Queen & Slim é um road movie que retrata a fuga de um casal de negros depois que eles matam um abusivo policial branco em legítima defesa.
A hstória nos leva de Cleveland (Ohio) até a Flórida, numa jornada de seis dias. Slim (Daniel Kaluuya) e Queen (Jodie Turner-Smith) se conhecem pelo Tinder. No primeiro encontro, matam um policial branco em uma abordagem de rotina, depois de ele atirar e acertar de raspão a perna de Queen. Resolvem fugir porque a mulher, que é uma advogada, pensa que Slim será fatalmente condenado por assassinato. A viagem terá várias etapas, e culminará com um avião na Flórida que poderá transportá-los para Cuba.
No caminho, descobrem que uma câmera de segurança filmou o incidente e o vídeo vazou na internet. Agora, a comunidade negra os reconhece nas ruas, mas aprova a atitude, ainda mais porque as notícias divulgam que o policial morto já tinha antecedente de abordagem violenta contra negros. A idolatria aos “novos heróis” incita a protestos e confrontos com a polícia.
Essa recepção da população em relação aos protagonistas lembra Bonnie e Clyde: Uma Rajada de Balas (1967), com a diferença que esses dois eram essencialmente criminosos, assaltantes de bancos e assassinos a sangue frio. Já Queen e Slim só cometem o crime de atirar no policial porque temem pela própria vida.
Jornada transformadora
A jornada transforma os dois personagens principais. Queen aprende a ser menos elitista e começa a acreditar em deus. E Slim deixa de fazer barulho ao comer, bebe pela primeira vez e se torna mais ousado. O relacionamento entre os dois recém-conhecidos esquenta. Enquanto fazem sexo, vemos em paralelo um confronte entre policiais e negros que acabam em tragédia.
Esta contraposição de cenas provoca o espectador a decifrar o significado que a diretora Melina Matsoukas busca com esse recurso. A mesma provocação surge quando, em três momentos, ela constrói sequências onde o diálogo ou a narração não correspondem à imagem que vemos na tela. Causam estranhamento e retratam aqueles momentos em que nossa mente está longe do que acontece diante de nós. Talvez seja essa a intenção, mas com certeza conduzem à reflexão.
A trilha sonora é outro ponto alto. Recheada de canções de artistas negros, traz uma seleção que combina com o filme e ajuda a dar dinamismo ao seu ritmo.
Às vezes, os protagonistas de Queen & Slim irritam o espectador, ao agirem com imprudência, colocando em risco a capacidade de fugirem. O desfecho, porém, sendo resultado de uma traição por uma pessoa negra, revelam que os personagens estavam certos em curtir um pouco a vida.
Queen & Slim consegue divertir com sua aventura pelas estradas, ao mesmo tempo que lança a mensagem de protesto contra os tratamentos aos negros por policiais preconceituosos. A diretora de videoclipes e episódios de séries, Melina Matsoukas, mostra personalidade em sua estreia em longa-metragem.
Ficha técnica:
Queen & Slim (Queen & Slim, 2019) EUA/Canadá. Dir: Melina Matsoukas. Rot: Lena Waithe. Elenco: Daniel Kaluuya, Jodie Turner-Smith, Bokeem Woodbine, Chloë Sevigny, Flea, Sturgill Simpson, Indya Moore, Benito Martinez, Jahi Di’Allo Winston, Gralen Bryant Banks, Thom Gossom Jr., Melanie Halfkenny.
Universal Pictures