Neste Dia Internacional da Mulher, a crítica em destaque é a de Risco Duplo (Double Jeopardy), em homenagem a sua protagonista Ashley Judd. Como o filme Ela Disse (She Said, 2022) ressaltou, a atriz teve voz fundamental na investigação do New York Times sobre Harvey Weinstein. Depois dos corajosos depoimentos dela e de suas colegas pioneiras, mais vozes se levantaram e deram início ao movimento #metoo.
Em Risco Duplo, Ashley Judd vive Libby, uma mulher da classe alta que vira vítima de um esquema de seu marido vigarista Nick (Bruce Greenwood). Ela acaba na prisão, mas após seis anos, sai em liberdade condicional sedenta por vingança. Uma brecha na lei permite que ela assassine o marido porque ninguém pode ser condenado duas vezes pelo mesmo crime. Mas o oficial da condicional, Travis (Tommy Lee Jones), corre atrás dela para impedir o derramamento de sangue.
Direção
Na direção do filme está Bruce Beresford, que já conseguira proeminência por seus filmes A Força do Carinho (Tender Mercies, 1983) e Conduzindo Miss Daisy (Driving Miss Daisy, 1989). Seu maior mérito aqui consiste no ritmo acelerado que imprime à narrativa. De fato, Libby está sempre em movimento. Após o crime, que acontece a bordo de um iate, ela vai para a prisão, e da condicional foge para procurar o marido. E não desiste ao saber que ele se mudou várias vezes desde que desapareceu. Por fim, o confronto derradeiro acontece em Nova Orleans.
Beresford proporciona momentos bons e maus como diretor. Entre os melhores trechos, está a procura por Libby nas ruas lotadas de Nova Orleans. Inspirando-se na famosa cena de Correspondente Estrangeiro (Foreign Correspondent, 1940), de Alfred Hitchcock, conseguimos localizar a protagonista, no meio da multidão, por causa de seu guarda-chuvas. Já entre as sequências mais fracas, apontamos o uso do clichê da montagem com exercícios físicos árduos para comunicar que Libby está determinada a partir para a vingança contra Nick.
Elenco
A presença de Tommy Lee Jones garante um atrativo adicional a Risco Duplo. Não só pela sua atuação intensa que combina com a determinação obsessiva do seu personagem, mas também porque esse papel antecipa o xerife de Onde os Fracos Não Têm Vez (No Country for Old Men, 2007), de Ethan & Joel Coen. Nesses dois filmes, Tommy Lee Jones empreende uma peregrinação incansável para cumprir o seu papel como homem da lei.
Mas o paralelo mais representativo repousa na luta de Ashley Judd. No filme, sua personagem quer fazer a justiça pelas próprias mãos. Sua atuação nesse papel lhe rendeu elogios e um prêmio da Blockbuster. Na vida real, ela enfrentou um abuso de poder que sufocou a sua carreira. Demorou, mas a oportunidade de seu acerto de contas surgiu com as jornalistas Jodi Kantor e Megan Twohey. Sem hesitar, ela agiu com a mesma coragem que Libby mostrou na ficção. Quase nenhuma vítima queria dizer à imprensa o que aconteceu. Ashley Judd disse. E todas as mulheres lhe devem agradecimento por isso.
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Ficha técnica:
Risco Duplo | Double Jeopardy | 1999 | 105 min | EUA, Alemanha, Canadá | Direção: Bruce Beresford | Roteiro: David Weisberg, Douglas Cook | Elenco: Ashley Judd, Tommy Lee Jones, Bruce Greenwood, Benjamin Weir, Jay Brazeau, Annabeth Gish, Gillian Barber, Betsy Brantley.
