Sean Baker foi o grande vencedor do Oscar 2025. Levou para casa as estatuetas individuais de melhor diretor, roteirista e editor, e seu filme Anora ainda conquistou mais duas (de atriz, para Mikey Madison. e de melhor filme). Justifica-se, por isso, explorar sua filmografia, construída em cima de sua aura de cineasta de indie movies (filmes independentes americanos).
Essa característica indie estava mais evidente até o seu filme anterior, Red Rocket. Em Anora, Sean Baker dá um passo maior, passeia por diversas locações (geograficamente distantes) e por ambientes de luxo. Até então, em seus dois longa precedentes, Red Rocket e Projeto Flórida (2017), concentrara-se no estado americano do título desse último, e na classe baixa. Nesses três filmes, os protagonistas são trabalhadores da indústria do sexo, o que delimita o tema do preconceito que sofre essa classe, assunto que parece impactar fortemente o diretor.
Em Red Rocket, a ex-estrela do cinema pornô hollyoodiano Mikey (Simon Rex) retorna à sua cidade natal na Flórida para recomeçar a vida. Primeiro, precisa convencer sua esposa Lexi (Bree Elrod) a aceitá-lo de volta em sua casa, onde ela mora com a mãe Lil (Brenda Deiss). Após muito insistir, Mikey consegue se instalar ali, não por caridade ou amor, mas porque ele paga o aluguel com dinheiro que consegue vendendo drogas. Mas, malandrão incorrigível, ele seduz a atendente de uma loja de donuts – Strawberry (Suzanna Son), de 17 anos – e planeja lucrar com ela na indústria de filmes de sexo explícito. Vários outros personagens fascinantes preenchem o enredo.
A direção de Sean Baker
No estilo, Sean Baker está mais próximo de Projeto Flórida do que de Anora. A (ausência de) granulação na imagem, a câmera na mão, os enquadramentos fora do convencional, são alguns dos elementos que deixam o filme com cara de home movie. Além disso, essa filmagem propositalmente descuidada, ao mesmo tempo que se aproxima de um reality show, busca também a autenticidade, que é corroborada com o uso de atores desconhecidos e de locações sem maquiagem. Assim, na tela estão pessoas que poderiam ser realmente atores pornôs, e as ruas vazias com casas pobres possuem um pano de fundo nada bonito, as chaminés de refinarias (que lembram Cubatão e outras cidades construídas ao redor dessa economia). Vale dizer que, em contraste, Strawberry mora numa pequena casa toda bem pintada que parece de bonecas.
Por conduzir uma narrativa sobre pessoas comuns (assumindo, como quer Sean Baker, que os trabalhadores da indústria do sexo devem ser assim incluídas), o acidente que acontece na trama provoca uma inesperada surpresa. E o diretor acentua essa sensação ao usar a elipse para omitir o que aconteceu. É um exemplo de boa direção, assim como a cena em que o barulho do trem encobre a declaração que Mikey faz a Strawberry, ideia talvez influenciada por Duelo Silencioso (1949), de Akira Kurosawa.
Red Rocket está no mesmo patamar de Anora, mas é uma produção menor e atingiu um público mais restrito. Projeto Flórida se destaca como o melhor entre esses três filmes.
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Ficha técnica:
Red Rocket | 2021 | 130 min. | EUA | Direção: Sean Baker | Roteiro: Sean Baker, Chris Bergoch | Elenco: Simon Rex, Bree Elrod, Suzanna Son, Brenda Deiss, Ethan Darbone, Shih-Ching Tsou, Judy Hill, Brittney Rodriguez.
