Resgate (Extraction) segue uma certa tendência de colocar coordenadores de dublês na direção de filmes de ação. É um plano de carreira que faz todo o sentido. O sujeito começa na indústria ralando como dublê, recebe promoção para coordenar a equipe, então passa a diretor de segunda unidade para cenas de ação. Por fim, se torna um diretor de cinema. Mas, só dá certo assim em alguns poucos casos. Um dos mais notórios é Chad Stahelski, da franquia John Wick.
A trama de Resgate fica em segundo plano. Pelo menos é o que parece, tamanha a sua simplicidade. Apesar disso, tem como responsável Joe Russo, codiretor dos dois últimos filmes dos Vingadores, entre outros da Marvel. Russo adapta aqui a graphic novel “Citadel”, de Ande Parks, de onde deve originar toda a brutalidade que vemos no filme. A história começa com o batido recurso do flash forward, que mostra o protagonista numa situação difícil. Então, em seguida o enredo começa a contar os eventos que levaram a essa enrascada, iniciando-se dois dias antes.
O enredo
Assim se resume o enredo. O chefão do tráfico das drogas de Bangladesh sequestra Ovi Mahajan (Rudhraksh Jaiswal), o filho de 14 anos do seu rival equivalente da Índia, que está preso. Não tem lógica que o bandido milionário faça esse sequestro para pedir um resgate em dinheiro, mas isso é apenas um dos vários detalhes que precisam ser relevados. Saju (Randeep Hooda), braço direito do traficante indiano, contrata um grupo de mercenários para resgatar o menino, sendo o principal deles Tyler Rake (Chris Hemsworth). Sem surpresa nenhuma, a trama revelará que Tyler é um ex-militar do Afeganistão.
A operação de resgate é, a princípio, um sucesso. Inclusive para o filme, pois rende a sua melhor sequência, filmada com rara destreza como se fosse uma longa tomada única. Justifica, assim, a contratação de Sam Hargrave, o coordenador de dublês que estreia na direção de longas. É fato que o uso da câmera perseguindo o protagonista lembre o que fazem os games, mas não dá para negar a competência em elaborar um trecho de ação tão repleto de variações de golpes e situações. Na conclusão, há outra boa cena de fuga, porém, sem a mesma ousadia.
O problema para Tyler é que, depois que ele resgata o menino, descobre que Saju não tem dinheiro suficiente para pagar pelo serviço, pois os bens do seu chefe estão bloqueados pela Justiça. O protagonista, então, toma atitudes de um anti-herói. Ao invés de entregar o menino para seu contratante inadimplente, prefere mantê-lo para depois poder exigir o restante do pagamento. No entanto, ele descobre que, para fugir do território do traficante bangladeshiano, terá que se unir a Saju.
Thor, drama e violência
Curiosamente, a apresentação do personagem de Chris Hemsworth se assemelha ao estado lamentável que estava o Thor, que ele também interpreta, em Vingadores: Ultimato (Avengers: Endgame, 2019). Ou seja, vivendo num barraco, sem trabalho e bêbado. Enfim, a pindaíba seria a desculpa para Tyler aceitar essa missão suicida. A justificativa para tal comportamento surge durante o filme, numa até que boa cena dramática na conversa sobre a intimidade dele e de Ovi.
Por fim, vale salientar a violência de Resgate, inclusive contra crianças, já que algumas fazem parte da gangue do traficante de Bangladesh. Parece que Joe Russo resolveu liberar o que tinha represado desse tom durante o seu tempo na Marvel. Quanto ao filme em si, fica acima da média na citada sequência em uma tomada longa, no restante mal e mal cumpre o protocolo.
___________________________________________
Ficha técnica:
Resgate (Extraction, 2020) EUA. 116 min. Dir: Sam Hargrave. Rot: Joe Russo. Elenco: Chris Hemsworth, Rudraksh Jaisawl, Randeep Hooda, Golshifteh Farahani, Pankaj Tripathi, Priyanshu Painyuli, David Harbour.