Depois da cinebiografia do Queen, chega a vez de Elton John ir para as telas. Os dois filmes estão conectados pelas mãos de Dexter Fletcher, que foi produtor executivo de Bohemian Rhapsody, e agora dirige Rocketman.
Há também uma forte ligação de Rocketman com Billy Elliot. Afinal, esse filme lançado em 2000, conta a história de um menino que enfrenta vários obstáculos, principalmente na família, para se dedicar à paixão pela arte, onde reside seu talento. Para Billy Elliot, era o balé; para Elton John, a música. Aliás, a similaridade não está só no tema. O roteirista dos dois longa-metragens é Lee Hall, e Jamie Bell, o ator que interpretou Billy Elliot, vive em Rocketman o compositor Bernie Taupin, que escrevia as letras para as músicas de Elton John.
O mundo de Reginald Dwight
Lee Hall mergulha fundo no personagem principal de Rocketman, dedicando uma boa parte do filme na exposição do universo de Elton John. Ou melhor, de Reginald Dwight, antes de ele se tornar um pop star, desde sua infância com um pai que não demonstrava nenhum afeto e uma mãe totalmente perdida. A pessoa mais carinhosa, e importante na sua educação, era sua avó, que sempre o incentivou a seguir a carreira musical. Essas figuras da infância retornam em outros momentos de sua vida, e muitas vezes causam sofrimento. Principalmente o pai, que começa uma nova família e carrega no colo um dos filhos, nunca tendo antes sequer abraçado Elton John.
O recurso para contar a história não é inovador, mas serve bem ao filme, até para permitir sequências musicais – no estilo tradicional, onde os atores começam a cantar do nada. Assim, Elton John comparece a uma reunião de reabilitação e relata como chegou ao vício com bebidas, drogas e sexo. O artista que alcançou o topo das paradas várias vezes percorreu o caminho que tantos outros como ele seguiram. Ou seja, o deslumbre com a fama leva a exageros e as decepções da vida os fazem se viciar como meio para não encarar os sofrimentos.
Altos e baixos
Então, para o espectador, Rocketman encanta e desencanta conforme os altos e baixos da vida de seu protagonista. Sempre que Elton John começa a tocar, mesmo criança, seu talento natural aflora e o filme se torna empolgante. Na fase de decadência, com as desilusões com a família e, principalmente, com a frustrada paixão pelo seu empresário John Reid (Richard Madden), o filme baixa seu tom e se torna bem pesado. Por fim, a retomada de Elton John não possui nenhum glamour e o final sem entusiasmo decepciona.
As canções de Elton John e Bernie Taupin – e também outras compostas por outros autores e tocadas por Elton – são excepcionais e os números musicais possuem muita força, com ótimas coreografias e cantadas pelo próprio ator Taron Egerton. Porém, diferentemente de um musical onde as composições são escritas para a obra, o desafio em Rocketman é encaixar as letras que já existem na narrativa do filme. Nem sempre funciona. Às vezes, a relação dos versos com a história é muito tênue, como, por exemplo, na sequência de “Saturday Night’s Alright (For Fighting)”. É por isso que as canções não respeitam a cronologia em que foram escritas, liberdade totalmente justificada. Por outro lado, pesa a favor do filme o fato de as músicas de Elton John possuírem a dramaticidade que funciona em musicais. Por exemplo, como “Your Song” provou anteriormente em Moulin Rouge (2001).
Elenco e direção
Taron Egerton, fisicamente, não se parece muito com Elton John, principalmente por ser bem mais alto. Nos closes onde ele representa o músico com uma de suas várias fantasias e óculos espalhafatosos, a semelhança é maior, porém com a cara limpa não. Egerton consegue superar esse obstáculo com uma excelente performance como cantor e atuando com o exagero típico do músico inglês. A cena em que ele conta à mãe que é homossexual serve como exemplo disso. Quem surpreende em sua transformação física, é Bryce Dallas Howard. Ela ganhou vários quilos e pintou o cabelo com cor escura para interpretar Sheila, a mãe de Elton John, num papel bem distante da heroína dos dois filmes Jurassic World.
O diretor Dexter Fletcher construiu sequências musicais empolgantes, sempre tentando se aproximar da personalidade de Elton John. Na transição do pop star adolescente para sua versão adulta, Fletcher justapõe closes da bunda dele, um toque de humor despudorado típico desse músico inglês. Fletcher recorre ao cinemão em algumas sequências, como na montagem da ascensão da carreira de Elton John com manchetes de revistas e jornais, recurso usado tanto em Cidadão Kane (1941) como em Bohemian Rhapsody (2018). Porém, o diretor sabe ousar, e termina o filme com a sequência musical da canção “I’m Still Standing” alternando imagens produzidas para o filme e partes do videoclipe usado em 1983 na promoção da música. O maior momento de ousadia, e talvez a melhor cena do filme, é o êxtase geral na apresentação no Troubador, na primeira turnê norte-americana de Elton, quando ele e o público, magicamente, sai do chão e flutua.
Como conclusão dessa crítica do filme Rocketman, podemos afirmar que ele parece um retrato do próprio Elton John. Momentos de puro talento alternados com alguns menos inspirados.
Ficha técnica:
Rocketman (Rocketman, 2019) Reino Unido/EUA. 121 min. Dir: Dexter Fletcher. Rot: Lee Hall. Elenco: Taron Egerton, Jamie Bell, Richard Madden, Bryce Dallas Howard, Gemma Jones, Steven Mackintosh, Tom Bennett. Ophelia Lovibond, Rachel Muldoon.
Paramount Pictures
Trailer:
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