Da mesma forma que em seu filme anterior, Dreamland (2019), o diretor Miles Joris-Peyrafitte não consegue empolgar com a estória de Por Trás da Verdade (The Good Mother).
Este drama policial se passa em Albany, Nova York, em 2016, detalhe que não tem importância para o enredo, mas enunciado para dar a falsa impressão de que se baseia em acontecimentos reais. Marissa (Hilary Swank) tem dois filhos com vidas antagônicas. Toby (Jack Reynor) é um policial, enquanto seu irmão Michael se envolve com drogas.
A estória começa com a notícia do assassinato de Michael. Para ajudar na elucidação do crime, Marissa se aproxima de Paige (Olivia Cooke), a namorada de Michael que a mãe acusava de ter levado o filho ao vício. Mas, Paige está grávida, o que representa um motivo adicional para Marissa aceitar a antiga desafeta.
Elos frágeis
A corrente de eventos que esclarecem por que mataram Michael possui elos frágeis. A lógica soa tão certinha que só poderia acontecer mesmo em um roteiro de cinema.
Tudo começa quando Marissa leva Paige para a reunião de terapia em grupo que ela frequenta para superar o luto. Após o encontro, Paige insiste que Marissa dê uma carona para outra participante, Laurie (Karen Aldridge). Esta faz Melissa conhecer um posto de ajuda a drogados, onde ela reconhece o melhor amigo de seu filho, Ducky (Hopper Penn, filho de Robin Wright e Sean Penn). Após uma perseguição, Melissa diz que desconfia que ele causou a morte de Michael.
No dia seguinte, Paige vai até a casa de Ducky e o encontra morte. Ele se suicidou depois daquele encontro com Marissa. Paige, então, pega o celular do amigo morto e ao tentar ligar para o número que o chamou na noite do crime, descobre uma surpreendente verdade.
Surpreendente, claro, para Paige e Marissa, mas não para o expectador. Este, com certeza, já sacou antes essa surpresa. Por falta de tato, o diretor Miles Joris-Peyrafitte inadvertidamente entrega quem é o personagem envolvido no assassinato. Afinal, o filme sempre o coloca em situações suspeitas, ao evitar acompanhá-lo no desenrolar de certas cenas.
Um diretor com repertório, mas…
E olha que Joris-Peyrafitte tem repertório. O diretor sabe escolher os enquadramentos, como a câmera no alto (bird’s eye) no primeiro plano, que mostra Michael correndo através de um grande páteo; ou logo em seguida ao apresentar a protagonista Marissa, com sua face atrás de um copo e uma garrafa, já revelando seu alcoolismo. Além disso, tem outro momento ainda mais engenhoso, que coloca em um só enquadramento três ações simultâneas. No centro, emoldurado pela porta do banheiro, Toby atende Paige, que está atrás da parede mas também está refletida no espelho. Ao mesmo tempo, a tela da câmera de segurança mostra a esposa de Toby, Gina (Dilone), que está chegando em casa. É incrível como o diretor consegue contar esses três eventos em um só enquadramento.
Contudo, Joris-Peyrafitte cai em modismo. Por exemplo, insere um vômito como recurso para exteriorizar o nervosismo de um personagem. Mais grave ainda são as várias mensagens de WhatsApp que aparecem escritas na tela, e que são importantes demais para um expediente tão preguiçoso. E que induzem o espectador a nem prestar atenção nelas, o que se torna fatal para a compreensão da estória.
Esses deslizes técnicos, no entanto, não são determinantes para o desinteresse causado por Por Trás da Verdade. O problema principal se concentra na incapacidade do filme de emocionar, por conta do andamento trôpego do roteiro e do equívoco de entregar a surpresa da trama.
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Ficha técnica:
Por Trás da Verdade | The Good Mother | 2023 | 90 min | EUA | Direção: Miles Joris-Peyrafitte | Roteiro: Miles Joris-Peyrafitte, Madison Harrison | Elenco: Hilary Swank, Olivia Cooke, Jack Reynor, Hopper Penn, Norm Lewis, Karen Aldridge, Laurent Rejto, Frank Alfano, Cliff Ware, Mikayla Schaefer.
Distribuição: A2 Filmes.
Assista ao trailer aqui.