Talvez o melhor filme do diretor Abel Ferreira, Rei de Nova York mostra a avalanche de violência gerada pela disputa pelo domínio do tráfico de drogas em Nova York no final da década de 1980.
Acima de tudo, Frank White, o personagem principal interpretado por Christopher Walken, é marcante. O filme começa mostrando-o saindo da prisão em alto estilo, numa limusine. Enquanto ele é conduzido pela cidade de Nova York, a trilha sonora traz uma música instrumental classuda. Como resultado, fica a impressão de que Frank é uma pessoa refinada e cool.
Em paralelo, duas cenas violentas de uma gangue atacando a outra. Quando esses grupos se encontram com Frank White, ele revela sua liderança e sua personalidade, num comportamento inesperado e alucinado. Aliás, típico das interpretações de Christopher Walken, sempre aparentando uma bomba prestes a explodir.
E enquanto Frank White ataca impiedosamente seus concorrentes, ele engata sua escalada rumo ao posto de rei das drogas de Nova York. De fato, pode-se encontrar semelhanças entre ele e do Alex de Laranja Mecânica, principalmente por sua atitude indiferente em relação à crueldade de seus atos. Em ambos, a violência inerente está na expressão do olhar.
Acima de tudo, o protagonista de Rei de Nova York se preocupa primordialmente com sua aparência. Nesse sentido, anda de limusine, se veste bem, frequenta lugares chiques. Quando anda de metrô, é para satisfazer seu fetiche sexual e seu ímpeto irracional de se colocar em perigo. E a ascensão ao poder de Frank White é tão meteórica quanto a sua queda.
Crítica aos yuppies
Adicionalmente, considerando a época em que Rei de Nova York foi realizado, no final da década de 1980, é possível uma leitura do filme como uma representação dos jovens yuppies materialistas. Afinal, eles também progrediam rapidamente se dedicando como loucos às suas carreiras profissionais. E muitos caíram por problemas psicológicos ou por crises nas bolsas de valores.
Assim, a conclusão do filme evoca esse destino inevitável. Por isso, Frank White esconde seu ferimento fatal numa sequência silenciosa que sufoca o grito de agonia que ele mantém para si. E o personagem caminha para seu fim ainda preocupado com sua aparência.
Destaques
Em outro aspecto, no elenco estão atores que se tornariam grandes, como o gangster Laurence Fishburne, e os policiais Wesley Snipes e David Caruso. Bem como Steve Buscemi num papel pequeno.
Além de tudo isso, em Rei de Nova York, destaca-se também o trabalho do diretor de fotografia Bojan Bazelli, que apresenta várias configurações diferentes, para marcar cada cena com um visual distinto. O alcance dessa diversidade vai desde o azul monocromático da festa onde acontece a emboscada até o escuro embate entre os personagens policiais de Caruso e Snipes contra o bandido de Fishburne. E tudo sob uma chuva torrencial à noite.
Por fim, Rei de Nova York é um retrato poderoso do materialismo do final da década de 1980. Violento, mas com grande estilo visual e ritmo empolgante. Como resultado, é mais visceral que a estreia de Abel Ferrara no brutal Sedução e Vingança.
Ficha técnica:
Rei de Nova York (King of New York) 1990, Itália/EUA/Reino Unido, 103 min. Dir: Abel Ferrara. Rot: Nicholas St. John. Elenco: Christopher Walken, David Caruso, Laurence Fishburne, Victor Argo, Wesley Snipes, Janet Julian, Joey Chin, Giancarlo Esposito, Paul Calderon, Steve Buscemi, Theresa Randle, Leonard L. Thomas, Roger Guenveur Smith, Carrie Nygren, Vanessa Angel, Erica Gimpel, Alonna Shaw, Ariane.