Quando o Amor Chama (filme)
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Quando o Demônio Chama

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

O filme de terror sueco Quando o Demônio Chama (Andra Sidan, 2020) é uma assustadora fábula sobre medos reais.

Em sua essência, Quando o Demônio Chama traz uma variação do mito do bicho-papão. Mas, uma variação inteligente, que permite uma associação com a circunstância incômoda pela qual passam seus protagonistas. A protagonista é Shirin (Dilan Gwyn), namorada do viúvo Fredrik (Linus Wahlgren), que tem um filho, Lukas (Eddie Eriksson Dominguez), de cinco anos, fruto desse casamento anterior. Eles se mudam para a nova casa deles com grandes expectativas de formarem uma nova família. Porém, logo após chegarem ao imóvel, Lukas começa a ver um menino lá dentro.

O terror ganha força ainda na primeira parte, quando Fredrik precisa se ausentar durante uma semana por causa do trabalho. Aliás, esse gancho da trama surgiu, também, em O Chalé (The Lodge, 2019), que recomendamos, e em Apanhador de Pesadelos (Dreamkatcher, 2020), este mais fraco. Enfim, quando Lukas e Shirin ficam sozinhos na casa, as aparições se tornam mais intensas. Primeiro, apenas o garoto vê o outro menino, e acredita que pode fazer amizade com ele. No entanto, ele (e nós espectadores) descobrimos que uma entidade do mal quer sequestrar Lukas, num surpreendente jump scare, recurso que o filme não utiliza banalmente.

Direção consistente

Esse susto e, também, os momentos de tensão funcionam com eficiência para criar medo no público. Os aspectos técnicos são mais que competentes. Entre eles, o uso dos efeitos sonoros, da música, e, o que é raro, a figura da entidade do mal materializada. Além disso, a direção é consistente durante todo o filme. Valeu aqui a expertise da dupla Tord Danielsson e Oskar Mellander. Eles estreiam aqui no formato longa-metragem, mas que já assinaram juntos algumas séries dentro do universo fantástico.

Em Quando o Demônio Chama, impacta no clima o uso constante de cenas alongadas, com trechos até redundantes que um editor afobado poderia cortar fora se não bem instruído. Por exemplo, na primeira cena, após o prólogo, os três personagens principais conversam dentro do carro, a caminho do novo lar deles. A brincadeira que o menino Lukas propõe é longa, e parece desnecessária para o enredo. Porém, é essencial para transmitir a ideia de que Shirin ainda não criou um elo com o seu enteado. Ela não sabe como funciona esse jogo de palavras, e erra na sua vez.

Da mesma forma, o roteiro trabalha com a música que Lukas gosta de ouvir antes de dormir. Após a morte de sua mãe, o pai assume essa função, e Shirin não consegue ajudar, pois não conhece a música. No clímax do filme, a veremos cantando a canção para Lukas, revelando que os dois estão conectados como mãe e filho.

Cenário e outros recursos

A concepção da geografia do cenário também resulta funcional para construção do clima de terror. A casa nova é do tipo geminada, ligada parede a parede com o imóvel vizinho. E a casa do lado está abandonada, por isso em mau estado. Com isso, forma-se a ideia do duplo, como se esse fosse o lado do mal, para onde a entidade quer levar o menino. Aliás, o título original em sueco significa “outro lado”.

Isso explica por que o prólogo, que se passa nessa casa vizinha, possui um visual tão cinzento, típico do cinema do horror. É o mesmo visual do embate da parte final, sobre o qual falaremos a seguir. Para finalizar a questão espacial, merece elogios a ideia de conectar as duas casas através do sótão, que é único e dá acesso a ambas as moradias. Assim, o clichê do sótão assombrado ganha uma função crucial, e não soa forçado.

Por outro lado, temos a sequência em que Shirin instala uma babá eletrônica no quarto de Lukas. Assim, vê o menino demoníaco através do vídeo desse equipamento. Apesar de adicionar alguns momentos de suspense e terror, esse trecho parece apelativo. É uma tentativa barata de copiar as imagens de vídeo caseiro do sucesso Atividade Paranormal (Paranormal Activity, 2007). Não chega a ser um grande defeito do filme, mas essa emulação é desnecessária.

A fábula na parte final (Spoilers adiante)

A conclusão de Quando o Demônio Chama insere o aspecto da fábula na história. E isso o coloca muito acima da média dos filmes do gênero. Mesmo vítima da desconfiança do marido Fredrik, Shirin retorna para a casa para salvar Lukas. Quando a entidade leva o garoto para dentro do buraco na casa vizinha, a madrasta não pensa duas vezes e mergulha atrás, sem saber o que encontrará nesse lugar escuro. Lá, embaixo da casa, enfrenta o mal, agora materializado (num assustador monstro que altera sua forma convincentemente). Para triunfar sobre esse ser terrível, Shirin externa o seu amor pelo menino, daí o ingrediente da fábula. A moral do “amor que salva” ganha espaço nesse enredo de terror sem parecer piegas, mesmo quando Shirin canta a canção de ninar para trazer Lukas de volta à vida.

Para isso, o roteiro foi muito bem elaborado. Nesse sentido, não é à toa que vemos a foto que Shirin encontra, no meio do filme, de Lukas com sua mãe que está careca por causa da quimioterapia. Afinal, o fato de conhecermos como era a mãe do menino permite que a reconheçamos quando o monstro assume a sua forma. Com isso, o filme reforça a ideia de que todo o terror da história tem como fundamento o medo de Shirin em conseguir assumir o papel de mãe para Lukas, bem como do menino em relação à madrasta. Após enfrentarem e venceram o bicho papão, os dois provam que venceram esse medo. Então, podem, dali para a frente, seguir com uma verdadeira relação de mãe e filho.

Enfim, uma história muito bem amarrada e transformada num assustador filme nas mãos competentes de seus diretores. Fãs de terror merecem descobrir Quando o Demônio Chama.

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Ficha técnica:

Quando o Demônio Chama | Andra Sidan | 2020 | Suécia | 87 min | Direção e roteiro: Tord Danielsson, Oskar Mellander | Elenco: Dilan Gwyn, Linus Wahlgren, Eddie Eriksson Dominguez, Jakob Fahlstedt, Sander Falk, Janna Granström, Karin Holmberg, Troy James, Niklas Jarneheim.

Distribuição: A2 Filmes.

Trailer:
Onde assistir:
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