baseada nele, e a série Screen Two, também da BBC, adaptou-o em um de seus capítulos em 1995. Mas, quando nos lembramos das adaptações de “Orgulho e Preconceito”, “Razão e Sensibilidade” e “Emma”, podemos dizer que “Persuasão” é uma das Austens menos afortunadas. E esta produção da Netflix não consegue mudar esse seu fardo.

A direção do filme caiu nas mãos de Carrie Cracknell, uma experiente diretora de teatro que se aventura pela primeira vez à frente de um longa-metragem. Tecnicamente, Persuasão funciona, principalmente por conta das belas imagens obtidas pelo diretor de fotografia Joe Anderson, colaborador de Antonio Campos em Simon Assassino (Simon Killer, 2012), sua estreia na função, e em Christine (2016). Anderson revela talento para enquadramentos, como quando filma os personagens caminhando em fila única sobre um muro de pedra com o céu azul limpo em predominância. Ou, ao captar o famoso Royal Crescent na cidade inglesa Bath sob um ângulo perfeito.

Mas o que não engrena no filme são os dois personagens principais. Na verdade, a trama em si também não é muito forte. Anne (Dakota Johnson), a filha menos valorizada de uma família nobre, foi persuadida a desmanchar o noivado com Wentworth (Cosmo Jarvis), por ele ser um marinheiro sem dinheiro nem título de nobreza. Oito anos depois do rompimento, os dois continuam solteiros e se reencontram. Mas, agora, Wentworth é um capitão e a família de Anne está falida, e cada um tem um novo pretendente.

Confidências pedantes

O enredo é simples, sem muitas intrigas para atrapalhar. No máximo, existem segundas intenções do primo nobre e galanteador de Anne, o viúvo Sr. Elliot (Henry Golding), o personagem mais carismático do filme. Quanto ao restante da história, tudo segue sem surpresas. E a diretora Carrie Cracknell mete os pés pelas mãos ao tentar explicar demais o que está já evidente. Assim, ouvimos o pai de Anne desdenhar do cargo de capitão de Wentworth: “Para que serve um título se precisa ganhá-lo?”, para argumentar que a nobreza vem do berço. Mas já conhecemos o seu caráter porque Anne, dona da narração que explica tudo detalhadamente, explicou isso poucos momentos antes.

Aliás, a opção por colocar Anne nesse papel de condutora da história é o principal erro do filme. Ela explica demais, tanto que é possível acompanhar toda a trama só ouvindo os seus comentários. Além disso, o que irrita mais é que ela se dirige diretamente ao espectador, direcionando suas falas como se contasse fofocas para nós. Chega a ser pedante a forma como ela troca olhares furtivos em nossa direção, desviando o olhar da mise-en-scène. É uma busca constante de cumplicidade, que chega ao cúmulo de colocar duas piscadelas da personagem na cena final, como se uma já não fosse suficientemente apelativo. Contudo, mesmo assim, com tantas confidências, a personagem não se aprofunda e deixa no ar questionamentos sobre seu comportamento arredio nos reencontros com seu amor.

A omissão do amor

Por outro lado, a construção de Wentworth soa problemática. Há uma clara intenção de demonstrar que ele pertence a uma classe inferior à de Annie, mas precisava deixar o ator sempre com a barba por fazer? Ademais, Wentworth parece incapaz de ter uma conversa fluente com Anne; até seu amigo, também capitão, parece mais eloquente que ele. Como resultado, ele parece não estar à altura dela, e não conseguimos nos convencer de que os dois já se amaram tanto, e que esse sentimento ainda persiste. E essa omissão é fatal para um filme romântico.

Persuasão ainda força para parecer moderno. Por isso, uma personagem diz que “os homens gostam de explicar coisas”, referindo-se ao mansplaining. E, entre os protagonistas, personagens secundários e até extras, vemos um mix de etnias que tenta trazer a inclusão que a série Bridgerton explorou com maior frescor.

Enfim, ainda não é dessa vez que os apreciadores de Jane Austen poderão se deleitar com uma versão digna de “Persuasão”.


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