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Rashomon (filme)
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Rashomon

Avaliação:
10/10

10/10

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Crítica | Ficha técnica

Nos tempos do Japão feudal, o encontro entre um casal e um bandido na estrada resulta na morte do marido. Essa trama ordinária do filme “Rashomon” recebeu uma estrutura narrativa genial que, filmada com maestria, transformou-a em uma obra-prima do cinema.

A direção é do mais famoso diretor japonês de todos os tempos no Ocidente, Akira Kurosawa. O roteiro escrito por ele e o então estreante Shinobu Hashimoto leva para as telas três relatos diferentes dessa intriga. O bandido, a esposa e até o marido morto, cada um tem sua versão da estória. O filme não decide para o espectador qual o argumento verdadeiro, mas as três variações demonstram a decadência do espírito humano.

Na primeira, um lenhador, que supostamente encontrou o cadáver da vítima, coloca o bandido como o algoz impiedoso que estupra a mulher e assassina o marido. O segundo relato é do delinquente, que diz que o marido é que age mal, ao desprezar a mulher após ela ser violentada. Na terceira, obtida por uma médium que ouve o marido morto, a esposa é que é a vilã, que propõe fugir com o ele e o instiga a matar o marido.

O bandido afirma que travou um acirrado duelo de espadas com o marido, e assistimos aos dois guerreando bravamente como heróis. Já na versão da mulher, os dois homens estavam morrendo de medo de lutarem entre si. Então,, se não fosse por sua provocação, eles teriam evitado o combate. Nesse caso, os dois brigam como covardes.

Ousadia dos reflexos do sol

Não é só o roteiro que engrandece “Rashomon”. A fotografia de Kazuo Miyagawa acerta em suas ousadias. Ele utiliza espelhos para refletir o sol, um detalhe essencial para destacar close-ups em meio ao cenário natural da floresta densa da locação. Um exemplo marcante disso é o punhal cintilando na mata, instrumento para uma das versões do crime.

Além disso, os travellings, aparentemente impossíveis, acompanham os personagens na floresta, provando que a mata era fechada e o sol muito quente. Por isso, quando vemos o lenhador caminhando no boque, logo notamos que sua percepção do crime poderia estar afetada pela densidade da mata e pelo calor do local. Por isso, a câmera inova ao apontar as lentes diretamente para o sol.

Kurosawa optou por não mostrar o juiz, ou o delegado, nas sequências onde os personagens prestam seus depoimentos. O inusitado é que eles falam olhando para a câmera, onde estaria essa figura oculta. Dessa forma, provoca a sensação de que eles contam suas estórias para o espectador. Ou seja, reforçando a ideia de que, em “Rashomon”, é o espectador que deve decidir qual a estória mais convincente.

Valores humanos

Essencialmente, acima de escolher qual a estória verdadeira, o que está no cerne da mensagem poética do filme são os valores humanos. O assunto do assassinato surge numa conversa entre três homens que não se conhecem e casualmente se encontram nas ruínas de uma mansão abandonada chamada “Rashomon”, para se abrigarem da chuva. Os três discutem sobre a podridão das pessoas, que já não ligam para o próximo. Aliás, é uma opinião que os espectadores também poderiam compartilhar, ao ver as diferentes versões do crime.

Contudo, o final do filme não deixa isso acontecer. Acreditamos que há esperança para a humanidade, quando um dos homens decide acolher um bebê que abandonado no local. Em paralelo, a chuva torrencial parece lavar a sujeira da alma das pessoas, e é possível reformar o “Rashomon” em ruínas.

Vale a pena ver e rever

Não deixe de apreciar o filme por causa de alguma estranheza que as gargalhadas incômodas proferidas pelos atores Toshiro Mifune (o bandido) e Machiko Kyo (a esposa) podem provocar. De fato, para nossos olhos, elas soam extremamente exageradas e teatrais. Porém, deve-se levar em conta que estamos diante de uma cultura diferente, tanto pela geografia como pelo tempo.

Por isso, vale a pena assistir “Rashomon” mais de uma vez. Assim, você se habituará a esse estilo interpretativo e poderá apreciar plenamente a sua genialidade. Obra prima que ganhou o Leão de Ouro de Veneza, o 12º filme da carreira de Akira Kurosawa comprova definitivamente seu talento.


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