Sangue de Pelicano aparenta ser um drama sobre a adoção de uma criança com problemas comportamentais, mas se revela inesperadamente um suspense sobrenatural.
A história
A princiípio, Wiebke é uma mulher solteira que vive feliz com sua filha adotada de uns dez anos, no interior da Alemanha. Nesse local, ela toca sozinha um estábulo. Resolve, então, adotar mais uma criança, Raya, de cinco anos. Mas, logo a menina começa a apresentar atitudes agressivas e insubordinadas cada vez piores, colocando em perigo todas as pessoas ao seu redor.
Contudo, um médico lhe conta que Raya bloqueou seus sentimentos de afeição devido a uma experiência traumática quando sua mãe morreu. Por isso, será difícil recuperá-l. Ainda assim, Wiebke não desiste dela. Essencialmente, da mesma forma que ela consegue ensinar os cavalos arredios de seu estábulo, Em seu íntimo, ela acredita que pode ajudar a sua nova filha.
E ela se sacrifica para isso, chegando até a tomar medicamentos para conseguir amamentar Raya e proporcionar o carinho que ela não teve quando bebê. Porém, quando ela conclui que a ciência não consegue ajudar a menina, apela para a magia negra, e passa a acreditar na hipótese de uma possessão por uma entidade do mal.
Nova perspectiva
De fato, essa mudança de perspectiva do filme, do retrato da dedicação obstinada da mãe para a explicação sobrenatural, causa surpresa, pois a narrativa não indicava essa virada. Primordialmente, as únicas pistas eram a trilha sonora de fundo, muito soturna, em momentos da estória que não eram de suspense, e a própria fisionomia da menina. Nesse sentido, a atriz mirim Laterina Lipovska consegue ser assustadora e convence o espectador que ela realmente pode colocar em risco a vida e a integridade das outras pessoas.
O título Sangue de Pelicano faz referência a um quadro na instituição que cuidava de Raya, com uma figura que conta a estória da mãe pelicano capaz de alimentar seus filhos com seu próprio sangue para que eles não morram de fome. E esse conto remete ao sacrifício de Wiebke, que fica completamente obstinada por curar a menina. É um traço de personalidade que já existia nela, e isso fica claro no paralelo que a estória traz da recuperação de um de seus cavalos.
A direção
Sangue de Pelicano é prejudicado pela fraca direção de Katrin Gebbe, que também assina o roteiro. Além da trilha sonora tensa, que entrega mais do que deveria revelar, o filme apresenta problemas de continuidade e fotografia. Por exemplo, repare como é difícil entender a cena em que a filha mais velha procura o policial pretendente da mãe para mostrar que ela está amamentando Raya – o início desse trecho dá a errada impressão de estar conectado com a cena anterior. Além disso, veja também como a fotografia não consegue mostrar os animais mortos por Raya nas duas cenas em que isso acontece.
Apesar disso, Sangue de Pelicano foi selecionado para a 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (2019), dentro da Competição Novos Diretores.
Em suma, a estória do filme é bem intrigante, e prende o espectador enquanto envereda pela busca dedicada da mãe pela cura da filha. Porém, perde a maior parte de seu público quando decide levar para a via sobrenatural. Afinal, a busca por essa alternativa pela mãe desesperada é compreensível, mas torná-la a solução para o problema transforma Sangue de Pelicano num filme de terror. Ou seja, conduz a um gênero diferente daquele proposto desde o início de sua narrativa.
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Ficha técnica:
Sangue de Pelicano (Pelikanblut, 2019) Alemanha/Bulgária. 121 min. Dir/Rot: Katrin Gebbe. Elenco: Nina Hoss, Adelia-Constance Ocleppo, Katerina Lipovska, Yana Marinova, Murathan Muslu, Daniela Holtz, Samia Muriel Chancrin, Dimitar Banekin, Katinka Auberger, Christoph Jacobi.
A2 Filmes
Trailer:
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