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Seberg Contra Todos (filme)
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Seberg Contra Todos

Avaliação:
5.5/10

5.5/10

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Crítica | Ficha técnica

Seberg Contra Todos se concentra na perseguição política que a atriz estadunidense Jean Seberg sofreu no final dos anos 1960, por seu envolvimento com o grupo Panteras Negras. O filme revela que ela foi mais uma vítima da atuação quase ditatorial de J. Edgar Hoover, diretor do FBI, que, hoje já se sabe, usava práticas ilegais de coletas de provas e de assédio físico e moral para derrubar ativistas e dissidentes políticos.

O enredo cobre seu retorno de Paris, onde morava com o marido Romain Gary e seu filho pequeno, para Los Angeles, para trabalhar em produções americanas. Esse período compreende os filmes que realizou entre O Pêndulo (Pendulum, 1969) e Macho Callahan (1970). Mas sua carreira pouco aparece em Seberg Contra Todos. E, quando surge, é com a finalidade de ressaltar algum ponto da narrativa que cobre sua vida. Por exemplo, o prólogo traz Jean Seberg cercada pelo fogo em cenas de Santa Joana (Saint Joan, 1957), de Otto Preminger. É uma metáfora para o cerco que ela sofreria nas mãos do FBI durante sua estadia nos EUA. Preminger, aliás, entra nos diálogos também durante o filme, para revelar que ela penou atuando sob sua direção.

No alvo do FBI

Logo ao desembarcar no aeroporto de Los Angeles, Seberg posou ao lado do ativista Hakim Jamal e dos Panteras Negras. Pouco depois, ela virou alvo de investigação do FBI, quando iniciou um relacionamento extraconjugal com Jamal, e começou a doar dinheiro para esse partido que defendia a comunidade afro-americana.

Através da perspectiva de Jack Solomon, descobrimos como o FBI invadiu a privacidade da atriz, através de grampos ilegais e até entrando às escondidas em sua casa. Sob “ordens superiores”, os agentes vazaram a gravação de sua relação sexual com Jamal e, ainda, plantou fake news sobre sua gravidez, alegando que o pai seria o ativista. Com isso, as famílias de Jamal e de Seberg entram em crise. Emocionalmente, a atriz fica tão abalada que tenta o suicídio.

Abuso de poder

O FBI, órgão do governo dos EUA, extrapolou suas funções e esse abuso merece divulgação ampla. Acertadamente, o filme Seberg Contra Todos é um esforço mais do que justificado nesse sentido, pois o cinema foi o meio de vida da vítima desse caso. No entanto, o registro deixa lacunas incômodas sobre o que é realmente verdadeiro e o que é mera adaptação fictícia. As informações no fechamento, expressas na tela, deviam esclarecer esses pontos, mas acabam até deixando mais dúvidas.

Por exemplo, indicam que a morte de Seberg, em 1979, aconteceu sob circunstâncias suspeitas, um provável suicídio – no entanto, prefere ocultar que esse evento aconteceu em Paris. Se é para deixar uma suspeita sobre o FBI a respeito dessa morte, seria mais correto apresentar um argumento mais concreto, e não deixar em aberto para que todos pensem que ela morreu nos EUA.

Em sentido contrário, o filme não consegue convencer a respeito da mudança de atitude do agente do FBI Jack Solomon. O que o transformou de um dedicado investigador, responsável pelos grampos ilegais, a um questionador de sua função? Será que a brevíssima conversa à beira da piscina na casa de Seberg foi suficiente para ele se humanizar? Quando se aborda uma questão tão séria, é fundamental revelar se esse agente realmente existiu e se, de fato, agiu dessa forma. Isso se poderia resolver com uma simples e direta informação no final do filme, indicando o que aconteceu com ele posteriormente. Mas, Seberg Contra Todos deixa tudo isso no ar.

Os artistas

Esse é apenas o segundo longa para o cinema do diretor Benedict Andrews. Seu trabalho anterior foi o drama Una (2016), estrelado por Rooney Mara. À parte a citada despreocupação em definir claramente o que traduz os abusos sofridos por Jean Seberg, a direção em si é competente.

A dupla de roteiristas Joe Shrapnel e Anna Waterhouse assinou antes o longa Raça (Race, 2016), cuja trama também girava em torno do racismo. Mas, nesses dois filmes, faltou um mergulho mais profundo nesses eventos que tocam em violação de princípios universais.

O destaque do filme fica para Kristen Stewart, emulando perfeitamente Jean Seberg dentro e fora dos filmes. Aqui ela se antecipa numa cinebiografia de uma mulher com convicções, mas abalada por forças externas sufocantes. Seberg Contra Todos é como uma preparação para sua grande atuação em Spencer (2021), no qual viveu a Princesa Diana, recebendo uma indicação ao Oscar de melhor atriz.

Saímos do filme com a certeza de que abusos ditatoriais acontecem mesmo sob a bandeira da democracia. Porém, mereceriam aqui uma exposição mais contundente.


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