Presságio (La Corazonada) é o segundo filme da coleção “Crimes of the South”, baseada em obras de Florencia Etcheves. Neste caso, no livro “La Virgen en Tus Ojos”. O primeiro longa se chama Desaparecida (Perdida, 2018), e brevemente chegará Retorno (Pipa) em 2022. Todos possuem a protagonista Pipa (Luisana Lopilato), têm direção de Alejandro Montiel e estão na Netflix.
Pipa é uma policial e os filmes envolvem a investigação de um crime. Desaparecida trata de uma perda pessoal da personagem, ou seja, sua melhor amiga que sumiu misteriosamente. Presságio acontece antes, quando Pipa é ainda novata na corporação e enfrenta seus primeiros desafios. O enredo se divide em duas investigações paralelas: o assassinato de uma jovem de 19 anos e o possível envolvimento do inspetor Francisco Juanez (Joaquín Furriel) na morte do rapaz que o deixou viúvo.
O mistério do assassinato da jovem segue o padrão das tramas whodunit. Em outras palavras, apresenta vários suspeitos e acompanhamos as investigações para deduzir quem é o culpado. Algumas pistas são falsas, claro, mas no final tudo se conclui com uma solução redonda, mas sem muita novidade.
Já a outra investigação é mais complexa, não só para a personagem Pipa como para o filme também. Durante a história, ela alterna entre pensar que o seu colega e mentor é inocente ou culpado. Entra nessa linha narrativa uma improvável tentativa do irmão da vítima de chantagear o chefe de polícia, o que só atrapalha o enredo. Não conseguimos entender por que esse chantageador forçaria a culpa de Juanez. Afinal, não seria mais sensato ele também descobrir quem matou seu irmão? Além disso, o roteiro ainda inclui um descartável envolvimento sexual entre Pipa e Juanez, o que tampouco contribui para a história.
Intuição
Por outro lado, a personagem Pipa parece mais agradável aqui do que em Desaparecida. Talvez pelo fato de ela ainda ser uma caloura na polícia, ela agora traz uma hesitação e uma ingenuidade que acabam por conquistar o espectador. Porém, nada justifica que ela esteja menos abalada pelo desaparecimento da amiga do que no primeiro filme, cuja história é posterior.
E, embora Presságio traga muitas interpretações horríveis por parte de atores em papéis secundários (por exemplo, a avó da suspeita, e a mãe do garoto morto), o filme ganha com a atuação de Joaquín Furriel. Este é um ator fenomenal, que brilhou em O Patrão: Radiografia de um Crime (El patrón, radiografía de un crimen, 2014).
Presságio (tradução errada do que deveria ser “palpite, intuição”) soa um pouco melhor do que Desaparecida. A protagonista consegue ganhar a empatia do público e as investigações têm uma condução mais coerente. Longe de aparar todos os defeitos, pois, como vimos, estes ainda existem. Mas, pelo menos mantém o interesse. (Spoilers adiante) Enfim, para quem não entendeu o final, Juanez estava acobertando sua sogra, a verdadeira responsável pela morte do jovem, por vingança por este ter matado sua filha.
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Ficha técnica:
Presságio | La Corazonada | 2020 | 1h56 | Argentina | Direção: Alejandro Montiel | Roteiro: Florencia Etcheves, Mili Roque Pitti, Alejandro Montiel | Elenco: Luisana Lopilato, Joaquín Furriel, Rafael Ferro, Maite Lanata, Juan Manuel Guilera, Abel Ayala, Sebastián Mogordoy, Delfina Chaves, Marita Ballesteros.
Distribuição: Netflix.