O filme anterior do diretor e roteirista Barry Jenkins, Moonlight (2016), venceu três Oscars em categorias principais: melhor filme, melhor ator coadjuvante (Mahershala Ali) e melhor roteiro adaptado. A estrutura narrativa desse longa cindia a história em dois momentos distintos: a adolescência e a vida adulta dos dois protagonistas. Em Se a Rua Beale Falasse (If Beale Street Could Talk, 2018), dois tempos se desenvolvem em paralelo. Nos flashbacks recorrentes, fora da ordem cronológica, acompanhamos o namoro entre os amigos de infância Tish (Kiki Layne) e Fonny (Stephan James), até a data em que acontece um crime pelo qual o rapaz é injustamente acusado. Enquanto isso, vemos hoje Fonny na cadeia e Tish se esforçando para levantar provas de sua inocência, com a ajuda da mãe (Regina King) e do pai (Colman Domingo).
Barry Jenkins foca na montagem progressiva do quebra-cabeças dessa trama apresentada em vários trechos separados. Evita, até, alguns momentos de emoção. Assim, prefere a elipse quando Tish conta para a sua mãe que está grávida. Além disso, deixa para os personagens secundários as explosões dramáticas. Nesse sentido, temos o desabafo do amigo Daniel (Brian Tyree Henry) sobre o tempo que passou na prisão, sofrendo o sadismo dos brancos endemoniados, como ele diz. Da mesma forma, há a viagem da mãe até Porto Rico, para tentar convencer a moça que acusa Fonny de estupro a mudar a sua identificação do suspeito. Essa opção até causa estranheza, pois afasta a narrativa dos protagonistas. O que acontece lá poderia ser apenas informado através de uma fala da personagem, mas Jenkins faz questão de exponenciar o sentimento de impotência. Rendeu o Oscar de melhor atriz coadjuvante para Regina King.
Pouca emoção
Mas Se a Rua Beale Falasse peca por ter diálogos em excesso. Alinhado à predominância de cenas internas, o filme ganha um incômodo tom teatral, embora combatido pela narrativa fragmentada e pelo emprego de muitos cortes e movimentação da câmera.
Por outro lado, o tema é contundente. Trata da injustiça movida pelo preconceito racial, que acarreta no abuso do poder do policial que planta a desconfiança em cima de Fonny. A história, baseada no livro de James Baldwin, tem força, mas Jenkins deixa ela se esvair pelas suas opções de direção. A teatralidade, a narrativa fragmentada, a elipse dos momentos mais dramáticos dos protagonistas, tudo isso contribui para a pouca emoção que o longa provoca. Tanto que os melhores momentos são aqueles com a diferenciada montagem com fotos em preto e branco junto com a narração de Tish. Nesses trechos, o filme provoca a reflexão que o seu tema merece.
Ficha técnica:
Se a Rua Beale Falasse (If Beale Street Could Talk, 2018) EUA. 119 min. Dir/Rot: Barry Jenkins, baseado no livro de James Baldwin. Elenco: KiKi Layne, Stephan James, Regina King, Colman Domingo, Teyonah Parris, Michael Beach, Aunjanue Ellis, Ebony Obsidian, Dominique Thorne, Diego Luna, Finn Wittrock, Ed Skrein, Emily Rios, Pedro Pascal, Brian Tyree Henry, Bobby Conte Thornton.
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Distribuição: Sony