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Spencer (filme)
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Spencer | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
5.5/10

5.5/10

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Crítica | Ficha técnica

Retratos de personalidades históricas permitiram ao diretor chileno Pablo Larraín alguns de seus filmes mais emblemáticos, tanto em suas qualidades como em suas limitações. Jackie (2016), em que Natalie Portman vive Jacqueline Kennedy nos momentos que se seguiram ao assassinato de JFK em Dallas, 1963, é um de seus longas mais comportados, e um dos mais seguros na direção. Só não é o melhor que realizou porque este se chama Post Mortem (2010), e data de uma época em que Larraín poderia ainda ser considerado uma promessa.

Neruda (2016) realizado no mesmo ano de Jackie e com o mesmo exercício em contenção, falha em nos entregar algo minimamente interessante sobre um personagem fascinante como o escritor Pablo Neruda. O horrendo Ema (2019) entra para a galeria de personagens ficcionais, um outro campo, em que Larraín tinha sido mais feliz com Tony Manero (2008).

Spencer

Spencer (2021), seu mais recente longa, é o retrato de um período conflituoso na vida da princesa Diana Frances Spencer (1961-1997), a Princesa de Gales, em que ela decide terminar o casamento com o príncipe Charles durante as férias de natal com a família real, em 1995, vindo finalmente a se divorciar em meados do ano seguinte. Nele notamos que Larrain está mais ou menos no meio do caminho. Procura a contenção na maior parte do tempo, mas tempera todo o relato com algumas firulas que jogam do lado oposto.

Qual seria a necessidade, por exemplo, de iniciar o filme com um plano rasteiro e fixo de caminhões militares passando ao lado de um pássaro morto mais próximo à câmera? Fazer uma analogia entre o pobre animal e a princesa Diana, mundialmente conhecida como Lady Di? Um tanto pobre, não? Se a intenção, contudo, era pensar na composição da imagem, todo o trabalho com as cores lavadas torna-se um impactante gol contra, dentro da lógica dos tiros no pé que Larrain costuma cometer no campo estético. Ele parece buscar um rigor formal que raramente alcança. Há ainda um agravante na manipulação com a plateia: cada caminhão passa mais próximo de esmagar o pobre pássaro com as rodas; o corte surge um pouco antes que uma roda possa atingir a ave já morta, poupando o espectador de um espetáculo horrendo de esmagamento, mas não da aflição sádica que nos faz passar.

Elenco

Kristen Stewart se esforça para fazer poses e sotaques nobres, mas a caracterização fica um pouco artificial, ao menos em suas primeiras aparições. Quando nos acostumamos com sua performance, muito pelo carisma da atriz, a frieza do relato atrapalha. De todo modo, fica logo compreensível por que o ar do império britânico é insuportável para qualquer pessoa normal, embora seja estranho que esse casamento tenha durado aproximadamente 15 anos, ainda mais quando, segundo o que nos mostra o filme, ela pareça em inadequação para a realeza desde que nasceu (sabemos, no entanto, que não é bem o caso).

Timothy Spall está com aparência mais soturna do que o habitual como o militar encarregado de proteger a realeza dos fotógrafos e preservar a fleuma imperial. Jack Farthing compõe com certa precisão o personagem desprezível do príncipe Charles (em uma discussão ao redor de uma mesa de sinuca, podemos até esperar que Diana arremesse a bola preta em sua cabeça). Stella Gonet está bem como a Rainha, embora sua caracterização seja um tanto esquemática nos olhares de censura. E Sally Hawkins interpreta com a habitual versatilidade uma assessora simpática e dedicada no meio de tanta gente asquerosa (“eles não são tão ruins”, diz Diana num trecho do filme).

Direção

O problema está muito menos no elenco que na direção. Larrain, mais uma vez, nos mostra a sujeira que ronda o poder. Mas, nesse processo, esquece de calibrar o tom, que em seus filmes ora pende para a frieza, como aqui, ora para um calor desordenado e mal administrado, como em No (2012), outro de seus filmes mais problemáticos. De Spencer, podemos reter ao menos alguns momentos de vivacidade (e calor) nas tentativas de Diana em fugir desses costumes tóxicos, e mesmo na interpretação de Stewart, que apesar de certa afetação nos permite sentir alguma empatia com a personagem. Podemos também lamentar momentos constrangedores como as danças lembradas pelo palácio ou a cantoria no carro – o momento “All I Need is a Miracle” rivaliza em ruindade com o momento “Free Fallin'” de Jerry Maguire (dir: Cameron Crowe, 1995). Aí talvez fosse melhor ficar só no registro da frieza mesmo.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.


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