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Propriedade Privada (filme)
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Propriedade Privada

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

O filme Propriedade Privada escancara a escondida disfuncionalidade de uma família.

Em muitos casos, o absurdo só fica evidente para quem vê de fora. É o que acontece com a divorciada Pascale. Afinal, ela cria sozinha seus dois filhos gêmeos Thierry e François, afastando a presença do marido Luc, que continua a prover as necessidades financeiras da família. Apesar de os jovens se encontrarem no início da idade adulta, eles ainda são totalmente dependentes da mãe. Por exemplo, ela precisa cozinhar para eles e até mesmo acordá-los para levá-los para a escola.

Mamãe

Se essa dependência, tal qual descrita, parece causar um pouco de estranheza, espere até testemunhar como o diretor do filme, Joachim Lafosse, transfere isso para a tela. Primeiro, ele acentua a excentricidade dessa dependência ao evidenciá-la fisicamente. Afinal, os atores que interpretam os filhos, Jérémie Renier e Yannick Renier, são enormes, contrastando com a figura mignon de Isabelle Huppert, que faz a mãe. Adicionalmente, suas feições são de adultos e não mais de adolescentes.

Além disso, Lafosse insiste em retratar o relacionamento em várias cenas que se passam durante as refeições. Dessa forma, ele evidencia o papel da mãe provendo o alimento para seus filhos. Essa relação do filho adulto que persiste em agir como criança remete ao absurdo da cena de Dente Canino (2009) onde Yorgos Lanthimos mostra um filho enorme indo dormir na cama junto com os pais.

E temos a impressão de que a mãe ainda pensa que os filhos são crianças. Por isso, não se constrange em ficar nua na presença deles. Adicionalmente, Thierry e François são extremamente desrespeitosos com Pascale. Nesse sentido, tiram sarro dela. Na verdade, parecem desprezá-la.

Como resultado do que é assim exposto visualmente, o espectador já fica na expectativa de uma crise. De fato, logo surge o conflito em Propriedade Privada. E isso acontece porque o namorado de Pascale exige que ela se torne mais livre, para construírem uma nova vida juntos.

Nem propriedade, nem privada

Ao comunicar que pretende vender a casa e abrir uma pousada, os filhos fazem troça e se opõem à ideia. Quando Pascale pede a intervenção do namorado para convencê-los, Thierry se torna agressivo. Afinal, se sentem como se ela fosse propriedade privada deles, como indica o título.

Então, ela resolve passar uns dias na casa de uma amiga, deixando os dois sozinhos. Porém, a imaturidade deles logo resulta numa tragédia. Por fim, fica escancarado que essa família não deu certo. Quando vemos Pascale e seu ex-marido recolhendo os vidros despedaçados da mesa de centro da sala onde aconteceu o acidente, Joachim Lafosse constrói uma metáfora dessa situação disfuncional.

Mas a cena mais pungente é aquela com a câmera fixa, com Thierry no primeiro plano. Aproveitando a profundidade de campo, vemos ao fundo, bem longe, o pai, uma ambulância e sua mãe sucessivamente entrando em sua casa, para socorrer o irmão. Enquanto tudo isso acontece, ele fica ali parado, choramingando e se escondendo, incapaz de assumir a responsabilidade como um pequeno garotinho.

Por fim, na última sequência, sentimos o vazio que resta nessa casa onde os relacionamentos se deterioraram. Através de planos consecutivos dos cômodos da casa, seguidos da câmera que se afasta dela pela rua, é como se o amor que ainda restava ali se perdesse para sempre.

Então, o silêncio dos créditos finais fecha os parênteses aberto com semelhante ausência de sons na abertura de Propriedade Privada. Assim, fica encerrado esse relato que fura a aparente alegria da superfície para se aprofundar numa dolorosa tristeza que ali se esconde.


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