Também conhecido como “Entre a Lei e o Coração”, “Pobre Pete” é o nono filme de Alfred Hitchcock, seu último da fase muda. Aqui, o diretor se sai bem no gênero melodrama. E, comprova ser um profissional competente, dando amostras de sua ainda nascente genialidade.
A trama
A estória se passa na Ilha de Man, que se localiza entre o Reino Unido e a Irlanda do Norte. Philip (Malcolm Keen) retorna após se formar em Direito e reencontra seu amigo de infância Pete (Carl Brisson), que permaneceu na ilha para seguir a carreira de pescador. Pete apresenta Kate (Anny Ondra) ao seu amigo e lhe conta que deseja se casar com a moça. Porém, o pai de Kate não aceita o pedido, porque Pete não ganha muito dinheiro em sua profissão. Pete resolve, então, partir para a África, a fim de retornar rico, e Kate promete esperar pelo seu retorno. Enquanto Pete está viajando, Philip e Kate se aproximam e se apaixonam, mas nenhum deles quer trair a confiança de Pete.
Chega então a notícia da morte de Pete, e Kate e Philip podem se amar sem remorsos. A notícia estava errada, e quando o amigo retorna à ilha, Philip resolve esquecer o namoro e se dedicar à sua carreira de juiz, sem saber que Kate está grávida de seu filho.
Comunicação através da imagem
Dentro do cinema mudo, Hitchcock pôde exercitar o que pregaria posteriormente, quer seja, que a imagem pode comunicar sem a necessidade de diálogos ou narradores. Um belíssimo exemplo encontramos quando o relacionamento cada vez mais íntimo entre Kate e Philip é revelado através das folhas do diário pessoal da moça. No início, ela escreve sobre o Dr. Philip, que logo se torna Sr. Philip, Philip e, finalmente, ela o chama de Phil.
Outra sequência interessante em “Pobre Pete” é aquela quando a notícia (falsa) da morte de Pete é anunciada. A câmera mostra Philip assustado e triste, e ele se dirige a Kate para consolá-la. A jovem está de costas para a câmera, e quando se vira para encarar Philip, seu rosto está radiante, porque agora eles podem se amar livremente.
Merece destaque a fotografia de Jack E. Cox, o parceiro de Hitchcock na fase inglesa. Nas cenas na praia, Cox emoldura o casal de namorados utilizando as belas rochas naturais do local, o que reforça a ideia de como os dois jovens se sentem próximos. A influência que Hitchcock recebeu quando foi assistente no início de carreira na Alemanha fica estampada no visual expressionista de algumas imagens, como o quarto de Kate, com teto baixo e formas tortuosas, com muitas sombras.
Anny Ondra
A atriz Anny Ondra poderia ter se tornado a primeira heroína hitchcockiana. Loira e bela como Grace Kelly e Tippi Hedren, Ondra provavelmente repetiria muitas vezes a parceria com o diretor. Porém, no segundo filme juntos, “Chantagem e Confissão” (Blackmail, 1929), o som chegara ao cinema, e Ondra possuía um forte sotaque estrangeiro (ela era austro-húngara), e precisou ser dublada. Depois disso, construiu carreira no cinema alemão.
Enfim, “Pobre Pete” é um ótimo melodrama, dirigido com segurança e toques de genialidade. Além disso, contém críticas sociais em sua estória, como o materialismo do pai de Kate.
Ficha técnica:
Pobre Pete (The Manxman, 1929) Reino Unido, 110 min. Dir: Alfred Hitchcock. Rot: Eliot Stannard. Elenco: Anny Ondra, Carl Brisson, Malcolm Keen, Randle Ayrton, Clare Greet.
Assista: entrevista de Hitchcock no NFT (1969)