Quando Fala o Coração é um filme bem moderno de Alfred Hitchcock, para a época de seu lançamento.
Primeiro, porque traz para as telas o ainda questionado tema da psicanálise. Além disso, coloca a personagem principal, interpretada por Ingrid Bergman, como uma profissional respeitada em um meio médico altamente masculinizado. Por fim, ainda introduz a arte surrealista de Salvador Dali na famosa sequência do sonho.
Talvez por isso o filme possa ser melhor apreciado hoje. Principalmente quanto à simpatia do público em relação à personagem de Ingrid Bergman, uma mulher independente demais para a conservadora sociedade americana. Com certeza, o fato de ela ir atrás do recém-chegado novo diretor do manicômio onde trabalha logo após tê-lo conhecido deve ter provocado antipatia pela personagem.
Aliás, a própria atriz sofreria com esse moralismo exagerado. Afinal, sua popularidade declinaria logo no ano seguinte, quando teve um caso com o diretor Roberto Rossellini durante as filmagens de Stromboli.
A trama
Na instituição de tratamento mental onde a Dra. Constance (Ingrid Bergman) trabalha, os funcionários residem no local. Então, um novo diretor, Dr. Edwardes (Gregory Peck), chega para substituir o antigo, que será forçado a se aposentar. Apesar da atração que Constance logo sente por Edwardes, ela nota que algo está estranho.
Ele sofre tonturas quando vê linhas paralelas, e sua assinatura não coincide com uma antiga registrada em um dos seus livros. Mesmo descobrindo que ele pode ter matado o verdadeiro Edwardes, ela resolve ajuda-lo a descobrir o que aconteceu. Dr. Edwardes, na verdade John Ballantyne, sofre por um trauma de infância e Constance precisa trata-lo. Dessa forma, poderá descobrir a verdade e desvendar o mistério sobre o desaparecimento do verdadeiro diretor.
Psicanálise
Em Quando Fala o Coração, Hitchcock sentiu a necessidade de inserir explicações básicas sobre psicanálise no roteiro, o que retarda o ritmo do filme, que apresenta diálogos em demasia. Além disso, subestima a inteligência do espectador ao mostrar duas vezes o conteúdo da carta que o Dr. Edwardes escreve para a Dra. Constance antes de ir embora do manicômio.
Por outro lado, acerta ao criar o suspense sobre essa mesma carta, quando Constance teme que os outros colegas a encontrem. Hitchcock consegue acelerar o ritmo do filme na colagem de cenas que relata rapidamente o processo de aprisionamento de Ballantyne, mostrando apenas a reação de Constance.
A estória é muito boa e o mistério não é fácil de se desvendar. Além disso, a cena que encerra a descoberta é genial, com uma inteligente sacada para mostrar um suicídio. No entanto, o maior acerto é que a bela sequência do sonho criada por Dali não é gratuita. Afinal, ela é essencial para Constance concluir o que aconteceu.
Pena que o excesso de didatismo impede que Quando Fala o Coração seria um filme empolgante do início ao fim.
Ficha técnica:
Quando Fala o Coração (Spellbound, 1945) EUA, 111 min. Dir: Alfred Hitchcock. Rot: Ben Hecht. Elenco: Ingrid Bergman, Gregory Peck, Michael Chekhov, Leo G. Carroll, Rhonda Fleming, John Emery, Norman Lloyd, Bill Goodwin, Steven Geray, Donald Curtis, Wallace Ford, Art Baker, Regis Toomey, Paul Harvey, Jacqueline deWitt.