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1917

Avaliação:
10/10

10/10

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Crítica | Ficha técnica

1917 surpreende por ser filmado como se fosse um só plano sequência. Principalmente porque essa opção se alinha com a sua narrativa, uma angustiante luta contra o tempo nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial.

Dois soldados, Blake (Dean-Charles Chapman) e Schofield (George MacKay), recebem a difícil missão de entregar uma mensagem urgente a um batalhão de 1.600 homens prestes a cair numa emboscada armada pelos inimigos alemães. A câmera mostra essa árdua jornada quase em tempo real, sempre acompanhando os protagonistas. Somente quando um deles desmaia depois de uma troca de tiros, a passagem do tempo é separada da sua continuidade.

Por um lado, o espectador vivencia a agonia desses jovens pelo uso do plano contínuo, que intensifica o esgotamento do prazo e o esforço físico e mental para suplantar os obstáculos que surgem. Adicionalmente, também pela ambientação desse terrível período da guerra mais sangrenta da história.

A direção de Sam Mendes

O diretor Sam Mendes, de Beleza Americana (1999), 007 – Operação Skyfall (2012) e 007 Contra Spectre (2015), trabalha bem a profundidade de campo para demonstrar o quão difícil é essa missão. A cada trecho percorrido, percebemos quanta distância os personagens precisam percorrer para chegar ao destino. Acrescente a isso a enorme quantidade de extras atuando no filme e a percepção do desespero em ultrapassar os soldados enfileirados nas trincheiras se torna quase concreta.

O terror da guerra está presente em vários momentos. Por exemplo, cadáveres de soldados surgem por todo o lado, nas trincheiras e na marcante cena no rio, amontoados junto aos galhos que criam um dique natural.

A escalação de dois atores pouco conhecidos para os papéis principais contribui para o realismo do filme. Os nomes famosos no elenco – Benedict Cumberbatch, Colin Firth e Andrew Scott (o Prof. Moriarty que contracenou com Cumberbatch na série Sherlock) – são necessários como atrativos de público, mas atuam aqui como coadjuvantes. Essa preocupação com o realismo também afasta o uso tão comum de um narrador no filme.

Um toque de surrealismo

Contudo, o filme 1917 não deixa de lado a possibilidade de empregar uma mise-en-scène que se aproxima do surreal, dando espaço para uma sequência belíssima. Quando cai a noite, Schofield caminha atordoado pela cidade francesa em ruínas, onde a escuridão é quebrada em clarões momentâneos provocados pelas bombas que atingem o local. É quase teatral, mas funciona perfeitamente para ilustrar a confusão mental do protagonista. Que, aliás, só será superada depois de uma breve cena onde ele contracena com as únicas personagens femininas do filme, responsáveis por lhe devolver a humanidade.

O filme pinta os nazistas como vilões, claramente, em cenas como a do piloto de avião atingido por tiros dos aliados. E, simbolicamente, porque os alemães matam as vacas e os bois dos campos que abandona, e o leite que Schofield recolhe em certo momento salvará a vida de um bebê. Ao mesmo tempo, os soldados ingleses são quase santificados, preocupam-se com as pessoas, mesmo os inimigos, e só lhe fazem mal quando não há outra saída. Os nazistas plantam a morte, e os ingleses, a vida.

Esperança

Apesar de o filme 1917 não apresentar um simples final feliz, existe esperança na estória. Afinal, os alemães derrubam as cerejeiras para deixar para trás um campo destruído, mas Schofield afirma que novas árvores renascerão das sementes que vão ao solo. E as flores brancas da cerejeira reaparecem no filme em uma cena mais à frente, no rio. Além disso, outro momento que planta esperança surge na música cantada por um soldado antes de ir para a batalha, e que significa outro breve instante de humanização do protagonista à beira da sucumbência.

1917 é um deslumbre técnico, um excepcional trabalho de direção de Sam Mendes em orquestrar todos os elementos para que formem um plano único. Mas não necessariamente original. O Filho de Saul, de László Nemes, também mantinha a câmera sempre colada ao personagem principal. Festim Diabólico (1948), de Alfred Hitchcock, e Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (2014), de Alejandro G. Iñárritu, também simularam o plano sequência no filme inteiro. E, se você quer um filme realmente filmado em um só plano sequência, temos Arca Russa (2002), de Alexandr Sokurov.

Essas referências, de nenhuma forma, reduzem a força de 1917, e, principalmente, do talento demonstrado por Sam Mendes.


1917 (filme)
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