Rio Lobo é o último filme de Howard Hawks, um dos maiores diretores de cinema de todos os tempos. Só por isso já merece atenção – obrigatória, no caso de cinéfilos.
Na época de seu lançamento, o longa parecia obsoleto em meio às produções mais livres e ousadas da geração Nova Hollywood. No entanto, esse incômodo inexiste aos olhos de hoje, e esse faroeste soa tão forte quanto as melhores obras dos grandes cineastas – incluindo o próprio Hawks.
O primeiro terço de Rio Lobo, isolado, é um empolgante filme de assalto. Como nos melhores heist films, o enredo explica a priori ao espectador os pormenores do golpe. Então, a ação, quando começa, envolve o público que já está ávido para acompanhar se tudo corre tal como foi planejado. O que provoca estranhamento é que o filme não determina quem são os mocinhos e os bandidos. De um lado, o coronel Cord McNally (John Wayne) e os soldados ianques com seus uniformes azuis que protegem o ouro. Do outro, os assaltantes rebeldes sulistas de cinza, entre eles o capitão Pierre Cordona (Jorge Rivero) e o sargento Tuscarona Phillips (Christopher Mitchum).
E essa indefinição é essencial para amarrar o início da narrativa principal de Rio Lobo, que se desenrola a partir do fim da Guerra da Secessão. McNally, Cordona e Tuscarona se reencontram, mas não mais como inimigos, pois o que os colocava em conflito era a guerra, que acabou. A camaradagem, a honra e o respeito mútuos dão a largada para que a história do filme comece. Ou seja, com esse elemento típico de Hawks, que poderia ser selado com o termo usado em seu El Dorado (1966): “cortesia profissional”.
Começa a jornada
A trilha sonora se altera, e uma fanfarra grandiosa abre a jornada de McNally em busca de vingança contra os ianques traidores que causaram a morte de seu amigo. Para isso, conta com a ajuda dos ex-inimigos Cordona e Tuscarona, que ele reencontra na cidade de Rio Lobo. Soma-se a sua vendeta pessoal o problema, presente em vários faroestes, do latifundiário ganancioso que quer forçar os pioneiros a venderem as suas terras.
Em certo ponto da trama, parece que voltamos a Onde Começa o Inferno (Rio Bravo, 1959), pois os heróis se abrigam numa prisão com um dos vilões aprisionado. Ademais, como em El Dorado, um deles empunha um rifle com o cano serrado. Desta vez, o personagem de John Wayne conta com a ajuda de várias pessoas. Além dos coadjuvantes presentes desde o início, também moradores que são ex-soldados o apoiam para derrubar o latifundiário explorador.
Entre os moradores, estão três mulheres fortes e destemidas, que, ao invés de serem exploradas, utilizam o sexo para dominar os homens. Assim, temos Shasta (Jennifer O’Neill), par romântico de Cordona, e Maria (Susana Dosamantes), esposa de Tuscarona. E, também, Amelita (Sherry Lansing), que executa sua própria vingança contra o vilão que deformou o seu rosto. O McNally de John Wayne não se envolve com nenhuma das mulheres. Ele já está envelhecido, e é visto apenas como “confortável”, como diz Shasta.
Aliás, confortável devia estar Hawks ao dirigir seu derradeiro filme dentro de um gênero que ele dominava (e qual ele não?), revisitando temas e situações que ele já explorara e ao lado de velhos companheiros. Despede-se com um grande filme, como tantos outros que realizou durante sua rica carreira.
Um belo crepúsculo
Por fim, Rio Lobo, vale ainda apontar, prima pela diversão, indiferente à amargura dos faroestes de Sam Peckinpah e outros da época. Hawks não precisava se curvar a essa nova geração de cineastas. Afinal, em qual filme deles encontramos um crepúsculo tão magistralmente filmado como aquele da cena em que McNally, Cordona e Shasta se abrigam num templo indígena? Sinal de que o ocaso tem a sua beleza. Se há algum indício de melancolia, ele está presente apenas no violão dedilhado dos créditos de abertura.
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Ficha técnica:
Rio Lobo | Rio lobo | 1970 | EUA, México | 114 min | Direção: Howard Hawks | Roteiro: Burton Wohl, Leigh Brackett | Elenco: John Wayne, Jorge Rivero, Jennifer O’Neill, Jack Elam, Christopher Mitchum, Victor French, Susana Dosamantes, Sherry Lansing, David Huddleston, Mike Henry, Bill Williams, Jim Davis.